Passei a perceber, desde então, que a relação entre pai e filho não é uma ligação visceral e estabelecida desde o princípio, como acontece com a mãe. Com o pai é depois que se ganha o mundo que a relação se constrói. E como toda relação construída, é preciso perseverança para que ela dê bons frutos. É necessário estar constantemente próximo, cultivando a vida: vibrar com o dente que nasce, as primeiras palavras, o dia de aula, o gol... Momentos em que muitas vezes as necessidades e obrigações cotidianas apresentam um cenário de altos volumes de trabalho, crises conjugais e outros atrativos menos nobres...
São estes cenários que desenham o afastamento de muitos pais, que encontram alívio na televisão, na companhia dos amigos, nos esportes de extravasamento de estresse e se tornam negligentes em acompanhar os filhos. Assim fica deficiente ou inexistente a intimidade e naturalidade necessárias na relação entre amigos e educadores...
Muitos filhos, então, buscam formas ruins de mostrar a ausência dos pais. Quando somos filhos, somos egocêntricos. Não entendemos os motivos e nem somos afeitos a justificativas. Nossos pais pisaram na bola e ponto final! É somente a partir do momento em que nos tornamos pais que percebemos as coisas por outro ponto de vista.
Hoje, como pai, tento não sucumbir ao poder do cotidiano e das infindáveis seduções que a vida oferece. Tento ser presente e generoso, lembrando que cada um só pode oferecer aquilo que tem. Pais muitas vezes são mal interpretados e vistos como vilões, mas na maioria das vezes são filhos que se tornaram órfãos de referências e infelizes em suas escolhas e resultados, enquanto tentam construir ou reconstruir suas relações. Ligações que talvez só façam sentido e sejam vividas de forma mais generosa e amorosa quando os filhos se tornarem pais – de seus próprios filhos ou de seus pais, por conta da velhice.
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