domingo, 25 de julho de 2021

Dia do escritor

25 de julho - Dia do escritor

No Brasil, o Dia do Escritor é comemorado no dia 25 de julho, mas em nível internacional os escritores são homenageados em 13 de outubro, data conhecida como o Dia Mundial do Escritor.

A escolha do dia 25 de julho ocorreu porque, em 25 de julho de 1960, foi realizado o 1º Festival do Escritor Brasileiro, na cidade do Rio de Janeiro, promovido pela União Brasileira de Escritores (UBE), que tinha então como presidente João Peregrino Júnior, e como vice-presidente Jorge Leal Amado de Faria (o escritor Jorge Amado). 
O Ministro da Educação da época – Pedro Paulo Penido – oficializou a data por meio de uma portaria publicada dois dias antes do dia escolhido. 

A partir daquele ano, o dia 25 de julho é comemorado no Brasil. Na ocasião, são organizados eventos que buscam valorizar autores e autoras da literatura brasileira e incentivar a leitura de suas obras.


Gostei deste pensamento do João, pois vejo o escrever como projetar-se para "o mais de si", na maior intensidade/sinceridade que não nos permitimos nos limites dos atos, ou para "o fora de si" na melhor autocrítica/autopercepção que temos de nós ao nos posicionarmos como personagem do enredo que (vi)vemos.

Na folha ou tela em branco vamos descrevendo ou "desescrevendo" a (nossa) realidade, descendo e ascendendo a níveis de introspecção ou projeção de pensamentos e sentimentos que não nos saem pela boca.

Não tenho a pretensão de me apresentar como um escritor e sim de ser uma pessoa que escreve, pois esta é uma possibilidade que tenho: transcrever um pouco de minha alma, colocando letras e frases em sequência, dentro das regras da língua onde vivo, me tornando compreensível aos que sabem ler.

Certa  vez perguntei a um conhecido, que desenhava muito bem, como ele fazia para planejar e executar seus desenhos. Ele me respondeu que olhava a folha em branco e ficava imaginando o tema desejado até ver na folha a imagem a ser concretizada, então passava os lápis em cima da visão e ia tornando-a real, adaptando os detalhes se fosse necessário. Simples assim – para ele; impossível assim – para mim (que desejo até hoje ser um desenhista como ele, que fazia lindos esboços de forma natural e rápida).
Imagino que um pintor tenha um processo similar com a tela em branco; e penso que a literatura tem muito em comum com a pintura, pois ambos (escritor e pintor) podem se perder num labirinto de idas e vindas por (des)caminhos (desa)parecidos que podem levar a uma não saída de uma obra. Pode-se colocar diversas camadas de palavras e tintas, umas após as outras, e metamorfosear uma única obra por toda uma vida, se assim quiser, ou em algum momento, decidir que é hora de permitir sua cria partir, e considerá-la acabada ou abandonada, para o bem a própria sanidade mental ou emocional.

Comigo já aconteceu – e ainda acontece – aquela arrebatadora necessidade de me livrar de palavras não ditas, expulsando-as no papel (no século 20) e pelo teclado (no século 21), para que tenha a paz de pensar em outras coisas ou conseguir dormir.
Acredito bem exemplificar essa situação na publicação anterior neste blog:
InsPiração noturna
Aliás, nessa publicação eu compartilho dois hábitos literários meus com as palavras: o brincar e o apropriar! Meu brincar está em colocar letras maiúsculas (ou incluir complementações entre parênteses) que emprestam dubiedade nas significAções (con)textuais. Meu apropriar – erro não nego, paro quando quiser – está em "adaptar" textos e poemas de outros, substituindo, acrescentando ou retirando palavras e trechos para que fiquem "com a cara do meu olhar". Em minha narcísica defesa afirmo, ao final da obra transmutada, que a mesma é uma "adaptação" do texto/poema... deixando subentendido que houve uma parceria desautorizada.
 
Acredito ser justificado e endossado por meu conterrâneo:
"Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira." 
(Carlos Drummond de Andrade)

autor - ator - ato

Em outro blog de minha lavra – Colcha de Retalhos – eu expresso como é libertador e/ou aterrorizador soltar palavras na liberdade da amplidão de uma folha/tela em branco, desejando que façam um bom caminho:
Caravana de palavras

Tenhamos pois, a autoria da (nossa) vida!
Coisa linda a língua portuguesa, que nos permite alquimias com o uso de vírgulas, maiúsculas, parênteses, travessões e reticências... 
tenhamos pois, a autoria da nossa vida! ( novamente )

domingo, 11 de julho de 2021

InsPiração noturna

Calada noite barulhenta
Autora : Paula Jenevain Grazinoli


Na calada da noite, quando minha cama se aquece, meu corpo não para. É o sono que não aparece. Remexo sem parar e o silêncio me ensurdece. Cada barulho é um mistério: o cachorro latindo parece um leão; o armário rangendo, suspeita de ladrão!
Faço prece, conto carneiros, meu rosto envelhece. Mas dormir que é bom... esquece! Tento então pensar, mas os pensamentos não obedecem. Brincam comigo. Não querem sonhar, querem sim dançar! Criam histórias e revivem fatos reais. Deixam o subconsciente pra lá e da realidade tornam-se amigos leais.
Os olhos abrem e fecham como uma porta na ventania. Os pés balançam como em uma coreografia. O tempo vai passando e agonia, agonia! E quanto mais me lembro da hora, mais pensamento aflora. É culpa da minha boêmia imaginação, que no sussurro da noite aparece, me ensandece por hora e não tem pressa de ir embora.
Dançam lápis e caneta, formando garranchos de letras tortas e pernetas. Ai de mim se não obedecer às letras. Elas rebolam, mostrando a hora da animação. Ai de mim se tentar dormir e não deixar liberar a endorfina da minha nervosa inspiração! 

Adaptação do texto retirado da página 96 do livro
Feio, Belo, Complexo Cotidiano
Juiz de Fora: Funalfa, 2012.