terça-feira, 28 de abril de 2020

Instrução X Educação

A família fornece educação!
A escola fornece instrução!
Educação é o conjunto de valores morais e aptidões intelectuais e emocionais! Tem muitos pais e responsáveis – por conveniência ou incapacidade – tentando terceirizar suas funções para a escola...

Ensinar & Educar
Imagem: http://cotidianospensamentos.blogspot.com/2014/07/escola-ensina-familia-educa.html 

Em minha opinião há diferença entre educação e instrução! Instrução consiste na transmissão de um conjunto de conhecimentos científicos e acadêmicos ensinados na(s) escola(s) ao longo de anos, numa grade de assuntos, para formação de uma cultura nacional e capacitação pessoal para cidadania e escolha de uma profissão. Educação consiste no desenvolvimento de características morais, intelectuais e físicas, dentro de regras de conduta e costumes sociais, que incluem a inteligência emocional para lidar com a vivência individual e coletiva. 
Educação, portanto, é um conjunto de habilidades maior do que a instrução! A instrução é uma das partes da educação, sendo esta um patrimônio pessoal que define a pessoa na individualidade e coletividade.

A escola é uma ponte entre a família e a sociedade, consolidando estereótipos e laços sociais! Nem todos vão à(s) escola(s), e cabe então à família ensinar os modelos seguidos pelo grupo onde está inserida e desenvolver a individualidade da pessoa numa comunidade.
A educação começa obrigatoriamente em casa com a família e, passando pela escola, prepara o indivíduo para a sociedade, tornando-o um cidadão. Quem não tem noção de suas obrigações e direitos dentro de uma coletividade não é cidadão, é apenas um indivíduo. 

O prejudicial equívoco educacional que vivemos no Brasil nas últimas décadas levou a uma deturpação do fundamental papel da família e suas responsabilidades para a formação da cidadania. Omissão – por receio ou preguiça – por parte dos pais e responsáveis (padrastos, madrastas, etc.) criou uma geração de pessoas sem vínculo com a coletividade, preocupando-se apenas com os "direitos" que julgam ter e a satisfação de suas vontades e necessidades. 

Como se lê no Dicionário da Língua Pedagógica, de Paul Foulquiè, o conceito de instrução significa "atividade que tem em vista a aquisição das qualidades morais e das virtudes sociais". No mesmo dicionário, a palavra "educar" vem do latim "ducere" que significa "conduzir para fora de", sendo portanto a lógica educativa orientada para o pleno desenvolvimento da pessoa, alargando as perspectivas de crianças, jovens e adultos por toda a vida.

Para que haja instrução, bastam existir meio de ensino e finalidade de aprendizado (por mais simples ou deficientes que sejam)! Para que haja educação, é necessário um plano de vida onde usá-la e atenção constante para cultivá-la e mantê-la! A valorização da instrução é aprendida na educação que se recebe na família! A deficiência na educação familiar causa a baixa na educação social!

Educação + Instrução = meio de evolução de uma nação

Fontes de referência:

Eduqa.me
A diferença entre professor e educador
http://naescola.eduqa.me/carreira/a-diferenca-entre-professor-e-educador 

Brasil Escola


sábado, 11 de abril de 2020

Jogando verde


Êta eguinha boa!

Tio Tonico chegou da Boa Vista, quatro léguas batidas. Dessareou a Princesa, jogou-lhe água no lombo, que ela sacudiu com prazer. Botou milho no cocho, passou a raspadeira e tirou o cabresto. Enquanto a égua se refestelava rolando no curral, colocou o enxergão pra secar, guardou o resto da arreata e foi caminhando em direção à porta da cozinha. Antes lavou as mãos, molhou o rosto e os braços na água fria da bica.
Tia Maria batia uma abobrinha, para afogar dali a pouco. Era de ver a esperteza dela, a faca indo e vindo na maior rapidez.
Ele foi entrando e cumprimentando, palavras poucas mas jeito amigo:
– Oi, Maria.
– Oi – respondeu ela, levantando as vistas sem parar com o serviço.
– Tudo bem por aqui?
– Tudo. E por lá?
– Sem novidade.
– Comadre tá boa?
– Mesma coisa. A erisipela, como sempre, coçando muito.
– E o compadre?
– Arrumou uma diversão: consertando porteira e trocando régua do curral. Diz-se que passa o dia entretido com isso. É até bom pra ele, não tem sofrimento de ficar quieto.
– Ou sair por aí andando à toa – disse ela, caçoando.
– Ô Maria. Bem que ocê podia esquentar uma água pra mim. Tou precisando de um bom banho, trocar essa roupa suada. Êta calor danado!
Ela deixou a cuia com a abobrinha e a faca em cima da mesa. Pôs o tacho d’água numa trempe vazia e atiçou o fogo.
Tio Tonico pegou uma canequinha esmaltada, encheu de café e foi bebendo devagar, um pé apoiado no rabo do fogão.
Outra vez picando abobrinha, ela perguntou:
– E a viagem? Alguma novidade?
– Correu bem. Novidade, teve uma. Quase vendi a Princesa.
– Não acredito! Só se fosse por muito dinheiro.
– Seis conto.
– Seis conto numa égua? Santo Deus! É dinheiro demais... Qual é o doido que te deu essa proposta?
– Vou te contar. Viagem grande, a gente sozinho. Olha uma criação, escuta o vento na folhagem, vê um passarinho voando, acompanha o movimento das nuvens. Quando é fé, o cristão já nem dá conta de nada. Vai sendo levado, anda um pedação sem ver. A Princesa só indo, boa de boca, aquela marcha macia, mansa de poder passar debaixo. Fora o porte, que é difícil de encontrar: cabeça em pé, orelha sempre levantada, tala do pescoço bem formada, aquele pelo liso, sedoso.
– E o negócio?
– Pois é. Sentindo tudo isso, eu pensei: se não tivesse a Princesa, se precisasse de um animal de sela de toda confiança e alguém aparecesse querendo vender a égua pra mim, eu era bem capaz de oferecer seis conto...

Texto do livro “Casos de Minas”, de Olavo Romano.
Págs. 13 a 15.
Edição: 1982

Livro - Casos de Minas

A memória de Minas Gerais recuperada em histórias e "causos" populares. Textos fluentes e com humor. O autor vai no fundo de sua memória e de lá resgata certas coisas que ele gostaria que não morressem: um som particular, um cheiro impregnado, bichos, gentes, situações. Ele não cai na arapuca das descrições, narra apenas. O estilo é limpo, sem maquiagem, e encaixa perfeitamente com as histórias. A sabedoria, a malandragem, a essência do homem de interior – está tudo aqui, inteiro e intacto. E sua linguagem é respeitada, sem deformações gráficas.