O testamento do tesoureiro
Autora: Angela Xavier
No início do século XX, havia um senhor muito dedicado e correto, que era tesoureiro de uma Ordem Terceira* de Ouro Preto. Todos os anos ele prestava contas de tudo com correção inigualável, sendo sempre reeleito para o cargo. Não era rico, mas era proprietário de algumas casas.
Já velho e não tendo herdeiros, fez um testamento que guardou cuidadosamente no fundo de um baú. Adoeceu gravemente e, apesar dos cuidados, veio a falecer. Seus companheiros de Ordem Terceira cuidaram dos detalhes de seu enterro e do testamento.
O testamento era um longo
texto onde ele pedia perdão a um ou outro, refletia sobre suas lembranças e
contava um episódio que surpreendeu a todos.
Relatou que sempre respeitara
o cargo de tesoureiro que lhe haviam confiado e que, certa vez, precisando de
trezentos mil réis para reformar uma de suas propriedades, ele se dirigiu ao
altar de Nossa Senhora e lhe pediu um empréstimo. Ajoelhado diante da imagem da
virgem, por três vezes pediu-lhe a quantia desejada. Como a virgem nada
respondia, ele concluiu:
– Quem cala, consente!
E tomou a quantia desejada do cofre da Virgem. Foi repondo, pouco a
pouco, o que havia tomado emprestado até nada ficar devendo. Como gratidão, ele
deixou para a Ordem tudo o que possuía.
A Ordem recebeu suas propriedades e bens, mandando celebrar missas por
sua alma durante muitos anos.
* As ordens terceiras são um tipo de confraria, uma associação de leigos que se reúnem em torno da devoção de um santo. Distinguem-se das irmandades por estarem associadas às ordens religiosas da Idade Média.
Durante a colonização do
Brasil, várias ordens religiosas se estabeleceram na colônia. As que mais
tiveram influência foram os beneditinos, carmelitas, franciscanos, capuchinhos
e os jesuítas. As ordens terceiras mais atuantes no Brasil foram a Ordem
Terceira do Carmo e a Ordem Terceira de São Francisco.
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Págs. 78 e 79.
Edição do Autor; Ouro Preto (MG); 2009 (2ª edição).
Obs.: Esta postagem foi realizada mediante prévia autorização da autora.
Para mais "causos" e contos de Angela Xavier, acesse o blog dela:
Compartilhando Histórias
http://www.angelaleitexavier.blogspot.com.br
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Livro : Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto
O livro reúne mais de 70 histórias, ambientadas do século XVIII até início do XX, coletadas junto a moradores ou em livros sobre a cidade. Olavo Romano, responsável pelo prefácio, afirma que "Ouro Preto era cheia de fantasmas, uma cidade mal iluminada, repleta de capelas e cemitérios, onde ninguém saia de casa depois das 21 horas. Trata-se de um livro que narra a História de Ouro Preto de uma forma agradável, à maneira dos contadores de histórias, e está entremeada de lendas e causos. Começa chamando a atenção do leitor para a necessidade de se preservar aquilo que faz parte da nossa memória e relata a descoberta do ouro, os conflitos que surgiram no início e as revoltas".
A ênfase do livro é dada às histórias dentro da História, nas curiosidades que os livros de História não relatam, na sociedade que se formou ao redor das minas de ouro com suas crenças, seus valores e sua religiosidade. Relatos de grandes festas, de muitos casos assombrados e tesouros escondidos. A ilustração, com desenhos em bico de pena, é do artista plástico ouro-pretano José Efigênio Pinto Coelho.
A ênfase do livro é dada às histórias dentro da História, nas curiosidades que os livros de História não relatam, na sociedade que se formou ao redor das minas de ouro com suas crenças, seus valores e sua religiosidade. Relatos de grandes festas, de muitos casos assombrados e tesouros escondidos. A ilustração, com desenhos em bico de pena, é do artista plástico ouro-pretano José Efigênio Pinto Coelho.
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