O lugar do papa vazio
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A renúncia do papa Bento XVI
Hoje, 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas no horário do Vaticano (16 horas pelo horário de Brasília), o alemão Joseph Alois Ratzinger deixará vago o cargo de Papa da Igreja Católica, passando a ser Papa Emérito, sem autoridade para decisões e com vida reclusa no Vaticano. Atualmente com 85 anos e alegando problemas de saúde, o papa Bento XVI, 265º da história da Igreja Católica, passará os próximos 2 meses no Castelo Gandolfo (residência de verão dos papas, localizada a 25 quilômetros ao sul de Roma), permanecendo distante do conclave de cardeais que escolherá seu sucessor.
Às 20 horas no horário do Vaticano, o destacamento da Guarda Suíça fechará a porta da residência oficial do papa, no Palácio Papal, simbolizando o fim do seu papado. Após os dois meses na residência de verão, com o novo papa já eleito, o Papa Emérito se estabelecerá definitivamente em um mosteiro no Monte do Vaticano, com a polícia e ajudantes da Igreja garantindo sua segurança e conforto.
De acordo com o Código de Direito Canônico, o papa pode renunciar ao cargo desde que a renúncia seja feita livre e manifestadamente. O ato não precisa ser reconhecido por nenhum tipo de entidade e esta não é a primeira vez que acontece. Dependendo dos critérios adotados, historiadores divergem sobre o número de papas que renunciaram aos seus postos. Se for considerado o caráter voluntário sem pressões externas, Bento XVI será o quarto papa a renunciar; caso motivos militares e políticos sejam levados em consideração, será a renúncia do sétimo papa desde a criação da Igreja Católica.
Papa Ponciano
Em 235 d.C., o papa Ponciano e outros líderes da Igreja foram exilados na ilha de Sardenha pelo imperador romano Maximino Trácio. À época, a ilha no Mar Mediterrâneo era conhecida como a "Ilha da Morte", por ser de difícil fuga, vigiada por terra e mar. Ponciano foi o primeiro papa a ser deportado. Percebendo que jamais conseguiria retornar ao Vaticano, foi o primeiro a renunciar ao posto para não enfraquecer a Igreja Católica numa época marcada pela divisão do catolicismo. Renunciou em 25 ou 28 de setembro de 235, falecendo um mês depois. O papa Ponciano foi considerado oficialmente mártir e santo pela Igreja.
Papa Ponciano
Imagem: catolicoscomjesus.com
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Papa Silvério
O papa Silvério foi eleito em 1 de junho de 536, com o apoio do rei do godos, Teodato, vencendo o forte candidato Vigílio, apoiado pela imperatriz Teodora, do Império Bizantino. No mesmo ano, o rei Teodato é morto enquanto tropas do Império Bizantino atacam e conquistam o território italiano, sitiando a cidade de Roma.
Em dezembro de 536, o general bizantino Belisário ocupa Roma. Através da esposa deste general, a imperatriz Teodora, por meio de uma carta forjada, acusa o papa de ter um acordo para abrir os portões de Roma aos godos, caso estes rompessem o cerco bizantino. Esta falsa carta é confirmada por Vigílio, aliado à imperatriz bizantina. O papa Silvério é deposto e exilado na Lícia, parte asiática do Império Bizantino, enquanto Vigílio é consagrado o novo Bispo de Roma.
No exílio, com o auxílio do bispo de Patara, o papa Silvério convence o imperador bizantino Justiniano I sobre evidências de sua inocência nas acusações de traição. Ordenada nova investigação ao general Belisário, comprova-se a falsificação da carta aos godos e o imperador bizantino permite que Silvério retorne à Itália para reassumir o papado.
Ao saber que Silvério desembarcou na cidade italiana de Nápoles, Vigílio, com o apoio do general Belisário e da imperatriz bizantina, desvia o barco que levaria Silvério de Nápoles para Roma, fazendo com que o mesmo pare na pequena ilha de Palmarola, situada no caminho entre as duas cidades. Nesta ilha, em 11 de novembro de 537, o papa Silvério é forçado a assinar um documento renunciando ao papado em favor de Vigílio. Em 02 de dezembro do mesmo ano, enquanto a legalidade do ato era discutida em Roma, o papa Silvério falece na ilha de Palmarola, em consequência das privações a que foi sujeitado.
Papa Bento IX
Assumiu o papado em 1 de agosto de 1032, com apenas 20 anos de idade. Foi escolhido para a função para atender aos interesses das classes campestres de Roma que não aceitavam os inúmeros candidatos de outras dioceses originárias de fora de Roma. Tinha pouco compromisso com os deveres de um Papa e uma vida libertina que era um escândalo para a Igreja, sendo acusado de adultérios e assassinatos.
Ocupou em três ocasiões o cargo de papa. Foi expulso de Roma pelo povo em 1036, retornando à cidade apoiado pelo imperador germânico Conrado II, do Sacro Império Romano. Em setembro de 1044, a oposição interna da Igreja forçou-o a abandonar novamente Roma e elegeu o bispo de Sabina, Giovanni dei Crescenzi, como papa Silvestre III. Apoiado pelas tropas do imperador Conrado II e aliado italianos, Bento IX regressa em abril de 1045 e expulsa Silvestre III, que mantém o reconhecimento como papa por parte da Igreja. Ainda em 1045, percebendo a dificuldade em manter sua posição e ansioso por abandonar o papado e poder casar, Bento IX pede conselhos a seu padrinho, o sacerdote Giovanni Gratian Pierleoni, e se propõe a entregar o cargo para o padrinho em troca de uma grande soma de dinheiro. Com a intenção de moralizar e acalmar a situação, o padrinho aceita a negociação e se torna o papa Gregório VI.
Bento IX renuncia em 1045, pouco tempo após sua segunda oficialização no cargo. Não conseguindo o noivado que pretendia, retorna no mesmo ano à Roma e controla parte da cidade com o apoio político e militar de aliados, depondo o papa Gregório VI e assumindo o papado pela terceira vez. Nessa ocasião a Igreja Católica contava com três papas: Bento IX, que retomava a posição através de ação militar e diplomática; Gregório VI que continuava a ser reconhecido como o legítimo papa por parte da Igreja, enquanto era questionado por outra parte por ter comprado o cargo; e Silvestre III, apoiado por parte da Igreja que afirmava ser o único no momento que assumiu a função com eleição isenta.
O rei germânico Henrique III intervém na situação e, no Conselho de Sutri, em dezembro de 1046, Bento IX e Silvestre III são declarados depostos, enquanto Gregório VI era pressionado a renunciar, o que fez. O bispo germânico Suidger foi coroado papa Clemente II.
Clemente II morre pouco depois, em outubro de 1047, e Bento IX apodera-se do Palácio de Latrão em novembro do mesmo ano, requerendo o cargo de papa, que permanece vago. Em julho de 1048, tropas germânicas expulsam Bento IX do palácio e em 17 de julho de 1048 o bispo germânico Poppo de Brixen é indicado pelo imperador Henrique III e eleito como papa Dâmaso II, permanecendo no cargo por menos de um mês, até 9 de agosto de 1048. O papado permaneceu vago até 12 de fevereiro de 1049, quando foi eleito o papa Leão IX.
Bento IX é excomungado em 1049 e falece em 1085 (ou possivelmente mais tarde) no Mosteiro de Grottaferrata (província de Roma), onde foi sepultado.
Papa Gregório VI
Após assumir o papado em 1 de maio de 1045, Gregório VI tentou organizar a vida civil e religiosa, com a reforma dos costumes e o restabelecimento da ordem. Com os cofres vazios e facções antagonistas dentro da Igreja defendendo o papado de Bento IX e Silvestre III, não conseguiu resultados. Convencidos que nada se resolveria sem uma intervenção exterior, um grupo de clérigos apelou ao imperador germânico Henrique III para que resolvesse a situação.
Henrique III chega com suas tropas na Itália no outono de 1046. Seguro da sua inocência, Gregório dirigiu-se ao seu encontro e foi recebido pelo imperador com todas as honras. Atendendo ao pedido imperial, convocou um concílio, que se realizou em Sutri, para reunir os três papas e resolver a situação. Bento IX não compareceu ao evento, que rejeitou as reivindicações ao papado de Silvestre III e não reconheceu direitos a Bento IX. Os bispos reunidos também repudiaram a compra do pontificado por Gregório VI e o intimaram a renunciar. Sem apoio político e militar, Gregório VI renunciou ao papado em 20 de dezembro de 1046.
Gregório VI acompanha Henrique III para a Alemanha, onde morre em maio de 1047.
Papa Gregório VI
Imagem: pt.wikipedia.org
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Papa Celestino V
Celestino V foi eleito papa em 5 de julho de 1294 e renunciou à função cinco meses depois. A escolha de um desconhecido foi a opção do conclave para acabar com a guerra pela sucessão de Nicolau IV, morto dois anos antes. Vivendo como eremita até sua nomeação como papa e mal sabendo o latim, não se sentiu preparado para assumir a liderança da Igreja, decretou que todos os papas têm direito de renunciar e, em seguida, abdicou em 13 de dezembro de 1294, influenciado pelo cardeal Bento Gaetani. Onze dias depois o cardeal Bento Gaetani foi eleito para sucedê-lo sob o nome de Bonifácio VIII.
O novo papa tentou manter Celestino V a seu lado devido a admiração que causava nos fiéis, mas o monge preferiu tornar-se ermitão e dois meses depois foi capturado pelos guardas do Papa, passando a viver trancado em uma espécie de cela, no Castelo Fuome, na Itália, onde faleceu em 1296. Há suposições de que a morte de Celestino V tenha sido causada por envenenamento, a mando do papa Bonifácio VIII, mas não há provas conclusivas.
Celestino V está sepultado em Aquila, na igreja da Ordem Celestina, criada em sua homenagem. Foi oficialmente considerado santo em 3 de maio de 1313.
Celestino V está sepultado em Aquila, na igreja da Ordem Celestina, criada em sua homenagem. Foi oficialmente considerado santo em 3 de maio de 1313.
Papa Celestino V
Imagem: dominusvobis.blogspot.com
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Papa Gregório XII
Gregório XII foi eleito papa em 30 de novembro de 1406, com mais de 80 anos de idade. Sua renúncia ocorreu em 4 de julho de 1415, como parte das negociações no Concílio de Constança para acabar com as disputas de poder dentro da Igreja durante o período do Grande Cisma do Ocidente – uma crise na Igreja Católica que perdurou de 1378 a 1417, quando havia uma disputa entre três autoridades da Igreja que se auto-intitulavam papas.
O papa Gregório XII representava a Itália, Alemanha e norte da Europa; o papa Bento XIII representava a Espanha, Escócia, Córsega e parte da França e o papa Alexandre V representava a maior parte das ordens religiosas que recusavam os dois papas anteriores e estavam decididas a fazer uma reforma na Igreja.
Na primavera de 1410, apoiado pelo rei de Nápoles, Alexandre V entra em Roma aclamado pela população, mas morre em 5 de maio deste ano, provavelmente envenenado pelo cardeal Cossa, que é nomeado vinte dias depois como papa João XXIII.
Em 1414 inicia-se o Concílio de Constança que, após negociações religiosas e políticas, chegou a um acordo de que os três papas deveriam renunciar ou seriam forçados a fazer isso, havendo a eleição de um novo pontífice.
Em 29 de maio de 1415 o título de João XXIII é retirado pelo Concílio de Constança e o mesmo se torna prisioneiro dos príncipes alemães, até ser perdoado pelo novo papa Martinho V, sendo nomeado cardeal-bispo da cidade de Tuscolo, na Itália, onde faleceu em 1420.
Em 4 de julho de 1415, o papa Gregório XII renuncia, obedecendo as determinações do concílio. Em reconhecimento, o concílio convidou o ex-papa a assumir o bispado de Porto e a representação pontifícia na região de Marche, na Itália, onde morreu na cidade de Recanati em 18 de outubro de 1417.
O Concílio de Constança retira o título de Bento XIII e termina com a eleição do papa Clemente V, pondo fim ao Grande Cisma do Ocidente.
Bento XIII (conhecido como Antipapa) recusou-se a abdicar e refugiou-se na fortaleza espanhola de Peníscola, onde faleceu em 23 de maio de 1423, isolado e convencido da legalidade de seu papado.
O papa Gregório XII representava a Itália, Alemanha e norte da Europa; o papa Bento XIII representava a Espanha, Escócia, Córsega e parte da França e o papa Alexandre V representava a maior parte das ordens religiosas que recusavam os dois papas anteriores e estavam decididas a fazer uma reforma na Igreja.
Na primavera de 1410, apoiado pelo rei de Nápoles, Alexandre V entra em Roma aclamado pela população, mas morre em 5 de maio deste ano, provavelmente envenenado pelo cardeal Cossa, que é nomeado vinte dias depois como papa João XXIII.
Em 1414 inicia-se o Concílio de Constança que, após negociações religiosas e políticas, chegou a um acordo de que os três papas deveriam renunciar ou seriam forçados a fazer isso, havendo a eleição de um novo pontífice.
Em 29 de maio de 1415 o título de João XXIII é retirado pelo Concílio de Constança e o mesmo se torna prisioneiro dos príncipes alemães, até ser perdoado pelo novo papa Martinho V, sendo nomeado cardeal-bispo da cidade de Tuscolo, na Itália, onde faleceu em 1420.
Em 4 de julho de 1415, o papa Gregório XII renuncia, obedecendo as determinações do concílio. Em reconhecimento, o concílio convidou o ex-papa a assumir o bispado de Porto e a representação pontifícia na região de Marche, na Itália, onde morreu na cidade de Recanati em 18 de outubro de 1417.
O Concílio de Constança retira o título de Bento XIII e termina com a eleição do papa Clemente V, pondo fim ao Grande Cisma do Ocidente.
Bento XIII (conhecido como Antipapa) recusou-se a abdicar e refugiou-se na fortaleza espanhola de Peníscola, onde faleceu em 23 de maio de 1423, isolado e convencido da legalidade de seu papado.
Papa Gregório XII
Imagem: historiadigital.org
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Humor:
Graças aDeus
Autor: Duke
Imagem: noticias.uol.com.br
Papa de saco cheio
Autor: Pelicano
Imagem: humorpolitico.com.br
Despedida do Papa
Autor: Alpino
Imagem: idadecerta.com.br
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Fontes:
História para Você
Papas que renunciaram
Veja
Conheça os papas que renunciaram antes de Bento XVI
Agência Brasil
Na história da igreja Católica, Bento XVI é o quarto papa a renunciar
Cléofas
A renúncia do papa Bento XVI: como fica a Igreja?
Wikipédia
Papa Ponciano
Wikipédia
Papa Silvério
Wikipédia
Papa Bento IX
Wikipédia
Papa Gregório VI
Wikipédia
Papa Celestino V
Wikipédia
Papa Gregório XII
Wikipédia
Papa Bento XVI
Wikipédia
Lista dos papas
Obrigado pela aula, Sylvio. Pelo que aprendemos parece que o Bento IX era o que possuía o pensamento mais contemporâneo, um verdadeiro exemplo para os atuais políticos.
ResponderExcluirBento IX é a melhor representação de que em determinada época o cargo de papa era político, tendo a religião apenas como pano de fundo. Dá para imaginar atualmente um papa no cargo através de um golpe de Estado, apoiado por militares?
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