Autor: Keisuke Matsumoto
Livro que mostra como os princípios budistas podem ser usados nas
tarefas diárias por qualquer pessoa, sem a necessidade de um caráter religioso,
como uma referência de atitudes que podem melhorar a eficiência e satisfação de
como nos colocamos no mundo.
Com letras espaçadas, textos curtos e muitas ilustrações, a
leitura deste livro é rápida e enriquecedora. Dividido em 7 partes, trata da
ideia de limpeza, dos utensílios, das áreas internas e externa da casa, terminando
com a limpeza do corpo e da alma e considerações sobre atitudes a se observar
após a limpeza.
Ótimo livro para se ter e reler esporadicamente. Também um
presente útil para pessoas que valorizam a saúde espiritual.
Compartilho os trechos abaixo como amostra.
"A
limpeza vai além do simples e repetitivo trabalho braçal. [...] Visite um
templo budista e perceberá que suas dependências estão sempre impecáveis. Um
dos motivos é expressar as boas vindas aos visitantes.Outro motivo é manter a
ordem e limpeza do seu interior através da atenção e cuidados com o exterior
onde habita. [...] Limpeza não é considerada um estorvo, algo que deve ser
concluído o mais rápido possível. Dizem que um dos discípulos de Buda alcançou
o nirvana fazendo nada menos do que varrer. Limpar não é o contrário de sujar,
é uma prática que conduz ao aperfeiçoamento espiritual."
(Págs. 13 e
14)
"O que é
lixo? Aquilo que é velho, inútil? Objetos não nascem lixo, tornam-se quando
alguém os desgasta ou quebra, quando passa a enxerga-los nessa condição. [...]
Quem não respeita os objetos tampouco respeita as pessoas. Se tudo se tornará
inútil e desnecessário em algum momento, então tudo é potencialmente lixo.
Os
objetos demandam energia e tempo para serem criados, e carregam em si parte de
seus criadores. Ao limpar e organizar sua casa, não os manuseie de forma rude e
tenha gratidão.
Por
outro lado, isso não é justificativa para acumular objetos sem utilidade. Mesmo
velhos, os objetos ainda guardam vida dentro de si e, se os doarmos, eles
poderão ser úteis a alguém. [...]
Permita
que os objetos que lhe serviram possam exercer suas funções para terceiros –
seja-lhes grato e repasse-os. Isso é valorizá-los."
(Págs. 15 e
16)
"Antes
de iniciar a faxina, abra as janelas e troque o ar ambiente, purificando-o com
a brisa de fora. [...]
Na
primavera e no outono os dias são agradáveis e o vento prazeroso. O ar quente
do verão e gélido do inverno também são bons. O ato da limpeza nos possibilita
comunicar com a natureza. [...]
O ser
humano é frágil e incapaz de sobreviver na natureza selvagem. Impossibilitado
de se colocar desprotegido, ele precisa criar ambientes artificiais habitáveis.
[...]
Abra as
janelas e conviva com a natureza, consciente da fraqueza inerente que nos
impossibilita coabitar com as criaturas selvagens. Sinta a gentileza e
agressividade da natureza, grato pela insustentável força da vida.
Todas
as manhãs, abra as janelas e dê boas-vindas ao ar puro. "
(Págs. 19 e
20)
"Não
lamente o ontem e não anseie o amanhã. Concentre as energias no agora.
O ser
humano moderno, sempre ocupado, volta para casa exauridoe só deseja relaxar no
banho, jantar e dormir. Na manhã seguinte acorda com o ônus do dia anterior –
louça suja, roupa para lavar, cômodos empoeirados.
Bagunçou?
Arrume imediatamente! Não deixe as sementes da preguiça e da ruína germinarem
em sua mente. Se negligenciada, a sujeira do espírito se torna difícil de
remover. Não adie e viva cada dia de forma plena e agradável, o mais próximo
possível do seu ideal. "
(Págs. 27 e 28)
"A
cozinha do templo sempre se encontra impecavelmente limpa, e seus utensílios
nos lugares adequados. Uma cozinha organizada permite começar imediatamente o
trabalho, com satisfação. A cozinha é onde os alimentos se transformam em
energia de vida, portanto um local de atenção e reverência. Enquanto na
cozinha, se concentre nos detalhes no manuseio dos alimentos e objetos. Optar
pela conveniência de manter abertas portas de armários é sinal de que o
espírito está preguiçoso ou desorientado. Feche a porta dos armários toda vez
que retirar algo. Isso previne acúmulo de poeira, possíveis encontrões e a
lassidão espiritual. [...]
Os
alimentos são seres vivos sacrificados para que mantenhamos nossa vida. Evitar
desperdícios no preparo e comer apenas a quantidade necessária ao bem estar são
sinais de gratidão e respeito pelo conceito de vida em geral, afirmando que
nossa vida não vale mais do que outras e todas estão interligadas. "
(Pág. 52)
"Nos
templos, é investida grande quantidade de energia à limpeza do banheiro.
[...]Não há aposento que melhor represente a casa do que o banheiro. Caso
precise utilizá-lo,o convidado ficará sozinho num ambiente onde sua atenção se
voltará para os detalhes. Sujeira no assento, poeira no chão, papel higiênico
quase no fim: se o ambiente estiver negligenciado, a impressão da casa como um
todo e do anfitrião se comprometem. [...]
Banheiros
são os locais onde purificamos nossos corpos, de modo que sua limpeza deve ser
absoluta. Num ambiente imaculado, as pessoas sentem-se impelidas a conservá-lo
assim, demonstrando, ainda, preocupação com o próximo. "
(Págs. 57 a
59)
"Ignorância
é ausência de luz, o estado de vagar a esmo na escuridão. O fato de a verdade
ser invisível fertiliza o surgimento das paixões e dos desejos mundanos, cujo
resultado é o sofrimento. O que destrói a ignorância é a sabedoria. [...] Ser
iluminado com a luz da sabedoria é finalmente se libertar.
Limpe
as luminárias como se polisse a fonte de luz da sabedoria, que elimina a
ignorância e os pensamentos impuros. "
(Pág. 112)
"O
jardim é o local onde nos comunicamos com a natureza. Embora seja impossível
vivermos nela, é impossível sobreviver sem. O jardim se torna o lugar em que
aprofundamos o conhecimento sobre esse delicado equilíbrio. Há templos que
fazem do jardim uma metáfora da natureza, outros optam por representar a Terra
pura.
O modo
como enxergamos o jardim reflete nosso espírito no momento. Sujeito ao clima e
estações, o jardim é efêmero. [...] O jardim é uma área de comunicação entre o
homem e a natureza. [...]
Evite o
uso de herbicidas. Eles influenciam na qualidade do solo e prejudicam minhocas
e outros animais. Cuidar do jardim é estar atento a todos os seus componentes.
As formas de vida estão conectadas. No diálogo com a natureza, nosso espírito
se enriquece. Observe-a e, assim, observará sua alma. "
(Págs. 121 a
123)
"Os
vidros simbolizam transparência e desapego. Caso estejam embaçados ou com
marcas de dedos, o espírito se encontra igualmente maculado.
O
budismo reitera a importância de eliminar a visão nublada pelo egoísmo e
enxergar a essência das coisas, aceitando-as como elas são. Faça isso com
naturalidade e você alcançará o estado mental da compreensão.
Esfregue
os vidros das janelas até ficarem límpidos e você consiga contemplar a paisagem
além, esquecendo-se de sua própria existência.
Limpe
até não restar sequer um ponto turvo. "
(Pág. 125)
"Acredita-se
que liberdade é fazer o que se quer na hora em que se deseja. Porém, a
liberdade, de fato, é viver em paz, com o coração pleno de felicidade. E isso
se obtém somando cada uma de nossas ações. O tempo dedicado à limpeza, por
exemplo, traz uma sensação de plenitude que se estende durante a permanência no
ambiente. "
(Pág. 170)
Textos adaptados retirados do livro
Manual de limpeza de um monge budista
(Keisuke Matsumoto)
São Paulo: Editora Planeta, 2015.
Segundo o
budismo, fazer faxina significa remover a sujeira do espírito e dos hábitos
cotidianos. É por isso que o dia dos monges começa com a limpeza. Neste livro,
o monge Keisuke Matsumoto ensina como cuidar da casa pode tornar nossa vida melhor
e mais íntegra. São dicas simples e práticas, seguidas de referências
filosóficas. Baseando-se nos princípios do budismo, o tempo dedicado à limpeza
pode trazer uma sensação de contato com o presente e consigo, levando à
plenitude. Vale a pena tentar.
Quão interessante, Sylvio! Nunca havia ouvido falar disso! Que notável aproximação filosófica ao dia a dia! Que grandes máximas! Obrigado!
ResponderExcluirAcredito que não precisamos ter rotinas extravagantes ou estarmos em lugares exóticos para tornar nossa vivência algo empolgante e produtivo. As viagens internas são mais acessíveis e edificantes, e podem ser realizadas quando e onde nos dispomos!
ExcluirAchei bem interessantes os princípios, pois creio que nossa casa (independentemente de ser rica ou pobre) reflete em sua (des)organização um pouco do que somos. Eu sou muito exigente comigo mesma, por isso o ambiente que me cerca precisa, necessariamente, estar organizado.
ResponderExcluirSalvei a foto do livro, pois vai entrar na lista de aquisições. Obrigada por compartilhar!
O que eu gostei neste livro é a correspondência entre a manutenção física e a espiritual, algo que eu não havia concebido até então.
ExcluirDaí minha intenção nessa postagem é divulgar este conceito, para que seja inspirador e útil para outras pessoas.