sábado, 27 de julho de 2019

Albergues e Hostels

A história dos Albergues da Juventude e dos Hostels

História dos Albergues da Juventude
Imagem: http://www.albergues.com.br/sitenovo/hosteling_100_anos.php 

Um hostel (albergue) é um tipo de acomodação que se caracteriza pelos preços convidativos e pela socialização dos hóspedes, onde se pode arrendar uma cama ou beliche num dormitório coletivo, com banheiros partilhados, lavanderia e por vezes cozinha. Pode haver quartos privados, para casal, família ou coletivos, divididos por sexo ou mistos. Os hostels geralmente têm preços baixos e muitos deles têm residentes que trocam acomodação gratuita por trabalho temporário como recepcionista ou outra função.


Dormitório de Hostel em Taiwan

As origens do Movimento Alberguista e do Movimento Hostel

O professor alemão Richard Schirrmann (Nascido em 15 de maio de 1874 em Grunenfeld, na Prússia Oriental), foi o fundador do Movimento Alberguista, que daria origem ao Movimento Hostel. Como professor ele acreditava na aprendizagem por observação e experimentação diretas, por isso levava suas turmas a excursões e caminhadas. As caminhadas poderiam durar vários dias, ocasiões em que Schirrmann e seus alunos buscavam alojamento em instalações agrícolas com celeiros e galpões, situadas ao longo dos caminhos, para seus pernoites.

Em uma dessas excursões, em 26 de agosto de 1909, o grupo foi apanhado por uma tempestade. Não sendo aconselhável prosseguir até a área rural onde pretendiam dormir, eles encontraram abrigo em uma escola na cidade alemã de Bröl, cujo diretor os deixou utilizar uma sala de aula. Um agricultor deu-lhes alguma palha para dormir e leite para a sua refeição da noite.
A tempestade seguiu por toda a noite. Enquanto os rapazes dormiam, Schirrmann ficou acordado, empolgado com a ideia de que "As escolas na Alemanha poderiam muito bem ser usadas para fornecer alojamento durante os feriados. Aldeias poderiam ter um albergue da juventude aconchegante, situado a um dia de caminhada uns dos outros, para acolher jovens viajantes". Ele experimentava pela primeira vez uma hospedagem urbana com seus alunos.

Naquela noite de tempestade foi idealizado o Movimento Mundial de Albergues da Juventude. Em 1910, Schirrmann escreveu um ensaio onde definiu suas ideias para os "Volksschülerherbergen" ("Albergues para alunos das escolas públicas estaduais" em alemão).
Duas salas de aula seriam suficientes, uma para meninos e uma para meninas. Algumas mesas poderiam ser empilhadas liberando espaço para colocar aproximadamente 15 camas por sala. Cada cama seria composta por um saco recheado de palha e travesseiro, dois lençóis e um cobertor. Cada jovem seria orientado para manter a sua cama limpa e arrumada.

Em 1912 foi aberto o primeiro Albergue da Juventude, no antigo castelo na cidade de Altena, na Alemanha, que funciona até os dias atuais. O castelo foi restaurado e equipado de acordo os projetos de Schirrmann, com dois dormitórios com triliches de madeira maciça, uma cozinha, lavabos e banheiros.

Castelo de Altena - Primeiro Albergue da Juventude

A participação de Richard Schirrmann na Primeira Guerra Mundial

Em 1914, Richard Schirrmann se voluntariou para o exército alemão e serviu num regimento posicionado em Bernhardstein, – uma das montanhas dos Vosges (Nordeste da França) – escrevendo um relato sobre uma trégua na noite de natal de 1915: "Quando os sinos de Natal soaram nas aldeias do Vosges, atrás das linhas, aconteceu uma coisa nada militar! As tropas alemãs e francesas cessaram espontaneamente as hostilidades; eles se visitaram uns aos outros através de túneis de trincheiras em desuso, trocaram vinho, conhaque, cigarros, pão-preto da Vestefália, biscoitos e presunto. Isto lhes convinha tão bem que eles permaneceram amigos mesmo depois do Natal".
Após aquela noite, a disciplina militar logo foi restaurada pelos comandantes e os homens retornaram para suas tropas. Dessa breve convivência, Schirrmann, que antes da guerra já atuava com o conceito de confraternização através dá convivência de pessoas das diferentes regiões alemãs, ampliou suas perspectivas de intercâmbio cultural e concluiu que "os jovens de todos os países poderiam se reunir em lugares adequados onde pudessem ficar e conhecer uns aos outros", preparando a base ideológica do que seria a futura rede de albergues em nível internacional, e não mais apenas dentro da Alemanha.
Em 1915, Schirrmann foi condecorado com a Cruz de Mérito por sua atuação pela linha de frente e foi promovido a sargento.

Richard Schirrmann - Fundador dos Albergues da Juventude

Os Albergues da Juventude e os Hostels

Após o fim da Primeira Guerra Mundial, Schirrmann fundou em 1919 a Associação Alemã dos Albergues da Juventude e em 1922 se aposentou de seu trabalho como professor para se dedicar integralmente ao movimento de albergados até 1936, quando o governo nazista obrigou-o a renunciar da presidência da então Associação Internacional da Juventude Hostelling, para que este cargo fosse ocupado por um membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista). Após a Segunda Guerra Mundial trabalhou até sua morte, em 14 de dezembro de 1961, na reconstrução desta associação, que se tornou a origem da atual Hostelling International, maior rede de hospedagem do mundo.

O Movimento Alberguista cresceu rapidamente. Em 1913, já havia 83 albergues da juventude na Alemanha e 21 mil pernoites foram registrados. Em 1921 o número de pernoites já tinha atingido 500 mil.
No verão de 1931, os Albergues da Juventude haviam se espalhado pela Europa em 12 associações, operando um total de 2.600 hospedarias, mas havia pouco contato entre as associações. Isso mudou em 20 de outubro de 1932, quando foi realizada a Primeira Conferência Internacional dos Albergues da Juventude num hotel em Amsterdam, capital da Holanda. Estiveram presentes representantes de 11 associações alberguistas: Alemanha, Holanda, Bélgica, Polônia, Dinamarca, Noruega, Suíça, Tchecoslováquia, Inglaterra e País de Gales, Irlanda e França. A conferência marcou o surgimento da Federação Internacional de Albergues da Juventude, organização hoje conhecida como a Hostelling International.

Já consolidado na Europa, o Movimento Alberguista chegou aos Estados Unidos em 1934. Em 1938, o Canadá também passou a fazer parte da rede de Albergues da Juventude.
A Argentina (1956) e o Uruguai (1958) foram os primeiros países sul-americanos a fazer parte do movimento. Ambos trabalharam pela expansão da rede na América Latina e motivaram o ingresso na rede de Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Costa Rica, El Salvador e Brasil.
Os Albergues da Juventude no Brasil

A ideia dos Albergues da Juventude foi articulada ao Brasil em 1961, através do professor carioca Joaquim Trotta e sua esposa Ione Trotta, que se hospedaram num albergue na França, em 1956. Da fase de organização ao início da prática foram aproximadamente 4 anos e em 1965 foi inaugurado o primeiro albergue brasileiro no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, que recebeu o nome de "Residência Ramos". Este albergue permaneceu aberto até 1973.
Neste período, funcionavam no estado de São Paulo dois albergues, um na Capital e outro em Campos do Jordão, que foram fechados pelo governo militar sob a alegação de reunir jovens universitários potencialmente subversivos.

Em 1971, foi fundada a Federação Brasileira de Albergues da Juventude (FBAJ), com sede no Rio de Janeiro, e em 1984 a Associação Paulista de Albergues da Juventude (APAJ), que recebeu apoio significativo, inclusive com a doação de quatro imóveis – um em Campos do Jordão, um em Pindamonhangaba (ambos usados anteriormente por funcionários da Estrada de Ferro Campos do Jordão), um imóvel em Ubatuba e uma casa no Parque Estadual do Jaraguá, que foi habitada pelo bandeirante Afonso Sardinha.
No início de 1986, João Dória Júnior assumiu a presidência da Embratur e incentivou o trabalho dos Hostels, tornando-os conhecidos no Brasil.

O Brasil possui hoje aproximadamente 80 hostels credenciados pela Federação Brasileira de Albergues da Juventude, que estabelece metas e diretrizes de desenvolvimento para suas afiliadas e mantém contato com as demais federações do mundo.

Área comum de um Albergue da Juventude em Lisboa (Portugal)

Hostels: da simplicidade à sofisticação

No início da década de 1990 houve uma ampliação e melhoria dos albergues no mundo e estes se tornaram reconhecidos como interessantes alternativas para hospedagem pelas diversas classes sociais, não apenas os pobres ou descolados.
Muitos dos atuais albergues e hostels oferecem um considerável nível de conforto e variedade de serviços, como cafés e salas com equipamentos esportivos ou computadores, assemelhando-se mais a hotéis do que com repúblicas estudantis.

Os mochileiros da atualidade movimentam mais de 1,4 bilhão de dólares por ano. O dinheiro dos hostels mais lucrativos ajuda a manter os localizados em locais remotos, menos rentáveis, possibilitando assim que a rede de hospedagens se mantenha o mais ampla possível.
A Hostelling International se transformou na maior rede de hospedagem do mundo, com aproximadamente 4.500 unidades em cerca de 70 países e cerca de 3,7 milhões de membros atualmente. Não é obrigatório ser jovem ou estudante para se filiar: a carteirinha pode ser feita em qualquer albergue da federação – e quem é membro paga mais barato.

Se Richard Schirrmann desejava que a facilidade de hospedagem possibilitasse uma melhor vivência através da diversidade na convivência, seu objetivo foi alcançado!

Salão de jantar em Albergue da Juventude
Hamburgo-Altona, na Alemanha (1990)

Fontes de consulta:

Associação Paulista de Albergues da Juventude
História dos Hostels

Hostelling International Brasil
Movimento Alberguista comemora 105 anos de história

Wikipédia
Richard Schirrmann
( Em inglês – Usar tradutor )

Wikipédia
Albergue da Juventude

Wikipédia
Albergue

Albergues de A a Z
A história dos albergues

DW
Albergues da Juventude: a história em fotos
( Em inglês – Usar tradutor )

Eupedia.Com
Castelo de Altena
( Em inglês – Usar tradutor )

Hostelling International – Site oficial
( Em inglês – Usar tradutor )

Canal oficial do Hostelling International no YouTube

sábado, 13 de julho de 2019

Reza imortal


A missa das almas

A veneranda senhora Virgínia Cabral despertou de seu profundo sono, com as conhecidas badaladas do sino da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, chamando os fiéis para o tradicional ofício religioso denominado Missa das Almas.
– Quê! Já 5 horas?
– E, sem consultar o relógio, ainda sonolenta e tremendo de frio, vestiu às pressas sua eterna saia preta de viúva, passou o xale em volta dos ombros e rumou para a igreja.
Na sua miopia de octogenária, não reparou nas feições dos que lá se encontravam, mas percebeu que o templo se achava repleto e o padre, no altar-mor, se movia de um para outro lado com uma leveza incomum.
O rosário ia correndo lentamente entre os seus velhos dedos descarnados, os seus olhos se perdiam num êxtase beatifico ante a imagem da Virgem, quando ouviu o relógio da torre bater horas.
Começou mentalmente a contá-las. – Cinco… seis… sete… Céus, não estaria enganada?! Oito... nove… Sentiu tremer-lhe todo o corpo. Dez... onze... e soaram as doze horas.
– Doze horas da noite e não do dia! Como por encanto, tudo desapareceu: padre, sacristão e fiéis, as luzes se apagaram e as portas se fecharam por si, todas juntas! – E na nave imensa, um silêncio e escuridão de túmulo!
Então, presa nas trevas naquele recinto solitário, e compreendendo, afinal, que participara de um ofício celebrado e assistido por mortos, tomada de indescritível pavor, rolou pesadamente ao solo, desacordada…
Quando, no dia seguinte, o sacristão abriu a igreja, para a costumeira Missa das Almas, D. Virgínia continuava ali, junto à porta principal, por onde certamente procurara fugir, lívida como um cadáver, ainda sem sentidos, sobre a frialdade dos ladrilhos…

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Texto adaptado do livro “Contam que...”, de Lincoln de Souza.
Págs. 35 a 38.

Livro : Contam que...
( Lincoln de Souza )
Toda cidade antiga tem suas lendas e São João del-Rei (MG) não foge desta regra. Estas lendas foram transmitas por tradição oral ao longo de gerações até serem reunidas num livro para registrá-las. Lincoln de Souza escreveu em 1920 o livro "Contam que..." com as 12 lendas mais famosas da cidade.
Editado e relançado diversas vezes, este livro foi uma das inspirações para a realização do projeto teatral turístico "Lendas São Joanenses", que encena alguns destes "causos" pelas ruas da cidade histórica.
São histórias de mistério e horror, mas nada muito diferente daquelas que costumávamos ouvir nas rodas entre amigos ou de pessoas mais velhas, quando fazíamos alguma travessura...

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Para ler o livro na íntegra, acesse: