O tesouro do Tiradentes
Autora: Angela Xavier
A Mãe do Ouro é personagem lendária trazida para o Brasil por africanos que vieram para trabalhar na extração de ouro. Ela é a guardiã dos tesouros da terra, das montanhas e dos rios. Aparece como uma luz dourada brilhando próximo ao local onde existe ouro. Dizem que muitas lavras foram encontradas por aqueles que viram e acreditaram nesta luz.
Toda pessoa que enriquece em Ouro Preto o povo diz que foi porque encontrou ouro, então a crença na Mãe do Ouro se mantém através dos anos. Há muitas histórias de pessoas que teriam enriquecido com ouro beneficiados pela sorte. A mais conhecida delas aconteceu durante a construção da sede da Associação Comercial e Empresarial de Ouro Preto (ACEOP), na Rua São José, no terreno onde havia a casa de Tiradentes.
Após a Inconfidência Mineira, a casa onde viveu Tiradentes foi demolida em 1792 por ordem de D. Maria I. O terreno foi salgado e nada foi construído no local.
Muitos anos se passaram e Tiradentes, de traidor, virou herói. Eram novos tempos e em 1934 uma casa estava sendo construída no local da antiga casa do Tiradentes, para ser a sede da Associação Comercial e Empresarial de Ouro Preto.
Zé Salame trabalhava como ajudante de pedreiro. Ele era um homem pacato, de fala macia, que gostava de se vestir a moda do faroeste e, às vezes, gostava de fazer benzeduras.
Muitos anos se passaram e Tiradentes, de traidor, virou herói. Eram novos tempos e em 1934 uma casa estava sendo construída no local da antiga casa do Tiradentes, para ser a sede da Associação Comercial e Empresarial de Ouro Preto.
Zé Salame trabalhava como ajudante de pedreiro. Ele era um homem pacato, de fala macia, que gostava de se vestir a moda do faroeste e, às vezes, gostava de fazer benzeduras.
Retirava ele o entulho do terreno junto a um paredão muito antigo que existia ao fundo do terreno quando, subitamente, aquele paredão desmoronou e, no meio das pedras que rolaram pelo chão, apareceu um surrão [espécie de bornal, saco ou bolsa] de couro.
Zé Salame tratou de abri-lo e viu, estarrecido, um verdadeiro tesouro. Eram barras de ouro, além de moedas e documentos muito antigos. Ele guardou de novo aquela preciosidade e esperou anoitecer.
Noite alta, ele saiu de casa e, cautelosamente, voltou ao local onde havia escondido o achado. Pegou o surrão de couro e correu para casa. Levou seu tesouro e colocou debaixo da cama. Ele considerava-se um escolhido de Deus, um afortunado. Desse dia em diante passou a pagar com moedas de ouro por tudo que comprava.
Perto do Largo do Rosário havia um português, dono de um desses armazéns que vendem um pouco de tudo. Era lá onde o Zé Salame ia comprar mantimentos e tomar sua cachaça, pagando sempre com moedas de ouro. O português recebia como se fossem moedas comuns, não falava nada e foi juntando uma verdadeira fortuna. Zé Salame não tinha noção do valor do tesouro que havia encontrado. Dizem que o português voltou para sua terra e comprou uma boa casa, estabelecendo por lá o seu comércio. Graças às moedas de ouro do ingênuo Zé Salame.
Certa vez, ele meteu-se numa briga e acertou um dos implicados próximo ao olho com uma espingarda de chumbinho. O ferimento foi tratado, o rapaz ficou curado, mas fez questão de ir à delegacia e dar queixa do seu agressor. A polícia passou a procurá-lo. Zé Salame, que de bobo não tinha nada, desapareceu.
Passou um tempo e ele, acreditando estar tudo em paz, voltou para casa. Triste engano. Um dia estava ele em casa, bem tranquilo, em companhia de sua mãe, quando a casa foi invadida por policiais. Junto estava o delegado dando-lhe ordem de prisão.
A mãe de Zé Salame saiu em sua defesa. Disse que aquele ouro não havia sido roubado e sim achado em um velho paredão no local onde seu filho trabalhava. E ele não podia ser preso por isso. Os policiais, atônitos, perceberam que uma enorme barra de ouro servia para segurar a porta da rua. Seu susto não parou aí, pois a inocente velhinha trouxe o surrão ainda cheio de ouro e mostrou aos policiais. Ela havia queimado alguns papéis que estavam junto ao ouro, porque não conseguia ler os escritos nem entender os desenhos. Os papéis eram muito velhos e grossos, parecendo cascas de laranja.
O delegado havia entrado na casa do Zé Salame para procurar uma coisa e achou outra bem diferente. Mas, o certo é que, depois de tudo, o Zé Salame não foi preso, mas ficou sem o seu tesouro.
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Texto adaptado do livro "Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto", de Angela Leite Xavier.
Obs.: Esta postagem foi realizada mediante prévia autorização da autora.
Para mais "causos" e contos de Angela Xavier, acesse o blog dela:
Compartilhando Histórias
Fontes de consulta:
Arquivo Ouro Preto.Com
O tesouro do Tiradentes
http://www.arquivoouropreto.com.br/artigos/detalhe.php?idartigo=50
Ouro Preto.Com
A Mãe do Ouro
http://www.ouropreto.com.br/secao/artigo/a-mae-do-ouro-por-angela-xavier
Livro : Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto
O livro reúne mais de
70 histórias, ambientadas do século XVIII até início do XX, coletadas junto a
moradores ou em livros sobre a cidade. Olavo Romano, responsável pelo prefácio,
afirma que "Ouro Preto era cheia de fantasmas, uma cidade mal iluminada, repleta
de capelas e cemitérios, onde ninguém saia de casa depois das 21 horas. Trata-se de
um livro que narra a História de Ouro Preto de uma forma agradável, à maneira
dos contadores de histórias, e está entremeada de lendas e causos. Começa
chamando a atenção do leitor para a necessidade de se preservar aquilo que faz
parte da nossa memória e relata a descoberta do ouro, os conflitos que surgiram
no início e as revoltas".
A ênfase do livro é dada às histórias dentro da História, nas curiosidades que os livros de História não relatam, na sociedade que se formou ao redor das minas de ouro com suas crenças, seus valores e sua religiosidade. Relatos de grandes festas, de muitos casos assombrados e tesouros escondidos. A ilustração, com desenhos em bico de pena, é do artista plástico ouro-pretano José Efigênio Pinto Coelho.
A ênfase do livro é dada às histórias dentro da História, nas curiosidades que os livros de História não relatam, na sociedade que se formou ao redor das minas de ouro com suas crenças, seus valores e sua religiosidade. Relatos de grandes festas, de muitos casos assombrados e tesouros escondidos. A ilustração, com desenhos em bico de pena, é do artista plástico ouro-pretano José Efigênio Pinto Coelho.
Assim como as Minas Gerais são muitas, os causos são muito mais . Interessante esse fato, bem narrado e dá até para imaginar as cenas.
ResponderExcluirMuito bão >
Abraços
Universo
Texto muito interessante! Nossa Minas Gerais é repleta de causos, é até difícil saber quais são verdadeiros.
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