sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Um crime penoso

Como cidadão compromissado com a comunidade, através desta publicação extra-ordinária, o blog HistóriaS presta um serviço de (in)utilidade pública à população da pequena cidade mineira de Pedro Teixeira, divulgando o flagrante da foto desta criatura criminosa, momentos antes da mesma tentar invadir a casa acima do local fotografado pela janela do segundo andar.

Penosa criminosa de Pedro Teixeira ( MG )
Foto: Sylvio Bazote

No dia 07 de outubro recente saí de Juiz de Fora juntamente com um amigo, acompanhando-o na venda de pães, biscoitos e bolos que realiza com sua Kombi abastecendo mercados e padarias em bairros de Juiz de Fora, além de estabelecimentos nas cidades próximas de Lima Duarte e Pedro Teixeira.
Após uma agradável manhã de boas conversas e belas paisagens durante as vendas nos bairros Igrejinha e Humaitá, rumamos para Lima Duarte, de onde, após algumas vendas, comprar alguns pacotes de um delicioso polvilho de queijo e desfrutar de um gostoso almoço, rumamos no início da tarde para Pedro Teixeira, lá chegando por volta das 13 horas.
Depois de abastecer um mercado na rua principal da cidade, rumamos para a padaria situada ao fim da mesma rua. Enquanto meu amigo conferia mercadorias e fazia a contabilidade das vendas, peguei minha máquina fotográfica e comecei a fazer algumas fotos. Para infortúnio desta sorrateira criatura criminosa, sua presença chamou a atenção do meu amigo, que me alertou e fiz a foto que está no início desta postagem, sem imaginar a ousada tentativa de crime que viria a seguir.
O arquivo da foto mostra que a mesma foi feitas às 13:43 horas. Após feita a foto, percebi que o alvo do meu enquadramento imediatamente se afastou do local, mas não dei importância ao fato. Virei-me e olhava despreocupadamente as casas no entorno quando, aproximadamente apenas uns dois minutos após a foto, chamou minha atenção uma movimentação sobre uma pequena laje proeminente, com uns dois a três palmos de largura, que fazia as vezes de marquise, separando o primeiro andar, onde está situada a padaria, e o segundo andar, com duas residências.
Para minha surpresa, era novamente a pequena criminosa que, provavelmente após usar um mourão de madeira da cerca de arame farpado (visível ao fundo da foto acima) como base para subida, se deslocava rápida e decidida para uma janela aberta. Sem perda de tempo, pulou com agilidade da pequena marquise para o parapeito da janela e olhou para dentro. Paralisado diante de tamanha habilidade e audácia, não me ocorreu no momento fazer outra(s) foto(s) e já considerava consumada a invasão quando, para minha surpresa, enquanto a penosa criminosa, sem perda de tempo já dobrava os joelhos para dar o impulso final para o pulo onde entraria na casa, três garotos (com aproximadamente 12 anos) passaram por mim, vindos do centro da cidade, aos gritos e jogando pequenos objetos (que não identifiquei) na parede ao lado direito da janela onde estava a futura invasora.
Imaginando que eu era a única testemunha do crime que se desenrolava contra a propriedade particular e ao direito de privacidade, fiquei satisfeito em perceber que estes três jovens justiceiros apareceram no momento exato, engrossando o drama da trama que se desenrolava diante da desatenção da maioria das pessoas.
Não esqueço a postura segura e arrogante da criminosa neste momento! Desistindo momentaneamente de invadir a casa, virou-se rapidamente e encarou lá de cima, sem medo, os três jovens defensores do patrimônio alheio que pararam em frente e abaixo da janela, no meio da rua. Percebi nela para eles o mesmo olhar frio e calculista com o qual me fitara momentos antes, quando fiz sua foto. Era perceptível sua atitude de descaso pelos outros e o desejo de saciar suas necessidades e vontades, estudando como se esquivar daqueles que pudessem se interpor entre onde estava e aquilo que queria! O que ela (e eu) não esperava é que os jovens também tivessem atitude decidida e rápida. Após um breve e tenso momento de troca de olhares, que não passou de um segundo, nova onda de gritos simultânea a outra leva de pequenos objetos bombardeou a desafiadora criminosa. Um dos objetos (que novamente não identifiquei) bateu no vidro da parte direita da janela, enquanto ao mesmo tempo outro passou a poucos dedos da direita da criminosa. Esta, demonstrando uma desenvoltura própria de quem está acostumado a praticar delitos, sentindo-se acuada mudou imediatamente de estratégia e, ao invés de fazer uma previsível fuga pela marquise e pular no campo de futebol ao lado, demonstrando tanta coragem quanto imprudência, lançou-se num ousado e inesperado voo sobre seus detratores.
Admito que prendi a respiração quando vi a pequena criatura criminosa batendo as asas no ar, numa altura que equivale a aproximadamente 15 vezes seu tamanho, e antevi uma desastrosa e dolorosa colisão no chão. Para minha surpresa e admiração, a penosa atravessou voando com elegância o espaço equivalente à metade da rua e, não sei como explicar, ao tocar o chão a um passo de distância dos três jovens, instantaneamente virou para a direita e, inclinando o corpo para frente, avançou em passos rápidos em linha reta por debaixo da cerca de arame farpado que delimitava a rua e o campo de futebol ao lado da casa que seria invadida. O movimento ocorreu de forma tão eficiente e rápida que eu e os três justiceiros mal tivemos tempo de ver o que aconteceu, e a penosa criminosa já havia se misturado a um grupo de outras seis iguais, que aguardavam no limite do campo. Ato contínuo, todas andaram de forma rápida e elegante para longe da rua, alcançando o lado oposto do campo de futebol sem que nenhuma ao menos virasse a cabeça para trás até descerem e sumirem num barranco que delimitava o campo.
Tal foi a sincronia e rapidez da evasão coletiva que só me resta acreditar se tratar de uma quadrilha bem treinada que atua na área. Não houve perda de tempo ou mudança de rumo de nenhuma das participantes na fuga grupal. Isso não pode ser mero acaso!
Por tudo o que foi aqui narrado, sou forçado a admitir minha ingenuidade em acreditar que as pequenas cidades do interior de Minas Gerais são lugares seguros e tranquilos. Estes seres criminosos se misturam à paisagem e às pessoas, passando despercebidos para agir com impressionante eficiência e rapidez, evadindo-se depois furtivamente para cometer pequenos delitos num futuro próximo, contando com a omissão e até mesmo a simpatia de parte da população.

Não bastasse a ousadia dos fatos, há ainda um enorme agravante! TODA ESSA TRAMA OCORREU AO LADO DE UMA CAMINHONETE DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS que estava parada, com o motor desligado e com suas luzes vermelhas funcionando, enquanto o único policial do veículo, um juiz-forano na casa dos 40 e tantos anos, estava dentro de uma das residências abaixo da casa quase invadida. Impressiona o grau de ousadia e descaso destas criaturas criminosas nos dias de hoje! Não respeitam nem a presença da polícia! O que impede a total anarquia das convenções é a participação de cidadãos atentos e atuantes, como os aqui descritos. Estes heróis anônimos são a última linha de resistência nos separando da barbárie!

Sylvio Mário Bazote
Repórter policial incidental

Detalhe ampliado do flagrante ocasional feito por mim
Foto: Sylvio Bazote

O olhar frio e calculista desta penosa criminosa mostra bem sua natureza ousada!
Não sei se a criatura pretendia furtar um destes veículos e desistiu após perceber que foi fotografada com eles, ou se os veículos foram previamente deixados no local por ela e possíveis comparsas para auxiliar na fuga após a invasão que se seguiu à residência acima deste local, cuja porta de entrada é a de grades pretas, atrás dela.

Com a divulgação desta foto, espera-se que a população local identifique e detenha esta criminosa, pois diante da ousadia dos fatos aqui narrados, é certeza que outras invasões já ocorreram e voltarão a acontecer.

6 comentários:

  1. Ela corre sério risco de virar um assado ou uma canja.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ela se beneficia da legislação brasileira, que não prevê pena de morte. Acredito que, se capturada, a atual opção legislativa é mantê-la em cativeiro, cuidando para conter sua sagacidade criminosa

      Excluir
  2. Haha... muito bom seu texto, Sylvio! Divertido pela simultaneidade com o momento vivido no Brasil - de criminalidade, impunidade, incredulidade.
    Quem dera essas invasoras de penas fossem nossas maiores preocupações... rs
    Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Adorei Bazote! Como sempre, BRILHANTE em suas colocações!
    Ótima semana!

    ResponderExcluir
  4. Sylvio, respeito a sua perplexidade ante tal fato escandaloso, mas temos que lembrar que, como todo ser de penas, a suspeita está amparada pelo Código Penal e a sugestão do notável fotógrafo acima, conquanto justa, pode ser enquadrada no Artigo 155 do citado código e a pena (é muita pena!) vai de um a quatro anos de reclusão. Continue escrevendo esse tipo de história, pois, de repente, você pode acabar estrelando um programa policial-galináceo, tipo José Luiz DaPena, quem sabe?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente é uma pena que as penas judiciais no Brasil penalizem os honestos e levem a crer que o crime vale a pena!

      Excluir