Tem dias que a gente vive. Em
outros a gente sobrevive.
14 de outubro de 2014 está
entre estes últimos para a população de Juiz de Fora.
Fumaça de queimadas no centro de Juiz de Fora
14 de outubro de 2014 – 14:42
Foto: Sylvio Bazote
Após 4 dias de ar carregado
de fumaça por conta de sucessivos pequenos incêndios no entorno de Juiz de Fora
(MG), na tarde de 14 de outubro de 2014 o centro da cidade foi
tomado por uma densa fumaça, que encobriu a região por quase duas horas.
Moro numa rua situada na
parte alta do centro e, por conta disso, tenho uma visão privilegiadamente
ampla da área central de Juiz de Fora. Resido num apartamento arejado, onde
abrindo as janelas se formam duas correntes de vento que se cruzam em forma de
cruz, deixando o local naturalmente ventilado. Estas vantagens não foram
suficientes para garantir um ar de qualidade e nos últimos dias. Venho presenciando
do meu apartamento o ambiente durante os dias com um tom esbranquiçado e
sentindo um forte cheiro de queimada (e olha que meu olfato é muito ruim, sendo
que geralmente só consigo sentir cheiros muito fortes ou bem próximos!).
Percebi que na tarde de hoje,
quando a fumaça das queimadas se tornou mais densa e fiz a foto acima, poucos
pássaros voavam. Apesar de ouvir as maritacas nas proximidades, pousadas nos
galhos das árvores e quinas dos prédios, somente um urubu e um pombo se
aventuraram em voos curtos durante o considerável espaço de tempo em que observei a paisagem. Não sei se o ar
denso atrapalhava a visibilidade ou a respiração das aves, mas o fato é que
poucas se animaram a bater asas até que diminuísse a intensidade da nuvem de queimada.
No início das últimas noites,
presenciei toda a parte central da cidade tomada por uma baixa “névoa” de fumaça
e poeira, com aproximadamente 20 andares de altura. Por conta desta poluição
que se condensa próximo ao chão, a lua nascente atrás dos morros teve um forte tom
avermelhado e, na medida em que as horas passavam e a lua se distanciava da
linha do horizonte ao subir, a percepção que tinha da lua voltava a ser do branco
normal, enquanto a nuvem densa e avermelhada continuava sempre próxima ao solo.
Daí pude ter uma vaga ideia da intensidade das partículas de poeira e fumaça que
respiramos dia e noite nos últimos tempos...
Ao ar seco por falta de chuvas e à densa fumaça das queimadas, ainda se somam a não menos pesada e constante poluição causada pelos escapamentos dos veículos engarrafados entre 17:30 e 19:30 horas nos dias úteis.
Por tudo isso, a qualidade do
ar dentro do meu apartamento está muito ruim. Tenho sentido a respiração superficial
e rápida e tem sido necessário usar Neosoro (Olha a propaganda! $) duas a três
vezes por dia para diminuir a sensação de que uma parede de tijolos está se
formando dentro das narinas. Normalmente eu uso descongestionante nasal apenas
na hora de dormir e, apesar do meu empenho em não usá-lo, a progressiva falta
de ar acaba me vencendo. Tentei usar apenas soro, mas em menos de uma hora a crescente asfixia já começava a me incomodar. Pretendia fazer uma corrida hoje à noite perto de casa, mas a qualidade do ar permitiu apenas uma caminhada, mesmo assim movido mais pela vontade do que pela sensatez, que desaconselha qualquer exercício físico nestas condições.
No início da noite de hoje, depois de amadurecer a ideia, resolvi tomar uma atitude para ajudar meus pulmões e comprei uma máscara cirúrgica para usar dentro de casa, de modo a filtrar o ar que estou respirando. Continuo achando o fato um tanto quanto neurótico – coisa de japonês e Michael Jackson – e me olhando agora no espelho usando a máscara, me senti como os habitantes de certas regiões da China, Índia e Japão, que usam este aparato para diminuir a quantidade de poluição que respiram.
Apesar da sensação de estranhamento e abafamento no rosto, não quero mais deixar meus pulmões
enfrentarem sozinhos, durante dias seguidos, o forte time nocivo formado pela fumaça
das queimadas, acúmulo de poeira e catalizadores de carros em grande concentração.
Triste e constrangedor é
perceber como vamos nos adaptando e nivelando por baixo nossa qualidade de vida, a
ponto de usar máscara cirúrgica dentro de casa para preservar a saúde. Devido ao constrangimento social não vou
usar o incômodo acessório na rua (apesar da atual necessidade), e pretendo guardar a
máscara numa gaveta assim que as queimadas diminuírem aqui na região e o ar
voltar a estar saturado apenas pela poeira das obras e pelos escapamentos dos
veículos. Enquanto isso, cresce em mim a determinação em comprar um terreno numa
área periférica, de preferência na zona rural, e lá construir uma casa onde o ar dentro dela esteja livre de monóxido de carbono em grandes proporções e da poeira do trânsito e de intermináveis obras.
Luar avermelhado por densa nuvem de fumaça no centro de Juiz de Fora
14 de outubro de 2014 – 23:12
Foto: Sylvio Bazote
Enquanto digito esta postagem durante a noite, usando máscara cirúrgica e com um vento circulando no quarto por conta do ventilador de teto, o ar no centro de Juiz de Fora continua saturado pela "névoa" avermelhada com forte e enjoativo cheiro de mato queimado, que nesta noite não se limitou a algumas dezenas de metros de altitude e se mostra onipresente, fora e dentro dos imóveis. Escuto ao
longe o som do helicóptero da Polícia Civil carregando água para auxiliar os
bombeiros que, mesmo suspendendo as folgas dos militares e convocando todos os
bombeiros civis, não têm efetivo suficiente para combater tantos incêndios
simultâneos.
Apenas no final de semana dos
dias 11 e 12 de outubro ocorreram 33 incêndios no entorno de Juiz de Fora,
totalizando mais de 800 queimadas e incêndios em 2014. Para se ter uma noção do
aumento do nível dos incêndios, em todo ano de 2013 foram registradas 426
ocorrências na região.
Acessa.Com
Tempo seco provoca mais de
800 ocorrências de incêndio em Juiz de Fora
Vídeo da fumaça de queimadas encobrindo o centro de Juiz de Fora
Tarde de 14 de outubro de 2014.
As imagens não transmitem a real sensação da baixa visibilidade na ocasião.
Como nada é tão ruim que não possa piorar, a maior queimada do ano na região
resolveu acontecer no mesmo dia em que ocorreu o recorde de calor na cidade! A
reportagem abaixo afirma que a temperatura chegou a 36,2 ºC, mas quando passei
pelo relógio do Parque Halfeld no início da tarde, este marcava 38 ºC e,
com certeza, a sensação térmica no local ultrapassava facilmente os 41 ºC.
Acessa.Com
Temperatura bate recorde do
ano em Juiz de Fora: 36,2 ºC
Estudantes em Tóquio (Japão) usando máscaras para se proteger do Smog
Smog é um termo de origem inglesa, contração de "smoke" (fumaça) e "fog" (neblina ou nevoeiro). Foi analisado em Los Angeles (Estados Unidos) na década de 1940 e em Londres (Inglaterra), num acidente ambiental, matou 4 mil moradores entre os dias 5 e 9 de dezembro de 1952. O smog causa problemas respiratórios, principalmente em idosos e crianças. Na China e Japão, só para citar alguns exemplos, às vezes é necessário o uso de máscaras para andar pela cidade. O smog ocasiona tosse e asma, produzindo uma inflamação pulmonar que pode persistir por até 18 horas depois da exposição a ele. Suas partículas ultrafinas podem penetrar nos pulmões e interferir em suas funções, podendo ser fatal se inalado por longos períodos de tempo ou em grandes concentrações.
Tempos atrás coisas como
pequenas televisões na palma da mão, campainhas com câmeras de vídeo e
computadores minúsculos que coubessem no bolso pareciam uma ficção científica
que eu só veria daqui a muito tempo, mas hoje já fazem parte do cotidiano de um número cada vez maior de pessoas. Espero que andar na rua em meio a outras pessoas usando máscaras cirúrgicas não se torne uma realidade cotidiana
para mim, independentemente do motivo.
Por recuar desejando
tranquilidade e segurança, vamos nos conformando e anestesiando diante de sucessivas diminuições
na qualidade de vida; nos
contentando com cada vez menos, talvez por acreditar que o jeito é se adaptar a crescentes
restrições e prejuízos.
Não tenho agora uma boa
sugestão do que fazer para melhorar a atual situação, então fica aqui esta
postagem como um desabafo e alerta:
O constante e crescente desrespeito à natureza e uns aos outros está tornando cada vez mais desagradável e inviável uma vivência tranquila, saudável e produtiva!
O constante e crescente desrespeito à natureza e uns aos outros está tornando cada vez mais desagradável e inviável uma vivência tranquila, saudável e produtiva!
Vigilância e perseverança
para vivermos melhor!
Para ver e pensar:
Jardim de Ideias
A poluição nas cidades
MS Love
Casal usa máscaras de gás nas fotos de casamento como protesto
G1 Mundo
Poluição faz crianças usarem máscaras em celebração na Indonésia