domingo, 10 de agosto de 2014

Guerra Química

As armas químicas na Primeira Guerra Mundial

Cabo estadunidense em treinamento com a máscara contra gases

No laboratório de novas armas e táticas que se tornou a Primeira Guerra Mundial, a guerra química aconteceu como consequência do impasse surgido a partir da guerra estática e defensiva das trincheiras, onde os avanços da tecnologia militar fizeram com que o poder defensivo das tropas entrincheiradas se tornasse superior à capacidade ofensiva, impossibilitando vitórias decisivas dos atacantes.
Como ataques diretos dificilmente conseguiam conquistar o terreno onde o inimigo estava entrincheirado ou conseguiam a um grande custo de vidas, era necessário desenvolver novas estratégias e armas para obrigar a saída dos inimigos de suas trincheiras. Os ingleses desenvolveram os tanques secretamente, enquanto os alemães se dedicaram ao desenvolvimento do gás cloro (CI2) e do lança-chamas portátil.

O gás cloro foi proposto como arma pelo cientista alemão Fritz Harber, Prêmio Nobel de Química de 1912, e usado pela primeira vez às 17:30 horas de 22 de abril de 1915, pelos alemães, no início da Segunda Batalha de Ypres, na Bélgica.
Depois de um intenso bombardeio da artilharia, 168 toneladas de gás cloro foram lançadas de 5.730 cilindros situados próximos às trincheiras alemãs e, levados pelos ventos, atingiram os 15 mil franceses e canadenses que defendiam a pequena cidade belga de Ypres, matando 5 mil em dez minutos pelo efeito asfixiante do gás e incapacitando temporariamente 7 mil. Outros 2 mil militares foram capturados pelos alemães.
As primeiras vítimas do gás, os argelinos que lutavam com os franceses, recuaram cambaleantes da linha de combate, tossindo e apontando para a garganta, após serem atingidos pela nuvem cinza-esverdeada do gás cloro, que se transformava numa nuvem branca com nuances azuladas à medida que se deslocava pelas tropas que, em pânico, abandonaram as posições defensivas e recuaram desorganizadamente.
Com o uso do gás, a Alemanha infringia a Convenção Internacional de 1889, que proibia o emprego de substâncias tóxicas como armas militares.

Logo após este ataque alemão, a França e a Inglaterra começaram a desenvolver suas próprias armas químicas e máscaras de gás, que passaram a ser acessório obrigatório para os soldados desde então, sendo adaptadas também, em menor quantidade, para cavalos e cães.
Ataques de gás eram realizados muitas vezes em noites e manhãs com neblina, para disfarçar a chegada da nuvem tóxica. Os vigias de ambos os lados passaram a fazer seus turnos sempre equipados com máscaras e, se possível, próximos a gaiolas onde ficavam presos pássaros, camundongos e ratos, por conta de ataques com o gás fosgênio, que era incolor e inodor, impossível de ser percebido até que começasse a causar sufocação e queimadura nas mucosas. Diante de sinais de intenso sofrimento e morte dos animais nas gaiolas, o vigia acionava o sinal de ataque de gás e todos na área, inclusive as tropas de reserva em seus alojamentos, colocavam suas máscaras até que fosse verificado se o ar estava ou não contaminado.

Vigia alemão fazendo bolas de neve (para passar o tempo) durante rigoroso inverno

As armas químicas usadas na Primeira Guerra Mundial foram:
• Gases tóxicos (lançados primeiramente partindo de cilindros utilizando o vento para direcionar a nuvem química, a partir de 1916 ambos os lados passaram a utilizar projéteis de artilharia e morteiros, além de bombas dos aviões em pequena escala);
• Lança-chamas.

Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de armas químicas, mas estas fizeram a vida nas trincheiras ainda mais tensa e desagradável, tornando-se um dos mais temidos e lembrados horrores da guerra.

O uso de gás venenoso, realizado pelos principais participantes durante a Primeira Guerra Mundial, constituiu crime de guerra, violando as convenções e tratados da Declaração de Haia de 1899 relativo a gases asfixiantes, e a Convenção de Haia de 1907 sobre guerra terrestre, que proibiam o uso em guerras de projéteis contendo gás venenoso ou asfixiante. Como ambos os lados incorreram no mesmo crime, após a guerra nenhum político ou militar foi responsabilizado pelas mortes e danos causados aos civis e suas propriedades pelo uso de armas químicas. 

Parte dos 600 militares italianos mortos por ataque alemão com gás fosgênio
Caporetto ( Itália ) - 1917

Os gases tóxicos usados durante a Primeira Guerra Mundial

Os gases mais utilizados foram o lacrimogêneo, cloro, fosgênio e mostarda.

Gás Lacrimogêneo
Os efeitos da exposição ao gás lacrimogêneo são reações de lacrimação com temporária dificuldade de visualização, irritação das mucosas dos olhos, nariz, boca e pulmões, fazendo a pessoa chorar, tossir e espirrar.
Sensação de insuficiência respiratória, coceiras e dor de cabeça são os efeitos mais comuns. A exposição prolongada a altas concentrações do lacrimogêneo pode ser fatal.

Gás Cloro
O gás cloro é asfixiante, provocando irritação e ressecamento nas vias respiratórias, forçando os pulmões a produzir fluidos que matam a vítima por afogamento se inalado por tempo prolongado, sendo necessária a inalação de oxigênio líquido e até uma traqueotomia (corte na parte da frente do pescoço e na traqueia para permitir a chegada de ar aos pulmões) para normalizar a respiração – manobras impossíveis em grande escala nos campos de batalha.

Gás Fosgênio
As deficiências do gás de cloro foram superadas com a introdução do gás fosgênio, que foi elaborado por um grupo de químicos franceses liderados por Victor Grignard e usado pela primeira vez pela França em 1915. Incolor e com um odor comparado a "feno mofado", o gás fosgênio é difícil de detectar, tornando-se uma arma eficaz. Embora o fosgênio tenha sido usado às vezes por conta própria, foi mais utilizado misturado com um volume igual de cloro, que ajudava o fosgênio a espalhar-se de modo mais denso.
O fosgênio é um agente mais mortal do que o cloro. Causa fortes dores de cabeça, tosse, irritação nos olhos com lacrimação e temporária dificuldade de visualização, queimaduras e corrosão nas membranas do sistema respiratório, matando por asfixia devido ao inchaço interno das vias respiratórias se inalado em grande quantidade. 
Ele tinha uma potencial desvantagem na medida em que alguns dos sintomas de exposição levavam 24 horas ou mais para se manifestar. Isso significava que as vítimas eram inicialmente capazes de continuar a combater. A desvantagem inicial era compensada com um maior número de baixas após este período, uma vez que muitos não se protegiam com máscaras por não se sentirem ameaçados enquanto inalavam o gás sem perceber.

Gás Mostarda
O gás mais amplamente relatado da Primeira Guerra Mundial foi o gás mostarda, vesicante (que faz nascer bolhas na pele) inventado pelos ingleses na década de 1820 e introduzido na guerra pela Alemanha em julho de 1917, antes da Terceira Batalha de Ypres, na Bélgica. Os alemães marcaram seus projéteis de artilharia com amarelo para o gás mostarda e verde para o cloro e fosgênio.
O gás mostarda não é um agente assassinato muito eficaz (embora seja fatal em doses elevadas), mas era usado para poluir o campo de batalha e diminuir a eficiência do inimigo. Lançado em projéteis de artilharia e às vezes em bombardeios aéreos, por ser mais pesado do que o ar, o gás mostarda se estabelece no chão como um líquido oleoso e permanece ativo durante vários dias ou semanas, chegando a meses, dependendo das condições do tempo.
O receio ao gás mostarda era grande porque, em grandes concentrações, ele era capaz de atravessar o tecidos das fardas e atingir a pele. Tal situação se agravava em ataques durante a chuva, pois o tecido molhado absorvia mais rapidamente e mantinha impregnado por mais tempo os agentes químicos do gás. A melhor forma de proteger a pele era cobrindo as mãos com luvas e o corpo com o capote para chuva, nem sempre disponíveis por estarem longe nos alojamentos, enquanto se estava como vigia nas trincheiras da frente. Mesmo quando era possível colocar tais roupas, havia o inconveniente dos longos períodos necessários para livrar a roupa dos resíduos, entre diversas lavagens e períodos de exposição ao sol para tirar a química do tecido. Neste meio tempo, muitas vezes não havia luvas e capotes adicionais para todos (já que o número de roupas contaminadas era de centenas ou milhares de pessoas a cada ataque químico) e o militar tinha que enfrentar as baixas temperaturas do inverno (com neve) sem luvas e as chuvas sem um capote ou tendo um emprestado somente durante os períodos de vigia.
A natureza poluente do gás mostarda nem sempre o tornava adequado para apoiar um ataque de infantaria, pois as tropas que o lançavam também ficavam expostas aos prolongados efeitos do gás em suas roupas quando avançavam.
O gás mostarda causa vômitos, cegueira temporária devido a queimaduras da membrana ocular e a pele das vítimas cria bolhas de queimadura. O gás causa hemorragia interna e externa, queimando a membrana mucosa, atacando os brônquios e o revestimento das vias respiratórias, provocando feridas e inchaço. Vítimas de exposição ao gás mostarda levavam quatro ou cinco semanas para morrer, ao longo de um doloroso processo de insuficiência respiratória. As queimaduras nos olhos também eram muito dolorosas.

A enfermeira inglesa Vera Mary Brittain descreveu o envenenamento por gás mostarda: "Eu gostaria que as pessoas que falam sobre ganhar esta guerra custe o que custar pudessem ver os soldados sofrendo de envenenamento por gás mostarda! Grandes bolhas cor de mostarda surgem ao longo do corpo e os olhos dos cegos ficam com as pálpebras pegajosas e presas juntas. Homens lutando para respirar, com as vozes de um mero sussurro, dizendo que suas gargantas estão fechando e eles vão engasgar e morrer sem ar".

Os franceses usaram Cianeto de Hidrogênio e Ácido Prússico, conhecidos como “gases do sangue” porque quando inalados suas moléculas se unem à hemoglobina, impossibilitando que o oxigênio seja transportado para as células do corpo, cansando morte por falta de oxigênio no cérebro.

Em 1918 os Estados Unidos começaram a produção em grande escala de um gás vesicante (causa bolhas na pele) melhorado conhecido como Lewisite, para uso em uma ofensiva planejada para o início de 1919. Até o momento do armistício, em 11 de novembro de 1918, uma fábrica perto de Willoughby (Ohio, EUA) estava produzindo 10 toneladas por dia da substância, para um total de cerca de 150 toneladas. 
Em contato com a pele, o gás lewisite provoca grandes bolhas dolorosas, especialmente nas mãos e pé, costas e região genital. Ele também atua como um irritante para o pulmão, causando inchaço tóxico, inflamação e destruição do revestimento das vias aéreas, causando o desprendimento de seu interior, tornando difícil a respiração. Este gás é um veneno sistêmico porque a absorção de arsênico através da pele provoca inchaço pulmonar, diarreia, agitação, fraqueza, temperatura abaixo do normal e pressão arterial baixa. A vítima sente os seus efeitos imediatamente e pode ser fatal em menos de dez minutos, quando inalado em altas concentrações.
O lewisite pode ser lançado na forma de vapor, aerossol ou líquida, sendo mais prejudicial em condições de baixa temperatura ou de baixa umidade. Seus efeitos são persistentes, com duração de até oito horas em ambiente ensolarado e ainda mais prolongado em climas frios e secos. O vapor do veneno é cerca de sete vezes mais pesado que o ar, penetrando pelo chão em trincheiras, abrigos subterrâneos e esgoto.

Soldado canadense com queimaduras de gás mostarda

Agentes químicos utilizados na 1ª Guerra Mundial

Nome
Efeitos
Usado por
Primeiro uso
Observações
Cloro
Corrosivo e tóxico.
Irrita o sistema respiratório.
Ambos
1914
Primeiro agente utilizado.
Brometo de Xilila
(Brometo de metilbenzeno).
Altamente tóxico, irritante e lacrimogêneo.
Ambos
1915
Primeiro grande uso pelos alemães,
na batalha de Bolimów (Rússia).
Fosgênio
Venenoso e corrosivo. Altamente tóxico, interrompe as trocas gasosas alveolares e irrita pele e membranas.
Ambos
1915
Gás incolor e quase inodoro, demora para agir.
Brometo de benzila
Fortemente lacrimogêneo. 
Irrita pele e mucosas.
Eixo
1915
Líquido incolor.
Clorometil cloroformato
Lacrimogêneo, causa cegueira temporária. Irritante também à pele e aos pulmões.
Ambos
1915
Líquido incolor.
Triclorometil cloroformato
(Difosgênio)
Altamente irritante. Causa queimaduras.
Ambos
1916
Líquido incolor. Seus vapores destruíam os filtros das máscaras da época.
Cloropicrina
Altamente tóxico e lacrimogêneo. Concentrações maiores causam edema pulmonar.
Ambos
1916
Inicialmente foi devastador para os aliados.
Tetracloreto de estanho
Causa queimaduras. Altamente irritante, mas não letal.
Aliados
1916
Líquido incolor, forma fumaça em contato com o ar.
Lodoacetato de etila.
Tóxico, corrosivo e lacrimogênio.
Aliados
1916
Líquido.
Bromoacetona
Tóxico e lacrimogêneo.
Ambos
1916
-
Monobromometil etil cetona
Irritante e lacrimogêneo.
Eixo
1916
-
Acreolina
Tóxico, lacrimogêneo e fortemente irritante aos olhos, pele e narinas.
Aliados
1916
Líquido incolor com odor acre e desagradável.
Cianeto de hidrogênio (Ácido Prússico)
Venenoso e asfixiante. Bloqueia uma enzima mitocondrial e, consequentemente, a respiração celular. Uma concentração de 300 mg/m3 no ar mata um humano em 10 min.
Aliados
1916
Também foi usado nos campos de extermínio nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Sulfeto de hidrogênio (Hidrogênio sulfurado)
Venenoso, ataca diferentes sistemas do corpo humano, apesar de afetar o sistema nervoso com maior intensidade. Toxicidade comparável à do Cianeto de hidrogênio.
Aliados
1916
Gás incolor inflamável, com odor característico de ovos podres.
Difenilaminoclorarsina (DM)
Causa irritação ao trato respiratório superior (faz a vítima espirrar). Efeito prolongado.
Eixo
1917
Cristais amarelos ou esverdeados. Possui arsênio na composição. Usada em espécies de "velas" que, quando acesas, espantavam o inimigo.
A-clorotolueno (Cloreto de benzila)
Irritante e lacrimogêneo. Volátil, atinge facilmente as mucosas, onde se hidroliza produzindo ácido clorídrico.
Eixo
1917
Líquido incolor altamente volátil e reativo.
Gás mostarda - Sulfeto de bis (2-cloroetil)
Fortemente vesicante (causa irritação e dor extremas a mucosas, à pele e aos olhos, produzindo bolhas). Irrita os pulmões. Mutagênico e cancerígeno.
Ambos
1917
Coloração amarelo-marrom (semelhante a dos grãos de mostarda).
Éter diclorometílico
Irritante, embaça a visão. Exposição prolongada pode causar câncer de pulmão.
Eixo
1918
Líquido incolor.
Etildicloroarsina
Altamente tóxico e vesicante, causa bolhas.
Eixo
1918
Líquido incolor volátil. Outro derivado do arsênio.
N-Etilcarbazol
Irritante da pele e dos olhos.
Eixo
1918
-

Fonte do quadro:
Aspirações Químicas
Armas Químicas: 1ª Guerra Mundial

Obs.: Países que usaram armas químicas:
Eixo: Alemanha e Áustria-Hungria.
Aliados: França, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.

Tropa estadunidense sob ataque de gás

Sistemas de distribuição do gás

Cilindros
O primeiro sistema utilizado para a liberação em massa de gás usava cilindros de gás com vento favorável para levar o produto às trincheiras do inimigo. A principal vantagem deste método é que era relativamente simples e, em condições atmosféricas adequadas, produzida uma nuvem concentrada capaz de superar as defesas das máscaras de gás.
As desvantagens de lançamentos a partir de cilindros eram inúmeras. Em primeiro lugar, a entrega dependia do vento, podendo a nuvem tóxica ser levada para longe do inimigo ou retornar contra a própria tropa. Nuvens de gás eram visíveis, permitindo tempo ao inimigo para proteger-se. As nuvens de gás tinham penetração limitada, sendo capazes de afetar apenas as trincheiras da linha de frente antes de se dissipar. Havia sempre cilindros que apresentavam alguma obstrução na hora de liberar o gás, diminuindo a capacidade da ofensiva e oferecendo transtornos logísticos posteriores para sua identificação e manuseio. Os cilindros tinham que ser colocados em frente do sistema de suas próprias trincheiras para lançar o gás sobre o alvo, oferecendo risco de serem atingidos por bombardeamento inimigo, rompendo prematuramente seu conteúdo sobre a própria tropa. Cilindros com vazamento poderiam emitir um fio indicador de gás que atraiam o fogo da artilharia inimiga.
Outra desvantagem era o grande volume e peso a serem transportados. Um cilindro de cloro britânico pesava 86 kg, dos quais apenas 27 kg era o gás de cloro, sendo necessário dois homens para seu transporte. Gás fosgênio foi introduzido mais tarde em cilindros que pesavam apenas 23 kg cada.

Ataque de gás alemão contra russos na Frente Oriental
Fotografia feita por aviador russo ( 31 de dezembro de 1915 )

Artilharia
Os ataques com gás através da artilharia superaram muitos dos riscos de lidar com o gás em cilindros. Projéteis de artilharia com gás eram independentes do vento e aumentaram o alcance efetivo de gás, tornando vulnerável qualquer lugar dentro do alcance das armas ao longo de dezenas de quilômetros, e não mais apenas as posições mais próximas ao inimigo. 
O gás da artilharia podia ser entregue sem aviso, especialmente o fosgênio, incolor e quase inodoro. Há inúmeros relatos de bombas de gás colidindo no chão com um som seco em vez de explodir que foram inicialmente descartadas como tiros falhados ou estilhaço de artilharia, dando tempo para o gás agir antes que os militares percebessem ser uma arma química e tomassem as devidas precauções.
A principal deficiência do ataque com gás através de artilharia foi a dificuldade de obtenção de uma concentração capaz de matar. Cada projétil era capaz de levar apenas uma pequena carga de gás e uma área tinha que ser submetida a um bombardeamento de saturação com centenas de bombas para produzir uma nuvem com capacidade de causar grandes danos. O gás mostarda, no entanto, não tinha necessidade de formar uma nuvem concentrada uma vez que impregnava o solo com uma camada química e, portanto, a artilharia foi o veículo ideal para a entrega deste poluente no campo de batalha.

Ataque da artilharia alemã contra tropas francesas
Trincheiras do Fort de la Pompelle - Reims ( França )

Projetor de gás
A solução para criar uma concentração letal de gás que não fosse liberada a partir de cilindros posicionados próximos às próprias posições foi o projetor de gás, um tubo fixado numa escavação na terra ou numa estrutura de argamassa. Dentro do tubo era inserida uma pequena carga explosiva para projetar todo o cilindro com gás como um míssil sobre o inimigo.  Ao ser projetado, uma pequena corda fixa segurava o lacre do cilindro, que liberava a válvula com o gás durante o voo, caindo em terreno inimigo já liberando seu conteúdo.
Ambos os lados desenvolveram diferentes tipos de projetores de gás. O capitão britânico William Howard Livens criou em 1917 um dispositivo simples e eficiente: um tubo com 25 cm de diâmetro afundado no chão no ângulo desejado, onde um propulsor era aceso por um sinal elétrico, disparando por até 1900 metros o cilindro contendo 14 ou 18 kg de gás. Com uma bateria de diversos destes projetores disparando simultaneamente, uma densa concentração de gás podia ser conseguida. Os projetores Livens foram usados pelos ingleses pela primeira vez em Arras, na França, em 4 de abril de 1917. Em 31 de março de 1918 os britânicos realizaram seu maior ataque com projetores de gás, lançando 3.728 cilindros sobre os alemães em Lens, na França.
Os alemães e franceses também desenvolveram seus modelos de projetores de cilindros com gás.

Ingleses carregando um Projetor Livens para cilindros de gás

A evolução da guerra química durante a 1ª Guerra Mundial

Ao longo da Primeira Guerra Mundial, diferentes tipos de gases foram pesquisados e usados pelos alemães e aliados. Foram utilizados para desmoralizar, ferir e matar os inimigos. Em alguns casos era mais interessante ferir grande quantidade de combatentes do que matá-los, pois os cuidados com os feridos implicava na mobilização de maior quantidade de recursos materiais e humanos do que o necessário com os mortos, desgastando a logística inimiga. Além das queimaduras, imagine as consequências em um complexo de trincheiras atingido por gases que causassem vômito e diarreia em centenas de pessoas simultaneamente...

Inicialmente liberados a partir de cilindros localizados à frente das próprias trincheiras, utilizando o vento para levar os gases tóxicos em direção ao inimigo, os produtos químicos foram introduzidos nos projéteis de artilharia e bombas da aviação para garantir ataques mais oportunos e localizados. Apesar de causar menos baixas, por ter uma concentração menor do que as nuvens lançadas dos cilindros, o uso simultâneo ou alternado de bombardeio convencional e químico causava impacto no moral da tropa atacada, com perda de tempo na colocação dos equipamentos de proteção e diminuição da capacidade de visão e comunicação entre os combatentes usando máscaras contra gás, além do tempo gasto após o ataque para verificação da qualidade do ar e descontaminação dos locais atingidos, diminuindo o tempo de descanso da tropa. Bastava algumas poucas bombas com produtos químicos em meio a dezenas de explosões convencionais para iniciar um longo e desgastante protocolo de procedimentos de proteção. Usando esta estratégia com frequência conseguia-se aumentar o estresse emocional e físico no inimigo em determinadas regiões. 

Cilindros de gás lançados sobre o inimigo com projetores permitiram fortes concentrações químicas sem a necessidade da dependência do vento e sem o alarde de um ataque de artilharia, por isso foram realizados muitos ataques químicos deste tipo durante as madrugadas, para contaminar o maior número possível de pessoas dormindo antes que o alarme de ataque de gás fosse acionado. 
Tornou-se comum usar mais de um tipo de produto químico em um mesmo ataque, para misturar os efeitos e causar diferentes agressões ao organismo, com o objetivo de dificultar o diagnóstico e posterior tratamento das vítimas.

Alemães improvisam máscara de gás para cavalo 

O gás cloro mostrou-se menos eficaz como arma do que os alemães esperavam, especialmente depois que foram introduzidas contramedidas simples. Imediatamente após o uso de gás de cloro pelos alemães, instruções foram enviadas para as tropas britânicas e francesas para prender lenços ou panos molhados sobre suas bocas.
Tanto os alemães quanto os aliados inicialmente passaram a ter em seu equipamento improvisadas proteções de pequenas compressas de gaze, algodão ou flanela e garrafas de bicarbonato para embeber estas compressas e levá-las à boca.
Pesquisas desenvolveram rudimentares máscaras de proteção e foram testadas constantes variações de modelos e produtos químicos para filtro, tornando as máscaras cada vez mais especializadas e eficientes, ao ponto de praticamente anular as vantagens da guerra química.

Alemães com diferentes modelos de máscaras contra gás 

Com a proteção de máscaras continuamente aprimoradas e prevenção através de eficientes produtos químicos e estratégias, o gás nunca repetiu o dramático sucesso de 22 de abril de 1915, no entanto, se tornou uma arma que, combinada com a artilharia convencional, foi usada para apoiar a maioria dos grandes ataques nas fases posteriores da guerra. Gás foi empregado principalmente na estática Frente Ocidental, onde o confinado sistema de trincheiras era ideal para alcançar uma concentração eficaz. A Alemanha também usou gás contra a Rússia na Frente Oriental, onde a falta de medidas eficazes resultou na morte de mais de 56.000 russos, enquanto a Inglaterra usou gás na Palestina durante a Segunda Batalha de Gaza. A Rússia começou a fabricação de gás de cloro em 1916, produzindo também fosgênio no final do mesmo ano, no entanto, a maior parte do gás fabricado nunca foi usada. 
O exército britânico acreditava que era necessário o uso de gás, mas só usou gás mostarda em novembro de 1917, em Cambrai (norte da França), utilizando um estoque alemão de projéteis de artilharia com gás mostarda capturado. Os ingleses levaram mais de um ano para desenvolver a seu próprio gás mostarda, que foi usado pela primeira vez em setembro de 1918, durante a quebra da Linha Hindenburg na Ofensiva dos Cem Dias.

Entre 1917 e 1918 os aliados realizaram mais ataques com gás do que os alemães, por causa de um acentuado aumento na produção de gás das nações aliadas. A Alemanha investiu na criação de novos gases para uso no campo de batalha, mas não foi capaz de acompanhar o ritmo da quantidade dos aliados na produção de gases mais baratos. A entrada dos Estados Unidos na guerra permitiu aos aliados aumentar a produção de gás mostarda muito mais do que a Alemanha. Além disso, o predominante vento na Frente Ocidental era do oeste, o que significava que os aliados tinham condições favoráveis com mais frequência para uma liberação de gás do que os alemães.

Cão e cabo francês usando máscara para gás - 1916
( Ao fundo retirada de vítima de ataque químico )

Principais confrontos com uso de armas químicas durante a Primeira Guerra Mundial

 Agosto de 1914 – Os franceses empregam gás pela primeira vez durante a Primeira Guerra Mundial usando gás lacrimogêneo (Bromoacetato de etilo) em projéteis de artilharia. A quantidade usada foi tão pequena que o produto nem foi notado pelos alemães.
 Outubro de 1914 – Os alemães lançam projéteis de fragmentação de artilharia com gás lacrimogêneo contra os ingleses em Neuve Chapelle, na França. A concentração usada foi baixa e os efeitos mal foram notados pelos ingleses.
 31 de janeiro de 1915 – A Alemanha usa gás em larga escala como arma pela primeira vez ao disparar 18 mil projéteis de artilharia contendo gás lacrimogêneo líquido (Brometo xylyl) em posições russas no rio Rawka, a oeste de Varsóvia, durante a Batalha de Bolimov. Em vez de vaporizar, o líquido congelou devido ao frio e causou poucos efeitos sobre os russos.
 22 de abril de 1915 – A Alemanha lança 168 toneladas de gás cloro a partir de 5.730 cilindros contra franceses e canadenses na cidade belga de Ypres. O gás se arrastou lentamente em direção às trincheiras aliadas com a ajuda de um vento suave, matando 5 mil homens em dez minutos e capturando 2 mil. 7 mil homens são incapacitando temporariamente e abandonam suas trincheiras, abrindo uma lacuna de 7 Km nas defesas aliadas, mas o ataque alemão é detido pelos franceses.
Ainda durante a Segunda Batalha de Ypres, os alemães usam gás cloro, em menor quantidade, em mais três ocasiões: em 24 de abril contra a 1 ª Divisão canadense, em 02 de maio contra a 3ª Brigada canadense e em 5 de maio contra os britânicos no monte Hill 60. As baixas e efeitos são menos impactantes, não influenciando no resultado das batalhas.
 30 de julho de 1915 – Os alemães usam lança-chamas pela primeira vez na guerra num ataque conjunto com a infantaria contra trincheiras inglesas em Hoogles (Bélgica), aproveitando-se do fato da distância entre as trincheiras na região serem pequenas. Muitos britânicos saem em pânico das trincheiras e são mortos por tiros de fuzil e metralhadora, mas os ingleses resistem e não há conquista ou perda de terreno.
 06 de agosto de 1915 – Tropas alemãs usam gás cloro contra tropas russas que defendem a Fortaleza de Osowiec. Reforços russos vindos da retaguarda juntam-se aos defensores sobreviventes e realizam contra-ataque, mantendo a fortaleza.
 Agosto de 1915 – A Alemanha lança 220 toneladas gás fosgênio a partir de cilindros contra os russos, em dois ataques à região de Rawka, ao sul de Varsóvia. No primeiro ataque os alemães abrem uma brecha de 12 Km nas defesas russas, mas recuam diante de contra-ataque. No segundo ataque o vento muda de direção, jogando a nuvem tóxica contra os alemães. Os alemães atacavam usando máscaras de gás e não sofreram efeitos químicos, mas tiveram a visão prejudicada pela nuvem tóxica e os russos, não afetados pelo gás, realizam eficiente defesa.
O exército russo tem 9.000 vítimas, com mais de 1.000 mortes. A Rússia organiza equipe para estudar a utilização de gás venenoso em seus projéteis de artilharia.
 25 de setembro de 1915 – O primeiro uso do gás pelos britânicos ocorre na Batalha de Loos e foi um desastre. 140 toneladas de gás de cloro foram utilizadas dispostas em 5.100 cilindros e o ataque dependia do vento favorável. Na ocasião o vento mostrou-se inconstante e o gás lançado ou permaneceu na Terra de Ninguém ou, em alguns lugares, soprou de volta para as trincheiras britânicas.
Além disso, vários cilindros não liberaram o gás porque chaves de viragem erradas foram enviadas com eles, impossibilitando seu acionamento. Um bombardeio alemão de artilharia, realizado como retaliação após o ataque com gás, atingiu alguns desses cilindros cheios não utilizados, liberando mais gás entre as tropas britânicas. Agravando a situação, as primitivas máscaras de gás feitas com flanela e distribuídas aos britânicos eram quentes e os pequenos visores para olhos embaçaram muito. Sem visibilidade e sufocados, muitos retiraram as máscaras para obter um pouco de ar fresco ou para tentar melhorar a visibilidade das viseiras, e tiveram a pele do rosto queimada pelo gás.
 19 de dezembro de 1915 – A Alemanha introduz na guerra o gás fosgênio, lançando 88 toneladas de gás fosgênio combinado com cloro a partir de cilindros contra as tropas britânicas em Wieltje, perto de Ypres, na Bélgica. 1.069 militares são vitimados causando 69 mortes. O número de mortes foi baixo devido ao fato das máscaras contra gás britânicas estarem impregnadas com Fenolato de sódio, produto eficaz contra o fosgênio. A partir de janeiro de 1916 as máscaras britânicas seriam impregnadas com Hexamine fenato e Hexametilenotetramina (Urotropina) para melhorar a proteção contra o fosgênio.
 21 de fevereiro de 1916 - Os alemães utilizam o lança-chamas durante o primeiro dia da Batalha de Verdun para atacar as trincheiras francesas que defendiam a cidade de Verdun. Novas tropas especiais (Stosstruppen) seguiam com lança-chamas acompanhados pela infantaria equipada com fuzis e granadas de mão para atacar os aliados entrincheirados, depois destes serem atingidos durante 8 horas por cerca de 1 milhão de projéteis de artilharia numa frente de 30 km de comprimento por 5 km de largura. A tática de choque que combinou artilharia e infantaria em larga escala apanhou de surpresa os franceses, permitindo que as tropas de choque alemãs avançassem rapidamente, fazendo com que os franceses perdessem muito terreno no início da batalha. Embora os poucos sobreviventes franceses tenham continuado a resistir em todos os lados, no final do primeiro dia as tropas de assalto alemãs tinham sofrido apenas 600 baixas contra milhares entre os aliados.
 22 de junho de 1916 – Os alemães bombardeiam com cerca de 200 mil projéteis de artilharia com gás a região do Forte Froideterre (norte da França), durante a Batalha de Verdun, mas os franceses resistem e realizam contra-ataque com reforços vindos de Paris.
 26 de junho de 1916 – Os ingleses bombardeiam com gás cloro em projéteis de artilharia os alemães em Fricourt, Beaumont e Serre, na região do rio Somme, na França.
 01 de julho de 1916 – Os ingleses usam grandes lança-chamas (Livens) contra os alemães na Batalha do Somme e com eles conseguem vantagem para conquistar trincheiras inimigas.
 10 de julho de 1916 – Os alemães tentam incapacitar as tropas de artilharia francesas no Forte Souville com um ataque com gás disfogênio, lançando mais de 60 mil projéteis de artilharia. O ataque surtiu pouco efeito, pois os franceses tinham-se prevenido, no início de 1916, com máscaras de gás M2, próprias para este tipo de gás.
 22 de julho de 1916 – Os alemães lançam 116 mil projéteis de artilharia com gás fosgênio sobre posições entrincheiradas francesas na Batalha de Verdun, causando 1.600 mortes como consequência direta do gás.
 30 de julho de 1916 – Os alemães atacam com lança-chamas as trincheiras inglesas que defendiam a aldeia de Hooge, na Bélgica, conseguindo sucessos iniciais que foram perdidos diante de intensa luta com reforços britânicos vindos da retaguarda.
• 01 de janeiro de 1917 – Os franceses atacam as trincheiras alemãs em Flanders (Bélgica) com gás e lança-chamas, mas não conseguem resultados expressivos. 
• 04 de abril de 1917 – Os ingleses usam pela primeira vez os projetores Livens para cilindros de gás contra os alemães entrincheirados na cidade francesa de Arras.
 09 de abril de 1917 – Os ingleses atacam os alemães na cidade francesa de Arras, com gás em projéteis de artilharia juntamente com barragem de artilharia convencional, para manter os alemães em suas trincheiras durante o avanço das tropas britânicas. Também foram disparados projéteis com gás contra os cavalos das baterias e contra as colunas de fornecimento de provisões e munições da artilharia alemã.
 12 de julho de 1917 – Os alemães introduzem na guerra o gás mostarda contra os ingleses  e australianos nas proximidades de Ypres (Bélgica).
 24 de outubro de 1917 – Em ataque conjunto com os austro-húngaros, os alemães atacam os italianos em Caporetto (norte da Itália) com lançadores de cilindros de gás fosgênio misturado com cloro, sufocando as tropas entrincheiradas no vale da cidade italiana de Plezzo em uma densa nuvem tóxica que superou a capacidade de filtragem das máscaras italianas. 600 italianos morreram no local por conta do gás e o restante da tropa abandonou armamentos pesados e mantimentos numa fuga desorganizada da região. Outros 4 mil italianos expostos ao gás deste ataque foram vitimados nos dias seguintes, entre mortos e doentes.
• 31 de março de 1918 – Os britânicos realizaram seu maior ataque com projetores de gás, lançando 3.728 cilindros sobre os alemães em Lens, na França.
• Agosto a novembro de 1918 – Durante a Ofensiva dos Cem Dias, apoiados por grande número de tanques e aviões, os aliados realizam sucessivos ataques contra os alemães, usando constantemente gás e lança-chamas em conjunto com armas convencionais, e conseguem diversas vitórias, fazendo os alemães recuarem e se renderem em 11 de novembro de 1918, terminando com a 1ª Guerra Mundial.

Fonte:
Wikipédia
As armas químicas na primeira guerra Mundial

Obs.: “A História é escrita pelos vencedores” (George Orwell), que omitem e distorcem as informações conforme suas conveniências! Foi difícil encontrar detalhes sobre o uso de gás por parte dos aliados na Primeira Guerra Mundial, por isso algumas ocasiões e informações mais detalhadas não constam no resumo acima.

Trincheira britânica após ataque alemão com gás fosgênio
Fromelles ( norte da França ) - 19 de julho de 1916

Algumas estatísticas sobre a guerra química na Primeira Guerra Mundial

Cerca de 36.600 toneladas de fosgênio foram fabricados durante a guerra, de um total de 190.000 toneladas para todas as armas químicas, tornando-se o segundo gás mais fabricado, atrás apenas do cloro (93,8 mil toneladas):
Quantidade de gás fosgênio produzido na Primeira Guerra Mundial:
- Alemanha: 18.100 toneladas;
- França: 15.700 toneladas;
- Reino Unido: 1.400 toneladas (embora eles também tenham usado estoques franceses);
- Estados Unidos: 1.400 toneladas (embora eles também tenham usado estoques franceses);
Embora o fosgênio nunca tenha ganho tanta divulgação quanto o gás mostarda, matou muito mais pessoas, sendo responsável por cerca de 85% das aproximadas 91 mil mortes causadas por armas químicas durante a 1ª Guerra Mundial.

A contribuição das armas de gás para os números totais de vítimas foi relativamente pequena. Registros britânicos mantidos com precisão a partir de 1916 mostram que apenas 3% das vítimas de gás foram fatais, 2% ficaram permanentemente inválidos e 70% estavam aptos para o serviço novamente dentro de seis semanas.
Mesmo assim, a morte lenta e dolorosa causada pelo gás e a cegueira causada principalmente pelo gás cloro e gás mostarda causavam constante estresse entre os combatentes. 

Número de vítimas por gás

Nação
Total de atingidos
Vítimas fatais
Rússia
475.340
56.000
Alemanha
200.000
9.000
Grã-Bretanha (incluindo o Canadá)
188.706
8.109
França
190.000
8.000
Itália
60.000
4.627
Áustria-Hungria
100.000
3.000
Estados Unidos
72.807
1.462
Outros países
10.000
1.000
Total
1.296.853
91.198

Fonte:
Terra.Com
Primeira Guerra Mundial: o uso de gás como arma química em batalhas

Obs:
1. O item "Outros países" é referente aos combatentes das colônias da Grã-Bretanha e França.
2. Os números aqui apresentados são relativos ao militares, não contabilizando civis das áreas rurais e urbanas próximas aos locais de combate.

Militares da 55ª Divisão Britânica cegos por gás
10 de abril de 1918

Civis e animais mortos por gás

As vítimas das nuvens de gases tóxicos não se limitavam às frentes de batalhas. As cidades próximas eram atingidas pelos ventos que sopravam os gases venenosos. Civis raramente tinham um sistema de alerta (sirenes ou sinos) para avisar sobre o perigo e, quando os possuíam, muitas vezes não tinham acesso às máscaras de gás eficientes ou em quantidade suficiente. Estima-se que entre 100 e 260 mil civis morreram devido aos efeitos de gases tóxicos durante o conflito e dezenas de milhares (juntamente com os militares) morreram de cicatrizes nos pulmões, danos ao cérebro e à pele nos anos seguintes ao fim do conflito. Comandantes de ambos os lados sabiam que as armas químicas poderiam causar danos graves a civis, com o vento levando os gases venenosos à áreas urbanas próximas, mas ainda assim continuaram a usá-las durante a guerra. O marechal de campo britânico Douglas Haig escreveu em seu diário: "Meus subordinados e eu estávamos cientes de que tal arma poderia causar danos às mulheres e crianças que vivem em cidades próximas, pois ventos fortes são comuns na frente de batalha, no entanto, como a arma era dirigida contra o inimigo, nenhum de nós estava muito preocupado com os efeitos colaterais”.

Milhares de cavalos, na frente de batalha e nas áreas rurais e urbanas próximas, também morreram por conta dos efeitos dos gases tóxicos, bem como criações de gado e ovelhas, além de animais domésticos como cães e gatos. Também foi considerável o número de pássaros e animais silvestres mortos pelas nuvens tóxicas. Os corpos dos animais silvestres normalmente nem eram enterrados ou seu número contabilizado em meio à luta pela sobrevivência nas frentes de batalha e no esforço dos civis para se manterem em segurança em meio a uma rotina de privações e medo.

Os lança-chamas vitimaram apenas os militares. Após a guerra, as deformações e mutilações dos veteranos que exigiram mais cirurgias e próteses foram causadas em sua maioria por estilhaços e explosões de artilharia, seguidos pelas queimaduras dos lança-chamas. 

Mãe e filha com máscaras para gás
Interior da França - 1918
Não havendo máscaras menores para crianças, estas usavam as de adultos, 
por isso as viseiras dos olhos estão na altura do pescoço da menina. 
Bastante desagradável a situação de estar sob ataque, 
abafado dentro de uma máscara e sem conseguir enxergar o que está acontecendo em volta!
Imagem: http://www.rusmea.com/2014/06/a-frente-ocidental-parte-2-primeira.html 

Cavalo alemão usando máscara para gás
1915

O lança-chamas

O lança-chamas (Flammenwerfer em alemão) causou terror aos soldados franceses e britânicos, quando utilizado pelos alemães em tropas especialmente treinadas para invasão das trincheiras em pequenos grupos. O exército alemão testou dois modelos de lança-chamas: um grande e um pequeno, ambos desenvolvidos por Richard Fiedler. O menor e mais leve (chamado Kleinflammenwerfer) foi projetado para uso portátil e era composto por duas seções: o tubo de queima e o tanque de combustível. Seu acionamento se dava usando o ar comprimido e dióxido de carbono ou nitrogênio sendo expelido diante de um fluxo de óleo queimado com um alcance de 18 metros. O segundo, maior (chamado Grossflammenwerfer) trabalhou na mesma linha, mas não foi planejado para o transporte pessoal. Era uma unidade estacionária e seu alcance máximo era o dobro do modelo menor, podendo sustentar suas chamas por até quarenta segundos.
O uso inicial na guerra foi contra as trincheiras inglesas em Hoogles (Bélgica), em 30 de julho de 1915. O lança-chamas tendia a ser utilizado em grupos de seis durante a batalha, cada um com uma guarnição de dois homens – um carregando o tanque de combustível preso em suas costas enquanto o outro era responsável por operar a mangueira direcionando o fluxo das chamas. Eram usados para eliminar a linha de frente dos defensores durante o início de um ataque, precedendo as tropas de infantaria com fuzis e granadas. Combinado com a velocidade e ferocidade das tropas de ataque relâmpago (Sturmtruppen em alemão) tornou-se uma arma extremamente eficaz.

Guarnição alemã de lança-chamas atacando uma trincheira

Os soldados que operavam os lança-chamas rapidamente se tornaram alvos principais dos tiros inimigos e eram executados quando capturados, tal medo e ódio despertavam. Outro perigo para as guarnições dos lança-chamas era a explosão do cilindro com o combustível, causada por um tiro, estilhaço ou explosão de granada ou artilharia. Os dois homens que operavam o lança-chamas também estavam sujeitos à explosão do cilindro por falhas nos mecanismos, entupimento do bico do lança-chamas por terra ou lama (no caso de uma queda durante a corrida para o ataque), rompimento da mangueira causado por grande diferença no ritmo de deslocamento entre os dois militares da guarnição nas corridas para atacar ou corte da mangueira por tiro, estilhaço ou nos arames farpados. Por tudo isso, era curta a expectativa de vida das guarnições de lança-chamas.
Havia um código de conduta – não verbal e oficial – entre os combatentes de que armas como fuzis, baionetas, facas e pistolas matavam individualmente, num duelo dentro de uma "guerra limpa" onde sobreviveria o mais astuto ou sortudo; enquanto as armas de destruição em massa (metralhadoras, gás e fogo) eram instrumentos covardes de uma "guerra suja", que causavam uma morte indigna e sem defesa, portanto, quando os operadores dessas armas eram feridos ou capturados, eram imediatamente executados ainda no campo de batalha, pois não mereciam ser feitos prisioneiros. Sabendo deste procedimento, as guarnições de lança-chamas partiam para suas missões com espírito redobrado de selvageria, sabendo que sua opções seriam vencer, morrer tentando ou, no caso de ser ferido ou na eminência de ser capturado, se livrar do equipamento e torcer para não ser identificado pelos inimigos ou flagrado neste procedimento pelos compatriotas, com pena de ser sumariamente julgado e executado como covarde ou traidor. A vida dos operadores de lança-chamas era – literalmente  fogo...  

Seção alemã de lança-chamas (frente) supervisionada por sargento (atrás)
Batalha de Verdun - 1916

O lança-chamas, além de uma arma eficaz fisicamente, também foi uma boa arma psicológica devido ao pânico causado nos soldados. Projetado como arma de ataque, destinava-se a matar simultaneamente grande quantidade de defensores e impedir a aproximação de reforços, mesmo nas trincheiras cavadas em ângulo reto, pois o fogo resvalava na parede e deslocava-se para os lados, impedindo um ataque inimigo direto por conta do calor. As guarnições de lança-chamas só eram vencidas por ataques de granadas de mão, geralmente lançadas acima das curvas da trincheira atacada ou a partir da trincheira de apoio na retaguarda. 
A vulnerabilidade e pequeno alcance de ação dos lança-chamas em campo aberto, se comparados aos tiros de metralhadora e fuzil, eram compensados com os efeitos devastadores e duradouros dos ataques aproximados, principalmente contra estruturas fortificadas e os lentos tanques de então.
Rapidamente percebeu-se seu potencial também como arma defensiva destas mesmas trincheiras, formando paredes de fogo para aqueles que conseguissem passar pelo arame farpado. Se os modelos para ataque precisavam ser pequenos e leves para o deslocamento, possuindo uma reduzida capacidade de fogo, os modelos desenvolvidos para defesa eram grandes, com maior capacidade de alcance e tempo de funcionamento. Geralmente eram compostos de grandes reservatórios de combustível enterrados em profundidade na parede traseira da trincheira (para evitar que explodissem no caso de serem alvejados por fogo de artilharia) de onde saía uma mangueira que era apoiada (ou não) num suporte no parapeito da trincheira em direção ao inimigo. Um militar operava a mangueira para a direita e esquerda – ou a levantava um pouco para que o jato de fogo chegasse mais longe – enquanto outro militar ficava encarregado de abrir e fechar o reservatório de combustível, liberando o fogo.
Antes dos lança-chamas, conquistar uma trincheira inimiga era algo muito difícil, mas com a utilização destes na defensiva a tarefa tornou-se praticamente impossível. Os atacantes tinham que avançar pela Terra de Ninguém sob fogo de metralhadoras, fuzis e artilharia; além de ultrapassar uma rede de arames farpados próximos às trincheiras defendidos por metralhadoras e agora também pelos lança-chamas. Superar tantos obstáculos era mais uma questão de sorte do que planejamento ou coragem.

Ilustração de um alemão usando lança-chamas para defender uma trincheira

Após os primeiros ataques alemães com lança-chamas, os aliados superaram a surpresa e medos iniciais e, capturando estes equipamentos de alemães mortos, pesquisaram e adaptaram seus próprios modelos de lança-chamas. Os ingleses produziram equipamentos individuais, ao invés do modelo para dupla, mas seu alcance e capacidade de ataque eram limitados. Os franceses desenvolveram o seu modelo portátil de um homem só (Schilt), com um projeto superior ao alemão. O lança-chamas francês foi utilizado em ataques às trincheiras alemãs durante 1917 e 1918. Em resposta, em 1917 os alemães produziram uma versão menor e mais leve do seu lança-chamas portátil (Wex), que permitiu a operação por apenas um homem e tinha o benefício da auto-ignição das chamas ao invés de acender manualmente o fogo, tornando seu uso mais seguro e rápido.

Lança-chamas francês

O modelo individual de lança-chamas se mostrou uma escolha mais eficiente, pois o que se perdia em capacidade de ataque devido ao menor tanque de combustível, se ganhava em agilidade tática, tanto na velocidade de deslocamento quanto na maior possibilidade de chegar aos objetivos planejados, pois permitia que mais militares avançassem simultaneamente e por caminhos diferentes ao encontro do inimigo, tornando menos provável que todos morressem e não atacassem o alvo.  
No lança-chamas em dupla, se um dos militares fosse morto ou ferido durante o ataque, o militar sobrevivente não conseguia sozinho conduzir e operar com eficiência o pesado tanque de combustível, correndo o risco da longa mangueira enganchar em algo e romper. Outra desvantagem do sistema em dupla é que era necessário treinamento específico para as funções: o homem de trás (que conduzia o tanque) tinha que saber abrir e fechar a válvula do combustível nos tempos adequados para que o ataque fizesse o maior estrago possível, porém com certa economia, pois uma vez que seu conteúdo terminasse, seria necessário retornar ao ponto de partida para recarregar, e ficar em terreno inimigo sem combustível tornava a guarnição do lança-chamas inútil e vulnerável. Já o homem da frente (que operava a mangueira) tinha que possuir noções básicas de direcionamento (horizontal e vertical) e cuidados com a empunhadura da mangueira para atingir seus alvos com eficiência e não deixá-la cair pois isso poderia significar que o fogo queimaria pernas e pés dos operadores. Também era necessário um certo entrosamento entre a dupla de operadores do lança-chamas para que não tropeçassem um no outro durante os rápidos e tensos deslocamentos sob fogo inimigo, que poderia ocasionar uma lesão muscular, luxação, quebra de osso ou explosão do tanque de combustível.
Por tudo isso, era difícil que outro militar da infantaria  sem treinamento – conseguisse durante a correria de um ataque substituir de forma eficiente e segura o lugar de um dos dois militares especializados na operação do lança-chamas e dar prosseguimento a um ataque bem sucedido. 

Durante a guerra os alemães realizaram mais de 300 ataques com lança-chamas. Não há informações sobre a quantidade de ataques realizados pelos aliados. 

Franceses atacando trincheiras alemãs com lança-chamas
Flandres ( Bélgica ) - 01 de janeiro de 1917

A Primeira Guerra Mundial foi o conflito com o maior uso de armas químicas na história, tanto na quantidade e variedade dos produtos utilizados, quanto no número de batalhas em que foram usados. 
Desde o primeiro ataque químico em grande escala, em janeiro de 1915, gases tóxicos tornaram-se presentes em quase todas as grandes batalhas e lança-chamas investiram com crescente frequência contra trincheiras fortificadas, casamatas e fortalezas. Foram constantes também os ataques com gás de pequenas proporções apenas com a finalidade de inquietar e prejudicar o descanso do inimigo.  
Novas possibilidades e táticas criadas com a guerra química levaram a uma corrida para a introdução de novos e mais eficazes gases venenosos e na produção de contramedidas mais eficientes, que marcaram a guerra do gás, bem como o desenvolvimento de lança-chamas com diferentes tamanhos e capacidades, até o armistício em novembro de 1918.

Ataque alemão ao Monte do Morto, defendido por franceses
Batalha de Verdun - 15 de março de 1915
Sucessivas ondas de ataques alemães usando a tática de misturar lança-chamas, 
granadas de mão e infantaria não tiveram sucesso em desalojar os franceses de suas trincheiras
Imagem: http://digicolored.blogspot.com.br/2011/06/1914-flamethrowers-at-verdun.html 

Para mais informações sobre a guerra de trincheiras durante a 1ª Guerra Mundial, acesse:
http://historiasylvio.blogspot.com.br/2014/06/guerra-de-trincheiras.html 

Guarnição de metralhadora alemã sob ataque de artilharia e gás mostarda
Passchendaele ( Bélgica )

Consequências da guerra química

Efeitos na saúde em longo prazo

Militares expostos aos gases da guerra química muitas vezes apresentaram condições médicas incomuns, o que gerou muita controvérsia. Foram relatadas fadiga crônica e perda de memória em alguns afetados por até três anos após a exposição. Alguns estudiosos atuais afirmam que tais condições poderiam ser consequência de depressão, quadro clínico ainda não existente para diagnóstico na época.
Há correlações comprovadas entre a exposição a agentes químicos com cancros da pele, leucemia, pneumonia e bronquite, várias doenças oculares, depressão da medula óssea e imunossupressão subsequente, distúrbios psicológicos e disfunção sexual.
Apesar das evidências dos efeitos na saúde em longo prazo, há estudos que mostraram o oposto. Alguns veteranos norte-americanos, que foram bastante afetados por armas químicas, não mostraram nenhuma evidência neurológica nos anos seguintes.

No solo onde ocorreram ataques com gases ficaram resíduos químicos. Alguns destes locais foram usados nos anos seguintes ao término da guerra como área para agricultura, causando contaminação nos consumidores dos produtos ali plantados e, principalmente, nos agricultores, com impacto sobre o cérebro, sangue, fígado, pulmões, rins e pele.

Alemães aproveitam a direção do vento para abrir cilindros com gás tóxico sobre os inimigos
1915

Engenhos falhados

Mais de 65.000 km2 da França tiveram que ser isolados ao final da guerra por causa de engenhos explosivos não detonados (projéteis de artilharia ou bombas aéreas que não explodiram ao bater no solo). Cerca de 13 milhões dessas munições foram deixadas no local e, entre estas, 20% dos projéteis químicos de artilharia falharam. Este tem sido um sério problema em antigas zonas de batalha até os dias atuais, no século XXI. Projéteis são descobertos quando agricultores aram seus campos e também são encontrados regularmente quando são feitas obras públicas e construções civis.
Uma dificuldade adicional é o atual rigor da legislação ambiental. No passado, métodos comuns de se livrar de munições químicas não detonadas era explodi-las no local onde eram encontradas ou levá-las em navios para regiões profundas do mar e lá despejá-las. 
Os problemas para estocagem são especialmente agudos em algumas regiões no norte da França, onde há grande quantidade armazenada de armas químicas encontradas e não inutilizadas. Em 13 de abril de 2001 tornou-se evidente as condições de insegurança destas bombas químicas num depósito em Vimy (norte da França), quando um vazamento de gás fosgênio obrigou a evacuação de mais de 12 mil habitantes da cidade e retirada das bombas químicas do local, utilizando caminhões refrigerados e sob forte vigilância, para um campo militar em Suippes, também no norte da França.
A Alemanha tem de lidar com munições não deflagradas e terras poluídas resultantes da explosão de um trem de munição química em 1919.
Há alegações de que os resíduos de veneno permaneceram no ambiente local por um longo período, embora isso não esteja confirmado. Em 1960, houve comentários de que árvores numa região ao norte da França retinham resíduos de gás mostarda o suficiente para intoxicar agricultores e trabalhadores da construção civil que as removiam.

Paiol da 1ª Guerra na França registrou primeiro incidente

Bombas não detonadas em plantação aguardando remoção por peritos
Courcelette - França ( 12 de março de 2014 )
Projéteis de artilharia encontrados por um agricultou francês enquanto arava seus campos 
perto do cemitério britânico de Courcelette, um dos locais da Batalha do Somme, 
ocorrida entre julho e novembro de 1916.

X X

Testemunho de uma vítima de ataque químico

Arthur Empey foi um americano que vivia em Nova Jersey em 1914, quando a guerra começou. Enfurecido pelo afundamento do transatlântico Lusitânia e a perda de vidas de passageiros americanos, ele pensou em alistar-se no exército americano para combater os alemães. Como o Estados Unidos não declarou guerra imediatamente, Arthur embarcou em um navio para a Inglaterra e se alistou no exército britânico, sendo imediatamente designado para uma trincheira na linha de frente francesa.
Arthur fazia parte da guarnição de 6 homens de uma metralhadora britânica quando a região em que estava foi atacada pelos alemães com uso de gás cloro. Foi ferido na ocasião e sobreviveu, publicando suas memórias em 1917 no livro "Over the Top", que tornou-se um sucesso de vendas e foi transformado em filme no ano seguinte. Após a guerra, Empey tornou-se escritor, ator, diretor e produtor em Hollywood, falecendo em 1963. 
Segue o relato da experiência: 

"As condições estavam perfeitas para um ataque inimigo com gás, com uma leve brisa soprando a partir da direção do inimigo, e foi repassado o aviso para estar atento. Nós tínhamos um novo homem no periscópio, nesta tarde em questão, e eu estava sentado no degrau de fogo [parte entre o chão e o parapeito da trincheira], limpando meu rifle, quando ele gritou para mim: ‘Há uma espécie de nuvem esverdeada e amarela rolando pelo chão em frente e está vindo em nossa direção’. Não esperei por mais nada, agarrando minha baioneta, que estava separada do rifle, eu dei o alarme batendo em um projétil de artilharia vazio que estava pendurado perto do periscópio. No mesmo instante, gongos começaram a tocar na trincheira abaixo, o sinal inglês para vestir seu respirador, ou capacete de fumaça, como o chamamos.
O gás viaja em silêncio, de modo que você não deve perder qualquer momento; você geralmente tem cerca de dezoito ou vinte segundos para ajustar seu capacete de gás. Um capacete de gás é feito de tecido, tratado com produtos químicos. Há duas janelas, ou olhos de vidro, pelos quais você pode ver. No interior há um tubo de revestimento de borracha, que vai na boca. Você respira pelo nariz e o gás que passa através do capacete de pano é neutralizado pela ação dos produtos químicos. O ar poluído é exalado através do tubo na boca. Este tubo é feito de tal forma que impede a inalação do ar ou gás que vem de fora. Um capacete é bom para cinco horas de gás mais forte. Cada soldado inglês carrega dois deles pendurado em seu ombro em um saco de lona impermeável. Ele deve usar este saco em todos os momentos, mesmo durante o sono. Para trocar um capacete com defeito, você deve tirar o novo, prender a respiração, puxar o velho de sua cabeça e colocar o novo, com as pontas soltas da parte de baixo dentro da gola de sua túnica.
Em um minuto, um pandemônio reinava em nossa trincheira, ingleses ajustando seus capacetes, bombardeiros acontecendo aqui e ali, homens colocando baionetas em seus fuzis. Reforços chegavam através das trincheiras de comunicação. A guarnição da nossa arma estava ocupada montando a metralhadora no parapeito e trazendo munição extra do depósito.
O gás alemão é mais pesado que o ar e logo encheu as trincheiras e abrigos, onde tem sido conhecido por permanecer por dois ou três dias, até o ar ser purificado por meio de grandes pulverizadores químicos. Tivemos que trabalhar rapidamente, pois os alemães geralmente seguem um ataque de gás com um ataque de infantaria. Um homem da nossa companhia, à minha direita, foi muito lento em seu capacete e caiu no chão, apertando sua garganta e morreu depois de algumas torções espasmódicas. Foi horrível vê-lo morrer, mas estávamos impotentes para ajudá-lo. 
No canto da trincheira um cão vira-lata enlameado, um dos animais de estimação da companhia, morre com suas duas patas sobre o nariz. São os animais que sofrem geralmente; os cavalos, mulas, gado, cães, gatos e ratos não têm capacetes para salvá-los. Os ingleses não simpatizam com os ratos mortos em um ataque com gás.
Às vezes, o gás tem sido conhecido por viajar, com resultados terríveis, até 15 milhas atrás das linhas. Um capacete de gás, ou fumaça, como é chamado, tem um cheiro horrível [por conta dos produtos químicos para proteção] e causa uma dor de cabeça violenta em usá-lo.
Nossos obuseiros de dezoito libras atiram na Terra de Ninguém, em um esforço para dispersar a nuvem de gás pela artilharia. A trincheira é forrada com homens agachados, baionetas e granadas à mão para repelir o ataque esperado. Nossa artilharia tinha colocado uma enxurrada de tiros numa cortina de fogo sobre as linhas alemãs, para tentar acabar com seu ataque e reter reforços. Eu ajusto minha metralhadora no parapeito da trincheira e disparo tiros de ajuste. 
Então, ao longe, vieram os alemães com as baionetas brilhando, em seus respiradores que têm um grande focinho em frente, parecendo um pesadelo horrível. Ao longo de toda nossa trincheira, fuzis e metralhadoras atiram, os cartuchos das armas ao lado batendo sobre nossas cabeças. Os alemães vêm em montes, com novos tomando o lugar dos caídos [atingidos pelos tiros]. Nada parava sua correria louca. Os alemães chegam ao nosso arame farpado, que anteriormente tinha sido demolido por sua artilharia, então foi granada de mão contra granada e o diabo por todos.
De repente, minha cabeça parecia estourar a partir de um 'crack' alto no meu ouvido. Então, minha cabeça começou a nadar, a garganta ficou seca e uma forte pressão sobre os pulmões me avisou que meu capacete estava vazando. Pego a máscara número 2 e mudo os capacetes. A trincheira começou a enrolar como uma cobra e sacos de areia pareciam flutuar no ar. Escuto um barulho horrível e afundo em meio ao fogo. Agulhas pareciam picar a minha carne e, em seguida, a escuridão. Fui acordado por um dos meus companheiros removendo meu capacete de fumaça. Como foi delicioso o ar fresco que senti em meus pulmões! Um vento forte tinha surgido e dispersado o gás. Eles me disseram que eu tinha ficado apagado por três horas e achavam que eu estava morto.
O ataque foi repelido após uma luta dura. Por duas vezes os alemães conseguiram penetrar em nossa trincheira, mas foram expulsos por contra-ataques. A trincheira foi preenchida com seus mortos e os nossos. Através de um periscópio, contei dezoito alemães mortos em nossos arames farpados; eles eram uma visão medonha com suas horríveis máscaras. Examinei o meu primeiro capacete de fumaça, uma bala tinha passado no lado esquerdo, raspando em meu ouvido, e o gás havia penetrado pelo buraco feito no pano. Em minha guarnição de seis pessoas, dois foram mortos e dois feridos.
Depois que o vento dispersou o gás, os ingleses ficaram ocupados com seus pulverizadores químicos, dissipando a fumaça do gás alemão que se espalhou nos abrigos e partes baixas das trincheiras. Naquela noite, enterraram todos os mortos, com exceção daqueles que estavam na Terra de Ninguém. Na morte não há muita distinção, amigos e inimigos são tratados da mesma forma." 

Fonte:
Testemunha Ocular da História
Ataque com gás em 1916
( Em inglês - Usar o tradutor )

Arthur Empey se recuperando de ferimentos recebidos na frente de batalha

X X

Cavaleiro alemão usando máscara de gás na Frente Oriental
1917

Para mais informações sobre a Primeira Guerra Mundial, acesse:
http://historiasylvio.blogspot.com.br/2014/04/grande-guerra.html 

Guarnição inglesa de metralhadora Vickers

Jogo on-line da Primeira Guerra Mundial

Warfare 1917
Mostre sua estratégia nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Neste jogo, desenvolvido pela equipe da Armor Games, você deve ganhar terreno, conquistando trincheiras e conduzindo suas tropas até abater o moral dos adversários na medida em que vence sucessivas batalhas.
Há campos minados, ataques de artilharia e com gás letal para ajudar tanto nos ataques quanto nas defesas. Por este ser um jogo de estratégia, é possível e necessário pesquisar e aprimorar novas armas e táticas ao longo das batalhas, para tornar seu exército mais forte e eficiente.

Não é necessário instalar o jogo em seu computador! Basta acessar o link e aguardar o jogo carregar.

Soldados ingleses atingidos por gás mostarda
1918

Vídeos da Primeira Guerra Mundial

Para acessar uma lista de vídeos sobre a Primeira Guerra Mundial, com documentários, fotos e um resumo do conflito, acesse o link:

A arma secreta do Somme
( Resgate e construção de um grande projetor de chamas Livens )
( Em inglês )

Imagens da Primeira Guerra Mundial

Para ver e baixar mapas, fotos, ilustrações e cartazes que mostram os diversos aspectos da Primeira Guerra Mundial, acesse meu álbum no Picasa através do link abaixo:
https://picasaweb.google.com/104271339236641650312/PrimeiraGuerraMundial    

Espargidor químico francês para descontaminação de gás
Era necessário fazer a descontaminação de trincheiras e fortificações após ataque com gás

Fontes de consulta:

Wikipédia
As armas químicas na primeira Guerra Mundial
( Em inglês – Usar tradutor )

Aspirações Químicas
Armas Químicas: 1ª Guerra Mundial

História Licenciatura
Primeira Guerra Mundial: o uso de gás como arma química em batalhas

Ar Respirável
A utilização de gases tóxicos durante a primeira guerra mundial

Veja na História
A morte está no ar
Série de artigos sobre a guerra, escritos como revista de época.

Primeiro Mundo Guerra
Uso de guerra química pela Alemanha na Primeira Guerra Mundial
( Em inglês – Usar tradutor )

Historynet.Com
Armamento: Lewisite – A arma química da América na 1ª Guerra Mundial
( Em inglês – Usar tradutor )

Primeira Guerra Mundial – Armas, Fatos e Fotos
Projetor Livens (Projeto de gás)

Primeira Guerra Mundial – Armas, Fatos e Fotos
Névoa mortal (Gás)

Primeira Guerra Mundial – Armas, Fatos e Fotos
Máscara de gás

Primeira Guerra Mundial – Armas, Fatos e Fotos
Flammerwerfer (Lança-chamas alemão)

Primeira Guerra Mundial – Armas, Fatos e Fotos
Lança-chamas Livens (Inglês)

Mundo Tentacular
Morte flamejante - A história mortal dos lança-chamas

Wikipédia 
Grande projetor de chamas Livens (Inglês)
( Em inglês – Usar tradutor )

O fardo do soldado
Flammenwerfer! Pioneiros da cabeça da morte
( Em inglês – Usar tradutor )

Primeiro Mundo Guerra.Com
Lança-chamas
( Em inglês – Usar tradutor )

Primeiro Mundo Guerra.Com
Gás venenoso e lança-chamas
( Em inglês – Usar tradutor )

Impressões da Frente Ocidental (1914-1918)
Verdun
( Em inglês – Usar tradutor )

Flickr
Lança-chamas franceses da Primeira Guerra Mundial
( Em inglês – Usar tradutor )

5 comentários:

  1. Prêmio Nobel que cria e sugere uso de gás, deveria ter seu prêmio cancelado.
    Incrível como esse ser apelidado de humano investe em processos de destruição de massas.
    É por isso que sempre digo, acabar com guerras é simples. Presidentes, reis, ministros, governadores, senadores, deputados, prefeitos , vereadores, marechais, generais, coronéis, almirantes, grandes empresários, banqueiros, cientistas e toda a linha de alto comando de um país, que organizam, fomentam e investem em criar guerras deveriam ser sempre a primeira linha de combate.

    Não aprenderemos nunca a viver sem essa insanidade de agressões.

    Excelente trabalho de pesquisa e conteúdo.

    Grande abraço do Universo

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    1. Grato pelo elogio, Universo.
      Postagens como essa demandam um tempo considerável em pesquisas e formatação do material, mas acredito que o resultado compensa o trabalho.

      Apoio sua ideia quanto a mandar os idealizadores das guerras para os combates! Comprar briga usando o sangue alheio é tão fácil quanto feio. Se fosse a cara deles dada a tapa, bomba e baioneta, teríamos menos guerras e desperdício de vidas e materiais.
      A genialidade humana cria impressionantes obras, tanto construtivas quanto destrutivas.

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  2. A primeira foto da matéria já é de princípios da Segunda Guerra Mundial. O soldado está armado com um fuzil Garand, usado a partir de 1936.

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    1. Obrigado pela informação e correção, Erick.
      Apesar de saber agora que a guerra que a imagem faz alusão está errada, considero que as duas guerras mundiais podem ser entendidas como um único conflito, dividido em duas fases, com motivos e promotores interligados, então vou deixar a imagem como uma referência que ainda considero válida, apesar de equivocada.
      Se perceber mais algum erro da minha parte, ficarei grato por novos comentários e correções, pois tornam as publicações deste blog mais confiáveis e úteis.

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  3. Muito bom o Trabalho de Pesquisa desse Blog. E a respeito do fuzil Garand de 1936 estar classificado no Vosso Blog como pertencente a 1ª Guerra. Sinceramente, é uma observação tão constipada que quebra todas as barreiras da paciência. Mas enfim... Seu Blog é excelente.

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