sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cozinha mineira

Comida mineira
PowerPoint (PPS)
Autor: Sylvio Bazote

Imagem: caminhosdavi.blogspot.com

A cozinha mineira

Nas férias escolares da minha infância viajava para a casa de “tias” de consideração em Goianá ou Ibitipoca. Talvez pela minha pouca idade na época, recordo de ambos os lugares como se fossem o mesmo, com semelhantes rotinas e organização dos móveis e utensílios domésticos. Destas agradáveis lembranças, a que se destaca é a da cozinha como coração da casa!
A cozinha era o centro da casa e nela reinava soberano o fogão de lenha, bem feito e conservado, com os metais pintados de preto, a alvenaria em vermelho e o cano de cobre que por ele passava brilhando polido.
As casas ainda não tinham energia elétrica e era a cozinha que centralizava as atividades e convívio das pessoas durante o dia e, principalmente, durante a noite. Nela ficava a moringa de barro e canecas de alumínio com água fresca para diminuir o calor do dia (lembrando que não existia geladeira) e os potes com deliciosos doces. A iluminação noturna era feita por lampiões de querosene e era na cozinha que todos se reuniam à noite, em volta da grande mesa de madeira rústica, para conversar no cômodo mais iluminado da casa, clareado pelas chamas do fogão de lenha.
Não me lembro deste fogão apagado uma única hora! Entre o café da manhã, almoço, café da tarde, janta e café da noite, quando não estava esquentando uma refeição, bolo ou doce, estava com tampas e porta abafando o fogo, conservando em seu interior as brasas vivas, que bastava um capim seco e cheiroso juntamente com madeira nova para soprar e facilmente reacender o fogo.
Eu gostava particularmente do café no meio da tarde quando, para meu delírio, normalmente era feito um bolo com sabor sempre variado e algum tipo de doce (de leite, laranja, manga, abóbora, mamão, goiaba e outros que não me lembro mais). A demora no feitio dos doces fazia aumentar ainda mais seu sabor quando prontos.
O fogão à lenha fornecia todo tipo de conforto: por ele passava a serpentina (cano de cobre) que esquentava a água do chuveiro no banho antes de deitar. Além de iluminar, era ele que esquentava a cozinha queimando galhos de eucalipto para deixar cheirosa e aconchegante a casa fechada nas frias noites de inverno. Era este mesmo fogão que produzia café sempre fresco e deliciosas broas de milho que acompanhavam a jogatina de Buraco noite adentro.
Por tudo isso, para mim a cozinha é a essência do lar mineiro.

Cozinha da casa de Guimarães Rosa (Cordisburgo)
Foto: Sylvio Bazote

A comida mineira

Famosa como uma das mais características do Brasil, a comida mineira reúne simplicidade, sabor e tradição, que remonta à época do ciclo do ouro e pedras preciosas, resultado do encontro de diferentes raças e culturas que, entre a necessidade de se comer bem com pouco tempo e recursos disponíveis, moldaram a culinária mineira.
O tempo passou, os costumes evoluíram e a cozinha mineira manteve suas características, ganhando destaque dentro e fora do Brasil. Os restaurantes especializados em seus pratos típicos se multiplicaram em fazendas, hotéis, pousadas e nas cidades, onde as pessoas buscam resgatar o sabor das tradições.
A simplicidade marcante da culinária mineira e seu sabor característico estão intimamente ligados ao período colonial. O modo de preparo e os temperos fáceis garantem a confecção de pratos típicos, ricos e variados, como diferentes tipos de linguiça, o torresmo, o feijão tropeiro e o frango com quiabo, angu e couve, sem falar nos queijos, doces, bolos, broas e o apreciado pão de queijo. A cachaça mineira ganhou destaque como bebida apreciada pelo europeu e exportada para diversas partes do mundo.

Em Minas, as receitas familiares passam, de geração em geração, através de cadernos cuidadosamente escritos a mão com letras caprichadas, onde são registrados os segredos de sua culinária. A hora das refeições é o momento dos encontros familiares, das “prosas” e da integração entre as pessoas.
Por causa das origens históricas da constante busca pela riqueza rápida e altos preços praticados por ambiciosos mercadores, os habitantes de Minas Gerais criaram um jeito mais fácil e barato de comer. Os pratos mineiros mais tradicionais são os provenientes do fundo do quintal de casa (frango, porco, feijão, milho, mandioca e verduras). Outra característica que se arrasta pelo tempo é a fartura. Come-se muito bem nas casas mineiras, onde uma visita é obrigatoriamente seguida de café fresco, broas de milho, pão de queijo e doces em compotas com queijo branco. Essa tradição é ainda mais forte no interior.

Imagem: tudosobreculinaria007.blogspot.com

História da culinária mineira

Durante o século XVIII o Brasil viveu o ciclo do ouro com a descoberta das riquezas minerais em Minas Gerais. O ouro e o diamante atraíram milhares de pessoas de diferentes regiões do Brasil e Portugal, interessadas em ganhar dinheiro com o garimpo. A região da atual Minas Gerais na época era pouco explorada e os índios ofereciam resistência aos exploradores. Em pouco tempo as áreas de mineração se tornaram o mais importante centro econômico do Reino Português, o que fez com que as atividades produtivas de outras regiões brasileiras se integrassem em um comércio que trazia comida, roupas, ferramentas e artigos de luxo para Minas Gerais.
Com a rápida imigração de grande número de pessoas, as cidades ficaram superlotadas e consequentemente ocorreu falta de alimentos. Nas terras afastadas das cidades, ainda sem donos e procuradas pelos chegados à região, a situação era ainda mais difícil para se conseguir comida. Na ânsia de tornarem-se ricas rapidamente, as pessoas preferiam garimpar ao invés de gastar tempo plantando, cuidando e colhendo alimentos. As terras irrigadas, próximas aos rios não eram usadas para plantações, pois eram as que ofereciam ouro de forma mais fácil e rápida, sendo controladas com pessoas armadas pelos ricos. Em locais onde se iniciava o plantio e surgisse algo no solo que parecesse ouro ou diamante, a plantação era destruída pelos plantadores ou outras pessoas em busca de riquezas. Existem registros das autoridades portuguesas de imigrantes que morreram com a barriga vazia e a bolsa cheia de ouro.
O isolamento dos locais, dificuldades de alimentação e insegurança com violência e roubos levaram a desistência e retirada de muitos mineradores. Para incentivar e organizar a extração das riquezas minerais, a Coroa Portuguesa criou povoações, com destacamentos militares e instituições burocráticas, o que incentivou uma nova leva de exploradores. As primeiras vilas como Mariana, Ouro Preto, Sabará, Diamantina e São João del-Rei, entre outras, surgiram nos locais da mineração. Havia grande quantidade de escravos usada como mão-de-obra para a exploração mineradora em rios e minas. Juízes, militares, funcionários públicos, profissionais liberais, comerciantes e artistas formavam a sociedade de Minas Gerais.
A falta de espaço nas vilas e povoados nas montanhas ao redor das minas fez surgir pequenas hortas e pomares onde alimentos de fácil cultivo como mandioca, couve, taioba, feijão, milho, inhame, abóbora, banana, laranja, goiaba, jabuticaba e outras frutas forneciam o sustento diário. Animais de pequeno porte e baixo custo de manutenção como o porco e galinha também eram criados no limitado espaço das casas. Destes eram usadas as carnes e ovos para o preparo dos mais diversos pratos. Até hoje as carnes dos típicos pratos mineiros são baseadas em galinha, porco e seus derivados.
Pratos como  leitão a pururuca, linguiça frita, couve refogada, tutu de feijão, frango com quiabo, vaca atolada (caldo de mandioca com costela de boi), angu e compotas de frutas fazem da culinária mineira uma das mais fáceis de serem reconhecidas através do seu sabor e características peculiares.
O sal era escasso e caro, por isso usava-se pouco deste ingrediente e foram criados pratos feitos à base de temperos fáceis e baratos como raízes, salsa, cebolinha, urucum e outros brotos nativos. Assim, a cozinha mineira se fez sem requintes, com os ingredientes nascendo no quintal de casa, tendo a criatividade como ingrediente mais importante.

A constante e desgastante atividade de mineração é uma das explicações para o costume de fazer cinco refeições por dia: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e café da noite.
Diferentes tipos de bolos, roscas, broas, biscoitos, queijos, requeijões, doces, além de café, licores e cachaças, entre outros alimentos característicos das refeições que não eram as duas principais com pratos salgados receberam a designação popular de quitutes. O lugar onde se vendiam esses alimentos tornaram-se conhecidos como quitandas, que posteriormente acabou por designar também esse tipo de comida.
O termo quitanda tem origem africana (do dialeto quimbundo “Kitanda”), designando o tabuleiro em que se expunham os diversos alimentos em feiras livres ou dos vendedores ambulantes. A palavra quitute, também de origem africana (do dialeto banto “Kitutu”), designa um alimento refinado e valioso, que foge à alimentação consumida pela necessidade de sobrevivência, significando também indigestão.

Loja de doces (Araxá)
Foto: Sylvio Bazote

A cozinha das fazendas e a cozinha dos tropeiros

Para conhecer a cozinha mineira deve-se caminhar por duas trilhas: uma que leva à fazenda e outra aos tropeiros.

A cozinha que se faz nas fazendas é molhada, composta por pratos suculentos que são em geral acompanhados de caldos e molhos. O angu e a couve são pratos habituais e necessários, as carnes são geralmente refogadas e servidas com caldos; a verdura é farta pois não se concebe uma fazenda sem hortas em Minas Gerais. Nas fazendas tinha-se grande variedade de alimentos à mão e podia-se ter diariamente verduras e legumes frescos, sempre picados na hora de refogar para não perder o suco e manter suas cores fortes, que apuram o paladar e encantam os olhos. Na cozinha da fazenda, destacam-se o frango ensopado com quiabo, a couve e o imprescindível angu. Têm-se ainda as carnes ensopadas como a costelinha e a rabada; a canjiquinha e os brotos nativos como o ora-pro-nóbis (conhecido como carne dos pobres devido ao alto teor de ferro e proteínas), couve, taioba e o agrião. Tudo isto entremeado com pimentas e diferentes cachaças; hábitos originários do nordeste brasileiro.
No final do século XIX a expansão das fazendas leiteiras inclui de maneira definitiva o leite e seus derivados no cardápio do mineiro. O queijo passa a ser o símbolo maior das iguarias, bem como outros derivados do leite, como doce de leite, ambrosia, coalhada e o pão de queijo.

A cozinha que alimentava os tropeiros é seca. A tropa era o conjunto de mulas conduzidas por comerciantes (tropeiros) que traziam e levavam o precioso e raro sal, ferramentas, tecidos, cachaças, sementes, vasilhames e tudo que se necessitasse e fosse possível transportar para comercializar. A cozinha volante era acondicionada em bolsas de couro cru (bruacas) no lombo das mulas. Para não apodrecer durante as longas viagens, que às vezes demoravam semanas, a alimentação dos tropeiros era composta de produtos secos e duráveis. A farinha era hábito de primeira necessidade dentro dos seus embornais. Muitas vezes, para aliviar o peso das mulas, parte do carregamento de farinha com carne seca era acondicionado em embornais de couro e amarrado em galhos de árvores (para ficar fora do alcance dos animais) nos locais de acampamento para a viagem de volta.
As carnes eram previamente desidratadas com sal ou já feitas e guardadas em recipientes com gordura para se conservarem. Na fase inicial da viagem, misturava-se o feijão (quando este ainda não estava azedo dependendo do tempo de viagem) à farinha com carne seca, originando o feijão tropeiro. Caldeirões de ferro eram dependurados sobre fogueiras e fazia-se a refeição usando também o que se encontrava pelos caminhos, como brotos nativos e caças. A cachaça era acompanhamento certo para diminuir o cansaço do dia e o frio da noite.

Imagem: lendasdecaissa.blogspot.com

A geografia da culinária mineira

O norte de Minas, na extensão das margens do Rio São Francisco, com suas muitas fazendas de gado de corte, oferece diferentes receitas e tipos de peixes e carne de sol. Na região do Cerrado Mineiro reina o pequi, consumido largamente com arroz ou através de seu licor. Do Triângulo Mineiro, a tradição doceira de Araxá com suas compotas de frutas e a abundância do milho, chamado de "ouro em penca" que produz receitas de pamonhas, o tradicional angu lavado, bolos, mingaus e broas. O sul de Minas, além da riqueza agrícola do solo fértil, mostra vocação ao gado leiteiro e ganhou fama com seus laticínios e finos doces à base de leite. Na Zona da Mata, a tradição do plantio da cana e as melhores goiabadas. O nordeste de Minas nasce com o Rio Jequitinhonha e o Rio Doce e por lá se tem de tudo um pouco do que é tão típico em cada canto de Minas. Talvez, por conta de tantas e tamanhas montanhas, por lá permaneceram as mais preciosas tradições da cozinha mineira!

O ouro fez com que as atividades produtivas das diferentes regiões brasileiras se integrassem em um comércio que trazia para Minas Gerais comida, roupas, ferramentas e pequenos luxos. Os bandeirantes de São Paulo descobriram as riquezas. No Rio de Janeiro estavam os portos mais próximos para a saída do ouro para a Europa e a entrada de mercadorias estrangeiras e escravos vindos da África. Os fazendeiros da região nordeste traziam o gado e também produtos agrícolas para comercializar com os mineradores. Do norte vieram trabalhadores atrás de riquezas. Do sul do país, os tropeiros gaúchos forneciam carne bovina e mulas para o transporte.
A culinária mineira é o resultado da mistura dos hábitos dos índios aprisionados, dos escravos africanos, da população de todas as regiões brasileiras, além da influência dos estrangeiros. As receitas vindas de diversas partes do Brasil sofreram mudanças e adaptações motivadas pelas necessidades e possibilidades de diferentes áreas e épocas, construindo a culinária de Minas Gerais.
Os primeiros vestígios da cozinha mineira começam a se formar por mãos indígenas e africanas. São de suas culturas os utensílios rústicos e de manuseio simples como gamelas (recipientes de madeira), balaios de palha e bambu, potes de madeira e barro, além de panelas de barro e pedra. O rápido entrosamento entre os hábitos alimentares de nativos e negros forneceu a base dos ingredientes de cultivo simples, como mandioca, batata, inhame, milho, taioba e couve, além de temperos resistentes às mudanças climáticas e de fácil disseminação, como urucum e outros brotos nativos. Estes ingredientes foram complementados com frutas tropicais como banana, laranja, goiaba, jabuticaba e manga. Brasileiros de outras regiões trouxeram seus pratos e temperos regionais e os portugueses contribuíram com as ervas finas e temperos típicos do comércio de especiarias desenvolvido com os asiáticos.
A influência portuguesa marcará presença lentamente na cozinha e hábitos do cotidiano mineiro. Isto se deve ao fato de que estes não se ocupavam do trabalho como mão-de-obra, mas da sua organização e fiscalização. Esta influência virá de forma mais definitiva à medida que a descoberta de quantidades cada vez maiores de minerais preciosos motiva a chegada e fixação das famílias portuguesas que, através de suas senhoras, trazem novas receitas, louças e impõem toques de requintes nas mesas mineiras.
Resulta desta mistura de culturas nos primeiros tempos da culinária mineira o uso abundante do limão e da cachaça no preparo das carnes, sem o uso de temperos fortes, de pouco sal e gordura só para refogar e conservar as carnes, colorida pelo urucum e pelos brotos nativos, com um sabor que fez fama além de suas montanhas.

Restaurante em Bichinho (Distrito de Prados)
Foto: Sylvio Bazote

Pratos típicos da cozinha mineira

As receitas mais características da culinária mineira são:

• Pão de queijo
• Frango com quiabo
• Couve e angu
• Torresmo à pururuca
• Linguiças
• Tutu de feijão à mineira
• Feijão tropeiro
• Canjica

A origem do pão de queijo se confunde com a origem da culinária mineira, adaptando-se às necessidades e acompanhando a evolução dos ingredientes: primeiro surgiu a goma, vinda da mandioca na forma de polvilho doce ou azedo; depois acrescentando o sal, ovo, leite, nata, manteiga e por último o queijo, que aos poucos incorporou-se ao biscoito de goma. As cozinheiras das fazendas preparavam os biscoitos no século XVIII, moldados em pequenas bolas e assados.

Imagem: historiasdecomidas.blogspot.com

Baixe a apresentação no link abaixo.
• Após acessar o link, ignore a mensagem informando erro para visualizar o documento, se esta aparecer. O problema é apenas na visualização, mas o documento está disponível para ser baixado sem problema.
• Clicar em "Arquivo" abaixo de "Comida mineira.pps" e depois clicar em "Fazer download"; ou
 Ciclar na palavra here” ou “aqui em azul, se você usa o Google Chrome.

Link para baixar o PowerPoint:
Comida Mineira 

- - -

Fontes:

Cozinha Mineira
A história da cozinha mineira

Coração Mineiro
História da comida mineira

Guia Me
Conheça a história da cozinha mineira

Todo Sabor
Curiosidades da comida mineira

Culinária Brasileira
Culinária mineira

Quitandas de Minas
O que é quitanda para o mineiro?
http://quitandasdeminas.blogspot.com.br/quitanda-palavra-de-origem-africana 

Minas Train
Frango com quiabo e angu é um bom motivo para gula

- - -

Vídeos:

Documentário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Comida mineira
( 4:32 )


Nestlé
O melhor lugar do mundo
( 1:04 )

A cozinha está no coração do mineiro!

Imagem: tremdos7.wordpress.com

18 comentários:

  1. Sylvio, mais fascinante, do que a já fascinante história da cozinha mineira, foram os seus "recuerdos" de infância. Uma coisa, que você mencionou quando falou dos tropeiros, mas que fazia parte do cotidiano das cozinhas, eram as latas de gordura de porco, onde os alimentos eram conservados. Era comum, de manhã, a avó pegar uma lasca de carne engordurada, jogar direto na frigideira e botar no pão para os netos devorarem. Isso num tempo em que o colesterol não havia sido inventado.

    ResponderExcluir
  2. Lembro-me que em uma dessas casas na zona rural tinha uma grande lata redonda com uma tampa de madeira, sobre uma banqueta de madeira, próximo ao fogão de lenha, cheia de gordura de porco, onde ficavam guardados pedaços de porco. O aspecto e cheiro da carne não eram convidativos quando saiam da lata, mas bastava colocar em uma panela no fogo que a situação mudava. Todos na região faziam o mesmo, pois como disse não existia energia elétrica (e geladeiras). Estou falando da década de 1970, para você ver como um século depois era pequena a distância entre tropeiros e roceiros.

    Outra recordação que tenho sobre banha de porco é um pouco mais recente e urbana. Daquelas embalagens retangulares cheias de banha de porco que minha mãe comprava na década de 1980 na rede de supermercados CB Merci (detalhe que a sigla CB significava Casas da Banha), pois na época, mesmo com geladeira em casa, minha mãe e a maioria dos vizinhos preferia cozinhar carnes e alguns quitutes com banha de porco, pois afirmavam que a banha dava um gosto melhor. O que é a memória olfativa... enquanto digito isso lembrei-me do exato cheiro e cena das carnes de porco e boi fitas na frigideira usando banha, na cozinha da casa em que eu morava no bairro Mundo Novo. Tempo bom, que antes engordava as veias, e agora me entope de saudade.

    Por conta dessa prosa virtual, achei um site interessante sobre a história dos supermercados em Minas. Vale a pena copiar e conferir, para ver como somos cúmplices da passagem dos tempos e dos costumes: http://www.amis.org.br/site/institucional/historiasuper.aspx.

    ResponderExcluir
  3. Me sinto privilegiada em compartilhar momentos deliciosos dessa culinária tão rica em sabores. Na casa da minha Querida tia quando a visitava,ela sempre preparava com todo carinho pratos como angu com feijão e taioba direto do seu próprio quintal... como ninguém!!(Tão simples e Tão inesquecível)Logo depois queijo minas com doce de leite...gostinho de infância !!! E no final da tarde sempre tínhamos um Sensacional Bolo de Ouro quentinho com café!!!Saudades!!

    Márcia Martins

    ResponderExcluir
  4. Oi Márcia.
    Realmente foi um tempo muito bom aquele em que morei no Mundo Novo. Casa simples e acolhedora, com um quintal enorme, cheio de bananeiras, pés de amora, onde eu construía minhas toscas cabanas com bambu e arrebentava as taiobas com espadas de plástico. Tinham ainda os cães, pássaros e peixes, reforçados numa época por um mico abusado.
    Lembro de nos divertirmos na casa e na rua, nas férias escolares. Lembro também com muito carinho do ritual familiar no natal, quando todos ajudavam a fazer rabanadas, das discussões por conta da jogatina de buraco durante a noite e os sorrateiros assaltos à geladeira nas madrugadas para comer rabanadas geladas. Os bolos da minha mãe foram uma deliciosa tradição na casa por anos, mas hoje ela acha mais fácil e barato comprar na padaria.
    Morando faz anos em um apartamento sinto falta desta rotina de pé na terra, mas pretendo em breve voltar a morar em uma casa, de preferência com um pequeno jardim e um grande quintal, para plantar um pessegueiro e uma pequena horta.

    ResponderExcluir
  5. Sylvio,sinto muita saudade das inúmeras vezes em que fui com meus pais visitar meus avós na cidade de Descoberto,aqui bem próximo de São João Nepomuceno.Nunca me esqueci do fogão a lenha que existia na casa,em volta do qual havia um degrau de madeira para que minha avó Antônia,baixinha,pudesse subir para cozinhar em suas grandes panelas de pedra e de ferro,além dos caldeirões para ferver o leite que vinha da roça.O que eu mais gostava de comer era algo muito simples,que minha avó também adorava : leite com rapa de angu.Mas também me deliciava,é lógico,com as deliciosas iguarias da comida mineira,feitas pelas mãos mágicas e carinhosas de "Vó" Antônia .

    ResponderExcluir
  6. Puxa vida, Magno, agora você me fez recordar as paneladas de raspa de angu com leite que eu adorava comer colocando açúcar. Tem gente que prefere este prato salgado, eu sempre gostei mais dele doce.

    Do mesmo modo, adorava a pipoca doce que minha avó fazia! Enquanto as pipocas estouravam na manteiga com calda de açúcar, ela me dava uma colher grande de metal e, orientado por ela, batia leve e repetidamente na tampa de metal, enquanto nós cantávamos "estoura pipoca, Maria Pororoca" sem parar até que os últimos milhos estourassem. Moleque de mais ou menos 10 anos que era, adorava esse nosso ritual.

    Entre as doces lembranças da pipoca da minha avó e do angu com leite da minha mãe, me senti agora meio órfão da minha infância...

    ResponderExcluir
  7. Olá Sylvio, muito obrigada pela visita e pelas palavras "lá em casa"... fique a vontade para visitar sempre.

    Adorei seu blog. Amoooo demais tudo relacionado com Minas...

    ResponderExcluir
  8. Apareça para outras visitas e prosas, Prycila.
    Volta e meia darei um pulo no seu blog.
    Abraço.

    ResponderExcluir
  9. Ai, ai, até suspirei! Belas memórias, belas imagens!
    Também tenho lembranças calorosas com o fogão à lenha, o banho aquecido pela serpentina, os cadernos de receita com letra caprichada (os meus são assim! rs)...
    Amei o se blog! Já sabia que isso iria acontecer pelo que vc me adiantou dele, mas foi bom confirmar a impressão.
    Virei outras vezes, claro! É de espaços assim que deveria viver a blogosfera!
    ;)

    ResponderExcluir
  10. Agradeço sinceramente o elogio, Jussara.
    Também tenho na minha casa um desses cadernos de receitas escritas à mão pela minha mãe, onde a que tem destaque na minha memória é a do "Bolo de Ouro". Apesar do nome pomposo, o bolo é de confecção simples e ingredientes baratos, e acredito que por isso valha ouro para quem os faz.
    Fazíamos este bolo com frequência e o gosto dele é muito bom. Às vezes ajudava minha mãe a fazê-lo, rodando a massa com uma colher de pau em uma pequena bacia de metal por um longo tempo, até a massa “chegar no ponto”, ir para a forma e daí para o forno. Na hora de fazer o bolo, o que eu gostava mesmo era comer a massa crua e doce do bolo que sobrava na bacia. Também gostava quando o bolo “solava”, pois me lembrava aquele gosto e consistência da massa, apesar da minha mãe ficar injuriada nessas ocasiões, porque acreditava que o esforço e tempo gastos para fazer o bolo tinham resultado em fracasso. Nesse caso, a frustração dela era minha alegria, que comia o bolo solado até mais devagar, para aproveitar por mais tempo aquele gosto diferente.

    ResponderExcluir
  11. qual é a origem histórica dos pratos típicos: couve á minera e feijoada mineira?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Até onde sei, o motivo da escolha da couve se deve ao fato de ser um vegetal que não exige cuidados constantes em seu cultivo, portanto era uma boa opção para o plantio. Os temperos para refogar a couve são os básicos da cozinha mineira, por serem baratos e simples, podendo ser cultivados nos quintais das casas, juntamente com a couve.
      Os porcos eram criações que exigiam menos espaço do que o gado e outros animais que precisavam de grandes pastos para se alimentar, portanto podiam ser criados em pequenas propriedades rurais e alguns quintais em área urbana. Por comerem sobras de comidas e outros restos, sua manutenção era barata. Como comida era algo escasso e caro, tentava-se reduzir ao mínimo o desperdício. Por isso a tradição em fazer linguiças usando as triplas do porco recheadas com temperos simples, gordura, sangue coagulado, vísceras e um pouco de carne visava ter mais alimento e não fazer algo mais gostoso. Com o passar do tempo e a melhora da situação é que temperos nobres e variados recheios fizeram aparecer diferentes tipos de linguiça. O aproveitamento do sangue coagulado do porco como chouriço segue a mesma lógica criada pela necessidade de comer o máximo desperdiçando o mínimo.
      As partes menos nobres do porco, como patas, orelhas, focinho e outras tinham que ser aproveitadas ao invés de jogadas fora. Com os típicos temperos simples e baratos das hortas, criatividade e experimentações, foi-se formatando o feitio típico da feijoada mineira que, como qualquer receita, tem suas variações.

      Excluir
    2. Na verdade a feijoada é de origem portuguesa, e não advinda dos escravos, como se acredita. Os escravos aprenderam com os portugueses, e a adaptaram colocando o feijão preto. A couve também se deve aos portugueses. Minas Gerais é a mais portuguesas das regiões do Brasil, a que mais incorporou a culinária portuguesa.

      Excluir
  12. Suas histórias me fizeram voltar no tempo, quando ia para a casa da minha vó em Oliveira. tinha um fogão a lenha que ficava o dia inteiro aceso, e as comidas quando me lembro delas eram puro deleite. Comer aquele pão de queijo quentinho, ou uma broa de milho que gostosura. Minha mãe fazia um biscoito de polvilho, que era frito mas a receita se perdeu, pois tentei resgatar e minhas tias disseram que tinha sido a vo delas que tinha ensinado so para minha mãe. uma pena. Estou fazendo pesquisa para fazer um TCC que quero fazer um culinária mineira, aceito ajuda de onde procurar material, desde já agradeço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Raquel.
      O material que tenho sobre a culinária mineira é somente este, usado nesta postagem.
      Desejo a você um trabalho prazeroso e útil no seu TCC. Sugiro um bom planejamento prévio do foco que deseja dar ao seu projeto, pois é fácil nos perdermos em desvios possíveis, num tema tão interessante e vasto. Mudanças e ampliações nas pesquisas acontecem, mas tendo claros os objetivos desejados, se torna mais fácil manter a coerência e eficiência no resultado final.
      Quando concluir seu TCC, peço que faça a gentileza de enviar (pelo e-mail sylviobazote@gmail.com) um aviso de onde posso lê-lo. Adoro a história de Minas Gerais e terei satisfação em conhecer sua contribuição para a compreensão das raízes e frutos do nosso jeito de ser e viver!
      Um abraço.

      Excluir
    2. Raquel!Uma tia de meu marido faz esse biscoito de polvilho frito!Não sei se é a mesma receita que sua mãe fazia,mas verei com ela a receita e tento postar aqui!Boa sorte no seu TCC!

      Excluir
  13. Sylvio moro em Minas Gerais e minha irmã mora na roça,ela e o pessoal que vive lá só cozinham com banha de porco!Menino que delícia!!!!Além dos doces,bolos,broas feitos no fogão a lenha tem um gostinho de quero mais!Adorei seu blog!
    Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Cristiane.
      Tem comida que tem gosto de carinho...
      Aquela então, feita lentamente num fogão de lenha enquanto a família conversa coisas triviais, fica na memória num lugar todo especial.
      Grato pelo elogio do blog.

      Excluir