História da escravidão
Considero conveniente primeiramente definir alguns conceitos. Para tanto pesquisei diferentes dicionários e fiz uma união de suas definições:
Escravidão
condição de escravo; cativeiro; apropriação de outro ser; sujeição sem liberdade; dependência; submissão; servidão.
Escravagismo
sistema governamental que se baseia na prática da escravidão.
Escravagista
pessoa que faz parte do escravagismo ou é favorável a este sistema.
Escravatura
comércio de escravos; sistema criado para explorar a mão de obra sem remuneração e vetar manifestações por parte dos trabalhadores tratados como propriedade privada.
Escravocrata
quem possui escravo(s).
defensor da escravatura.
Escravismo
mentalidade ou filosofia que defende a submissão forçada de alguns seres por outros, baseando-se em diferentes critérios, como força, inteligência, riqueza, etc.
Escravista
quem defende a escravidão ou a escravatura.
Desde milênios, em todos os continentes do mundo, a escravidão foi uma prática comum e aceita por diversos povos. Somente a partir do século 19 é que o comércio de pessoas passou a ser criticado, e em muitas regiões foi abolido (mesmo que apenas nas leis mas não na prática). Hoje em dia, apesar da existência de milhões de indivíduos ainda trabalhando como escravos, tal situação é considerada um crime pela comunidade internacional.
Mas o que é ser um escravo? Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, escravo é quem, privado da liberdade, está submetido à vontade de outra pessoa, a quem pertence como propriedade.
Um indivíduo podia se tornar escravo de diversas maneiras:
• por ser um prisioneiro de guerra;
• por contrair uma dívida, que seria paga com seu trabalho por um tempo determinado ou pela vida toda;
• por ter cometido um crime e ser condenado à escravidão por tempo específico ou pelo restante de sua vida;
• por se oferecer como escravo em troca de alimento ou bens para a salvação de sua família ou de uma comunidade em grande dificuldade;
• por pertencer a povos inimigos e ser considerado culturalmente ou religiosamente inferior.
Por ser considerado uma propriedade, o escravo pode ser vendido, emprestado, alugado e até morto, segundo as necessidades do seu dono.
2. A provável escravidão pré-histórica
Acredita-se – por dedução – que a escravidão exista desde o início da civilização humana, ainda na fase da pré-história (início do planeta até 3.500 a.C.), quando um grupo habitando regiões com pouca água, frutas ou caça se organizaria para atacar outro grupo que habitasse locais com estas características favoráveis à sobrevivência. Inicialmente o grupo vencedor mataria ou expulsaria os vencidos e se apossaria da área favorável à caça e coleta de frutas.
A partir do domínio da agricultura e consequente sedentarismo (viver numa sede fixa em algum lugar) tornou-se interessante manter cativos os vencidos para realizar os trabalhos de plantio e colheita ou de obras de melhoramento de infraestrutura dos nascentes núcleos habitacionais.
Estes primeiros cativos (escravizados) não seriam submetidos a rotinas rígidas de controle e discriminação social, inexistindo complexos locais de aprisionamento ou sistema de punições proporcionais. Pode-se especular que seriam uma espécie de "convidados obrigatórios" na sociedade dominante, com certa fiscalização para evitar fugas (que não eram uma boa opção por ter que enfrentar, solitariamente ou em pequenos grupos, os bandos de animais selvagens e ferozes que viviam no entorno), havendo a possibilidade de ser inserido no grupo através de uniões e procriações com membros da tribo (afinal o grupo precisava crescer rapidamente em número de membros para enfrentar os imensos e fortes animais pré-históricos ou outros bandos humanos que poderiam, a qualquer momento, tentar uma invasão para (re)conquistar o local onde estavam edificando seu núcleo habitacional).
Esta "servidão inclusiva" – por necessidade – teria existido até as aglomerações humanas progressivamente desenvolverem métodos de cativeiro e punição para populações que cresceram rapidamente em quantidade, devido à ausência de predadores e possibilidade de cultivo agrícola e pastoreio em maiores áreas.
Com o surgimento da escrita e a consequente capacidade de guarda e transmissão de informações, oficialmente (academicamente) a humanidade sai da pré-história e entra na história, iniciando o período da Idade Antiga (3.500 a.C. até 476 d.C.). A primeira guerra registrada na história ocorreu por volta de 2.700 a.C., entre duas cidades – Sumer no atual Iraque e Elam no atual Irã – quando os vencedores (Sumer) escravizaram os habitantes da cidade vencida (Elam).
A escravidão foi praticada por muitos povos, em diferentes regiões, desde as épocas mais antigas. Homens, mulheres e crianças eram escravizados, sendo que os homens valiam maior preço (por serem capazes de realizar serviços pesados), tendo menor valor as mulheres (devido à sua capacidade de procriação e geração de novos escravos) e finalmente eram menos valorizadas as crianças, consideradas um transtorno presente e investimento futuro, caso tivessem saúde suficiente para sobreviver às tarefas que lhes eram destinadas. Com o surgimento de vilas, depois cidades-Estado e por fim impérios, surgiram também os escravos de serviços domésticos ou burocráticos em sociedades progressivamente complexas e com diversificadas atividades, o que gerou rotinas menos desgastantes e possibilitou que alguns escravos se tornassem idosos – uma vez que as tarefas mais pesadas e arriscadas abreviavam a vida dos escravos.
De situação meramente aceita, a escravidão se tornou essencial para a economia e a política da quase totalidade das civilizações antigas. A Mesopotâmia, a Índia, a China e o Egito utilizaram escravos. Na civilização Grega, o trabalho escravo acontecia em diversas funções, trabalhando nas casas, nas lavouras, nas minas, na força policial e como arqueiros da cidade, sendo também remadores de barco, construtores de estradas, prostitutas, artesãos, etc. O Império Romano ampliou o método grego e baseou sua economia nas constantes guerras de expansão para conquista de novas terras e escravos que gerassem riquezas para a capital. Todo serviço nas obras públicas e logística do comércio romano recaía sobre uma grande massa de escravos.
4. A escravidão medieval
Na Idade Média (476 até 1453), a escravidão tinha praticamente acabado na Europa ocidental por volta do ano 1000, substituída pela servidão – uma espécie de escravidão mais leve, onde não se podia vender e sem motivos bater ou matar um servo, que por sua vez não tinha a liberdade de viver onde desejasse e tinha obrigação de doar parte do seu tempo e produção ao senhor feudal. O escravismo permaneceu por mais tempo na Inglaterra e em áreas ligadas ao mundo muçulmano, onde o comércio da escravidão continuou a prosperar. A grande responsável pela diminuição da escravidão na Europa foi a Igreja Católica, que através de decretos papais proibia a escravidão dos cristãos por outros cristãos.
Nos séculos 6 e 7, os judeus tinham-se tornado chefes de comerciantes de escravos na Itália. Nos séculos 9 e 10, os comerciantes judeus foram uma grande força no comércio de escravos em todo o continente europeu, favorecendo-se do fato de poder comercializar entre os mundos Cristão e Islâmico.
Na Idade Média, os mercadores italianos (principalmente de Veneza e Gênova) tinham estabelecido um próspero comércio de escravos, comprando na Itália, entre outros lugares, e vendendo para os mouros no norte da África. Quando a venda dos cristãos para os muçulmanos foi banida pelo Pactum Lotharii (assinado em 840 entre a República de Veneza e o Império Carolíngio), os venezianos começaram a vender os eslavos (originários da Bohemia e da Rússia, em sua maioria) e outros escravos do Leste Europeu – não-cristãos em maior número. Eunucos eram especialmente valiosos, e "Casas de Castração" surgiram em Veneza, bem como em outros grandes mercados de escravos, para atender a essa demanda.
O sul da Itália gabava-se de ter escravos de regiões distantes, incluindo a região da Lombardia, Grécia, Bulgária, Armênia e regiões eslavas. Gênova dominou o comércio no Mediterrâneo Oriental, no início do século 12, e no Mar Negro no início do século 13, vendendo escravos eslavos e bálticos, bem como os georgianos, turcos e outros grupos étnicos do Mar Negro e do Cáucaso, para as nações muçulmanas do Oriente Médio.
Durante a Era Viking (de 793 a 1100), os guerreiros nórdicos muitas vezes capturavam e escravizavam povos por eles atacados. Os escravos eram, em sua maioria, da Europa Ocidental, entre eles francos, anglo-saxões e celtas. Tomaram também germânicos, bálticos e eslavos. Muitos irlandeses escravos viajaram em expedições para a colonização da Islândia. Antes do final do século 8, os centros de comércio escandinavos estendiam-se para o leste, a partir da Dinamarca, Suécia e norte da Rússia. Este tráfego continuou no século 9 quando os escandinavos fundaram mais centros de comércio no sudoeste da Noruega e perto de Bizâncio.
Árabes e africanos mantinham constante comércio de escravos entre si através de rotas comerciais que cobriam desde o sul do Deserto do Saara até o Oriente Médio, ramificando até o sul da Ásia.
A partir do século 7, a civilização árabe islâmica passou a expandir-se por toda a Península Arábica e em direção ao norte africano e ao sul europeu. Com a islamização, intensificou-se a prática da escravidão, que era muito comum no continente africano desde a Antiguidade. As populações negras não muçulmanas também consideravam a escravidão um fato normal (normalmente os reis africanos tinham centenas de escravos como soldados e em suas guardas pessoais!).
Além do reino de Mali, outros reinos também tiveram destaque no continente africano no período da Idade Média, principalmente aqueles que se desenvolveram abaixo do deserto do Saara, tais como Gana, Kanem-Bornu, Iorubá e Benin. A principal forma de contato e de comércio entre esses reinos eram as caravanas de camelos, que permitiam o deslocamento por longas distâncias em meio ao deserto com uma quantidade muito grande de mantimentos, pedras preciosas, escravos, metais, porcelanas, tapetes e muitas outras coisas. Entre os séculos 7 e 16 a instituição da escravidão se desenvolve consideravelmente na África Ocidental.
No sudeste e oeste da Ásia houve também a manutenção de elevados níveis de escravos, baseando-se em castas religiosas ou linhagens étnicas para justificar a escravização de pessoas consideradas inferiores.
5. A escravidão na modernidade
Na Idade Moderna (1453 até 1789), sobretudo a partir da descoberta da América, houve um aumento do escravagismo, desenvolvendo-se então um cruel e lucrativo comércio de homens, mulheres e crianças africanos para as Américas. A escravidão passou a ser justificada por razões morais e religiosas, baseando-se na crença da suposta superioridade racial e cultural dos europeus.
Chama-se de tráfico negreiro o transporte forçado de africanos para as Américas como escravos, durante o período colonialista. Reinos africanos e árabes passaram a capturar escravos com o objetivo de vendê-los aos europeus, que normalmente estabeleciam bases comerciais com fortificações militares no litoral da África (feitorias), não realizando expedições para o interior do continente, que se mostraram perigosas e caras, portanto não compensatórias.
Com o surgimento, na Europa do século 18, das ideias liberais e da ciência econômica, a escravatura passou a ser considerada moralmente incorreta para os intelectuais e pouco produtiva para os comerciantes no iniciante sistema capitalista que substituiria a economia mercantilista. A partir de 1761, os europeus começaram a criar leis contra a escravidão, mas na prática, somente a partir de 1792 a escravatura começou a deixar de ser praticada nas nações europeias. A Europa foi o primeiro continente a banir a escravidão entre seus habitantes, e o foi também o continente que mais escravizou habitantes de outras regiões do planeta!
Nos dias atuais a escravatura existe em maior grau na Ásia, seguida pela Oceania e depois África. Das cerca de 46 milhões de pessoas que vivem atualmente em condições de escravidão moderna, nos 167 países pesquisados, a Índia tem o maior número de escravizados. O fenômeno compreende tráfico de seres humanos, trabalhos forçados, exploração sexual, matrimônios precoces ou forçados. 58% das pessoas (18 milhões) que vivem nestas condições estão na Índia. Seguem a China (3 milhões), Paquistão (2 milhões), Bangladesh (1 milhão e meio) e Uzbequistão (1 milhão). Na Índia, a maior parte da população envolvida trabalha no âmbito doméstico, são mendicantes, crianças-soldado ou prostitutas. Existem também as que são obrigadas a trabalhar para repagar as dívidas contraídas em empréstimos. O Índice Mundial da Escravidão 2016 evidenciou um aumento em relação a 2015 de 10 milhões de pessoas consideradas escravos modernos, num incremento de 28%.
Pesquisa realizada em 2016 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Fundação Walk Free, em parceria com a Organização Internacional para Migração (OIM), mostra que além das 46 milhões de pessoas em todo o mundo vítimas da escravidão, estima que cerca de 152 milhões de crianças – entre 5 e 17 anos – foram submetidas ao trabalho infantil no mesmo ano.
As estimativas mostram que as mulheres e as meninas são as mais afetadas pela escravidão moderna, chegando a quase 29 milhões. As mulheres representam 99% das vítimas do trabalho forçado na indústria comercial do sexo e 84% dos casamentos forçados. A pesquisa revela que, entre as vítimas da escravidão moderna, cerca de 25 milhões foram submetidas a trabalho forçado e 15 milhões foram forçadas a se casar. Uma em cada quatro vítimas da escravidão moderna são crianças (cerca de 10 milhões). Por volta de 37% (ou 5,7 milhões) das pessoas forçadas a casar eram crianças. O trabalho infantil continua concentrado principalmente na agricultura (70,9%). Quase um em cada cinco trabalhadores infantis trabalha no setor de serviços (17,1%), enquanto 11,9% dos trabalhadores infantis trabalham na indústria.
Se considerados os resultados dos últimos cinco anos, 89 milhões de pessoas tiveram alguma experiência de escravidão moderna, por períodos de tempo que variam de alguns dias a cinco anos. Isso se relaciona diretamente com a discriminação e a desigualdade enraizadas profundamente em nosso mundo atual, associadas a uma tolerância chocante da exploração.
Os números de escravizados variam de acordo com a fonte consultada e o método utilizado, mas é certo de que, mesmo não sendo admitida por leis e instituições em geral, a escravidão persiste e tem aumentado nos últimos tempos, alimentada pela falta de caráter de uns e miséria de outros.
Acredita-se – por dedução – que a escravidão exista desde o início da civilização humana, ainda na fase da pré-história (início do planeta até 3.500 a.C.), quando um grupo habitando regiões com pouca água, frutas ou caça se organizaria para atacar outro grupo que habitasse locais com estas características favoráveis à sobrevivência. Inicialmente o grupo vencedor mataria ou expulsaria os vencidos e se apossaria da área favorável à caça e coleta de frutas.
A partir do domínio da agricultura e consequente sedentarismo (viver numa sede fixa em algum lugar) tornou-se interessante manter cativos os vencidos para realizar os trabalhos de plantio e colheita ou de obras de melhoramento de infraestrutura dos nascentes núcleos habitacionais.
Estes primeiros cativos (escravizados) não seriam submetidos a rotinas rígidas de controle e discriminação social, inexistindo complexos locais de aprisionamento ou sistema de punições proporcionais. Pode-se especular que seriam uma espécie de "convidados obrigatórios" na sociedade dominante, com certa fiscalização para evitar fugas (que não eram uma boa opção por ter que enfrentar, solitariamente ou em pequenos grupos, os bandos de animais selvagens e ferozes que viviam no entorno), havendo a possibilidade de ser inserido no grupo através de uniões e procriações com membros da tribo (afinal o grupo precisava crescer rapidamente em número de membros para enfrentar os imensos e fortes animais pré-históricos ou outros bandos humanos que poderiam, a qualquer momento, tentar uma invasão para (re)conquistar o local onde estavam edificando seu núcleo habitacional).
Esta "servidão inclusiva" – por necessidade – teria existido até as aglomerações humanas progressivamente desenvolverem métodos de cativeiro e punição para populações que cresceram rapidamente em quantidade, devido à ausência de predadores e possibilidade de cultivo agrícola e pastoreio em maiores áreas.
Escravos no Império Romano ( Museu Ashmolean | Oxford - Inglaterra )
Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o
Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o
3. A escravidão na antiguidade
Com o surgimento da escrita e a consequente capacidade de guarda e transmissão de informações, oficialmente (academicamente) a humanidade sai da pré-história e entra na história, iniciando o período da Idade Antiga (3.500 a.C. até 476 d.C.). A primeira guerra registrada na história ocorreu por volta de 2.700 a.C., entre duas cidades – Sumer no atual Iraque e Elam no atual Irã – quando os vencedores (Sumer) escravizaram os habitantes da cidade vencida (Elam).
A escravidão foi praticada por muitos povos, em diferentes regiões, desde as épocas mais antigas. Homens, mulheres e crianças eram escravizados, sendo que os homens valiam maior preço (por serem capazes de realizar serviços pesados), tendo menor valor as mulheres (devido à sua capacidade de procriação e geração de novos escravos) e finalmente eram menos valorizadas as crianças, consideradas um transtorno presente e investimento futuro, caso tivessem saúde suficiente para sobreviver às tarefas que lhes eram destinadas. Com o surgimento de vilas, depois cidades-Estado e por fim impérios, surgiram também os escravos de serviços domésticos ou burocráticos em sociedades progressivamente complexas e com diversificadas atividades, o que gerou rotinas menos desgastantes e possibilitou que alguns escravos se tornassem idosos – uma vez que as tarefas mais pesadas e arriscadas abreviavam a vida dos escravos.
De situação meramente aceita, a escravidão se tornou essencial para a economia e a política da quase totalidade das civilizações antigas. A Mesopotâmia, a Índia, a China e o Egito utilizaram escravos. Na civilização Grega, o trabalho escravo acontecia em diversas funções, trabalhando nas casas, nas lavouras, nas minas, na força policial e como arqueiros da cidade, sendo também remadores de barco, construtores de estradas, prostitutas, artesãos, etc. O Império Romano ampliou o método grego e baseou sua economia nas constantes guerras de expansão para conquista de novas terras e escravos que gerassem riquezas para a capital. Todo serviço nas obras públicas e logística do comércio romano recaía sobre uma grande massa de escravos.
4. A escravidão medieval
Na Idade Média (476 até 1453), a escravidão tinha praticamente acabado na Europa ocidental por volta do ano 1000, substituída pela servidão – uma espécie de escravidão mais leve, onde não se podia vender e sem motivos bater ou matar um servo, que por sua vez não tinha a liberdade de viver onde desejasse e tinha obrigação de doar parte do seu tempo e produção ao senhor feudal. O escravismo permaneceu por mais tempo na Inglaterra e em áreas ligadas ao mundo muçulmano, onde o comércio da escravidão continuou a prosperar. A grande responsável pela diminuição da escravidão na Europa foi a Igreja Católica, que através de decretos papais proibia a escravidão dos cristãos por outros cristãos.
Nos séculos 6 e 7, os judeus tinham-se tornado chefes de comerciantes de escravos na Itália. Nos séculos 9 e 10, os comerciantes judeus foram uma grande força no comércio de escravos em todo o continente europeu, favorecendo-se do fato de poder comercializar entre os mundos Cristão e Islâmico.
Na Idade Média, os mercadores italianos (principalmente de Veneza e Gênova) tinham estabelecido um próspero comércio de escravos, comprando na Itália, entre outros lugares, e vendendo para os mouros no norte da África. Quando a venda dos cristãos para os muçulmanos foi banida pelo Pactum Lotharii (assinado em 840 entre a República de Veneza e o Império Carolíngio), os venezianos começaram a vender os eslavos (originários da Bohemia e da Rússia, em sua maioria) e outros escravos do Leste Europeu – não-cristãos em maior número. Eunucos eram especialmente valiosos, e "Casas de Castração" surgiram em Veneza, bem como em outros grandes mercados de escravos, para atender a essa demanda.
O sul da Itália gabava-se de ter escravos de regiões distantes, incluindo a região da Lombardia, Grécia, Bulgária, Armênia e regiões eslavas. Gênova dominou o comércio no Mediterrâneo Oriental, no início do século 12, e no Mar Negro no início do século 13, vendendo escravos eslavos e bálticos, bem como os georgianos, turcos e outros grupos étnicos do Mar Negro e do Cáucaso, para as nações muçulmanas do Oriente Médio.
Durante a Era Viking (de 793 a 1100), os guerreiros nórdicos muitas vezes capturavam e escravizavam povos por eles atacados. Os escravos eram, em sua maioria, da Europa Ocidental, entre eles francos, anglo-saxões e celtas. Tomaram também germânicos, bálticos e eslavos. Muitos irlandeses escravos viajaram em expedições para a colonização da Islândia. Antes do final do século 8, os centros de comércio escandinavos estendiam-se para o leste, a partir da Dinamarca, Suécia e norte da Rússia. Este tráfego continuou no século 9 quando os escandinavos fundaram mais centros de comércio no sudoeste da Noruega e perto de Bizâncio.
Árabes e africanos mantinham constante comércio de escravos entre si através de rotas comerciais que cobriam desde o sul do Deserto do Saara até o Oriente Médio, ramificando até o sul da Ásia.
A partir do século 7, a civilização árabe islâmica passou a expandir-se por toda a Península Arábica e em direção ao norte africano e ao sul europeu. Com a islamização, intensificou-se a prática da escravidão, que era muito comum no continente africano desde a Antiguidade. As populações negras não muçulmanas também consideravam a escravidão um fato normal (normalmente os reis africanos tinham centenas de escravos como soldados e em suas guardas pessoais!).
Além do reino de Mali, outros reinos também tiveram destaque no continente africano no período da Idade Média, principalmente aqueles que se desenvolveram abaixo do deserto do Saara, tais como Gana, Kanem-Bornu, Iorubá e Benin. A principal forma de contato e de comércio entre esses reinos eram as caravanas de camelos, que permitiam o deslocamento por longas distâncias em meio ao deserto com uma quantidade muito grande de mantimentos, pedras preciosas, escravos, metais, porcelanas, tapetes e muitas outras coisas. Entre os séculos 7 e 16 a instituição da escravidão se desenvolve consideravelmente na África Ocidental.
No sudeste e oeste da Ásia houve também a manutenção de elevados níveis de escravos, baseando-se em castas religiosas ou linhagens étnicas para justificar a escravização de pessoas consideradas inferiores.
Comércio de escravos na Criméia durante a Idade Média
Pintura "Comércio no país dos eslavos orientais" de Sergei Ivanov ( Rússia )
5. A escravidão na modernidade
Na Idade Moderna (1453 até 1789), sobretudo a partir da descoberta da América, houve um aumento do escravagismo, desenvolvendo-se então um cruel e lucrativo comércio de homens, mulheres e crianças africanos para as Américas. A escravidão passou a ser justificada por razões morais e religiosas, baseando-se na crença da suposta superioridade racial e cultural dos europeus.
Chama-se de tráfico negreiro o transporte forçado de africanos para as Américas como escravos, durante o período colonialista. Reinos africanos e árabes passaram a capturar escravos com o objetivo de vendê-los aos europeus, que normalmente estabeleciam bases comerciais com fortificações militares no litoral da África (feitorias), não realizando expedições para o interior do continente, que se mostraram perigosas e caras, portanto não compensatórias.
Com o surgimento, na Europa do século 18, das ideias liberais e da ciência econômica, a escravatura passou a ser considerada moralmente incorreta para os intelectuais e pouco produtiva para os comerciantes no iniciante sistema capitalista que substituiria a economia mercantilista. A partir de 1761, os europeus começaram a criar leis contra a escravidão, mas na prática, somente a partir de 1792 a escravatura começou a deixar de ser praticada nas nações europeias. A Europa foi o primeiro continente a banir a escravidão entre seus habitantes, e o foi também o continente que mais escravizou habitantes de outras regiões do planeta!
Comércio de escravizados
Africanos escravizando africanos em troca dos cavalos e armas de fogo dos europeus
6. A escravidão na atualidade
A escravatura continua a existir em muitos países na Idade Contemporânea (1789 até os dias atuais) porque as leis que a proíbe não são aplicadas, sendo elaboradas pela pressão de outros países e da Organização das Nações Unidas (ONU), não representando a aversão do senso comum e os interesses das elites de algumas nações. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que atualmente existam aproximadamente 46 milhões de pessoas sujeitas – de forma explica ou velada – a uma rotina de escravidão. A OIT classificou, em sua Convenção nº 29, de 28 de junho de 1930, que o "trabalho forçado ou obrigatório compreenderá todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente".
Em países árabes e muçulmanos existem ainda escravos tradicionais. Existe ainda no Sudão a caça de escravos negros, visando a captura de crianças e jovens mulheres bonitas para serem escravas domésticas ou ajudantes para vários trabalhos.
Na escravatura branca (tráfico humano para a prostituição forçada) se encontram privadas da liberdade milhares de mulheres, principalmente de regiões pobres na Ucrânia, Moldávia, Rússia, Índia, Tailândia, Filipinas e da África. As mulheres são atraídas com falsas promessas, depois detidas e forçadas a prostituir-se até o pagamento de dívida com os custos de burocracia, transporte e hospedagem em outro país. Muitas vezes a prostituta escravizada é vendida antes do pagamento da dívida e começa novamente o processo de pagamento da dívida, aumentada artificialmente entre os compradores. O tráfico de escravas brancas existe também em Israel, onde cerca de duas mil jovens originárias da Rússia, Ucrânia, Moldávia, Uzbequistão e China foram levadas à força nos últimos anos e obrigadas a prostituir-se.
Existe também o tráfego com crianças, que trabalham como escravos em outros países, por constituir mão de obra mais lucrativa que a contratação de adultos. Muitas vezes, estas são mutiladas ou obrigadas a mendigar e entregar tudo aos seus donos.
Os preços variam. Enquanto moças europeias bonitas rendem até 20 mil dólares, há crianças e mulheres adolescentes na Moldávia, China, Paquistão ou sul da Índia negociadas por menos de 100 dólares. Nessas estatísticas nem são contadas as mulheres e meninas que, pela tradição ou leis em muitos países muçulmanos e outras regiões, são consideradas propriedade de seus pais ou maridos, em situação que se assemelha à escravidão por costumes.
Nos dias atuais a escravatura existe em maior grau na Ásia, seguida pela Oceania e depois África. Das cerca de 46 milhões de pessoas que vivem atualmente em condições de escravidão moderna, nos 167 países pesquisados, a Índia tem o maior número de escravizados. O fenômeno compreende tráfico de seres humanos, trabalhos forçados, exploração sexual, matrimônios precoces ou forçados. 58% das pessoas (18 milhões) que vivem nestas condições estão na Índia. Seguem a China (3 milhões), Paquistão (2 milhões), Bangladesh (1 milhão e meio) e Uzbequistão (1 milhão). Na Índia, a maior parte da população envolvida trabalha no âmbito doméstico, são mendicantes, crianças-soldado ou prostitutas. Existem também as que são obrigadas a trabalhar para repagar as dívidas contraídas em empréstimos. O Índice Mundial da Escravidão 2016 evidenciou um aumento em relação a 2015 de 10 milhões de pessoas consideradas escravos modernos, num incremento de 28%.
As estimativas mostram que as mulheres e as meninas são as mais afetadas pela escravidão moderna, chegando a quase 29 milhões. As mulheres representam 99% das vítimas do trabalho forçado na indústria comercial do sexo e 84% dos casamentos forçados. A pesquisa revela que, entre as vítimas da escravidão moderna, cerca de 25 milhões foram submetidas a trabalho forçado e 15 milhões foram forçadas a se casar. Uma em cada quatro vítimas da escravidão moderna são crianças (cerca de 10 milhões). Por volta de 37% (ou 5,7 milhões) das pessoas forçadas a casar eram crianças. O trabalho infantil continua concentrado principalmente na agricultura (70,9%). Quase um em cada cinco trabalhadores infantis trabalha no setor de serviços (17,1%), enquanto 11,9% dos trabalhadores infantis trabalham na indústria.
Se considerados os resultados dos últimos cinco anos, 89 milhões de pessoas tiveram alguma experiência de escravidão moderna, por períodos de tempo que variam de alguns dias a cinco anos. Isso se relaciona diretamente com a discriminação e a desigualdade enraizadas profundamente em nosso mundo atual, associadas a uma tolerância chocante da exploração.
Os números de escravizados variam de acordo com a fonte consultada e o método utilizado, mas é certo de que, mesmo não sendo admitida por leis e instituições em geral, a escravidão persiste e tem aumentado nos últimos tempos, alimentada pela falta de caráter de uns e miséria de outros.
7. O conceito de “escravidão voluntária”
Com o passar do tempo, o conceito de escravidão modificou-se e deixou de se basear apenas na ausência de liberdade, para levar em consideração a impossibilidade de ter acesso a condições de dignidade presente e prosperidade futura, até chegar nos dias atuais à concepções como "prisão aberta" e "correntes invisíveis" para situações financeiras, sociais e étnicas que limitam sucessivas gerações de famílias e uma condição de trabalhar apenas para garantir a sobrevivência, sem perspectiva de melhora para si e para os seus devido a falta de oportunidades igualitárias.
8. Curiosidades sobre a escravidão e a escravatura
• Durante séculos houve no Egito uma classe de escravos soldados chamados Mamelucos. Eram tão poderosos que homens livres se vendiam à escravidão na esperança de se juntar a eles.
• Gregos e romanos da antiguidade compravam escravos com sal.
• Antes que o tráfico de escravos ocidentais começasse, piratas norte-africanos costumavam sequestrar regularmente britânicos e outros europeus para venda como escravos na África. Cerca de 1,25 milhão de europeus foram vendidos para o comércio africano de escravos entre 1500-1800.
• A Mauritânia (África) foi, em 1981, o último país a abolir legalmente a escravatura.
• O país na atualidade com mais escravos em todo o mundo é a Índia, que ainda hoje em dia conta com cerca de 15 milhões de pessoas em condição de trabalho escravo.
• No sistema capitalista, a escravidão é desestimulada por ser considerada pouco produtiva, porque como o escravo não tem propriedade ou participação sobre sua produção, não é estimulado a produzir mais ou melhor, além de não possuir dinheiro para realizar compras significativas que movimentem o mercado.
• Denúncias de trabalho escravo no Brasil e em outros países apontam para um tipo de trabalho forçado onde há a proibição de saída de pessoas em fazendas ou áreas irregulares de extração mineral ou vegetal.
• Alguns analistas entendem que os regimes ditatoriais como a Coreia do Norte e Cuba seriam regimes de escravidão, pois os trabalhadores produzem em benefício de um grupo que não pode ser retirado de sua posição de poder dominante, fazendo este serviço em troca de comida e moradia, sem a opção de sair do país e nem mesmo da cidade onde nasceu, mediante a possibilidade de prisão ou execução.
• O autor de Dom Quixote, o espanhol Miguel de Cervantes, foi capturado em 1575 por piratas turcos e vendido como escravo ao rei de Argel (Hassaou Pacha). Tentou fugir pelo menos cinco vezes. Por fim, sua família conseguiu reunir o valor do resgate e em 1580 o monge Juan Gil negociou sua liberdade. O resgate arruinou as já precárias finanças de sua família.
Foto distribuída, em 1863, no norte dos Estados Unidos durante a Guerra Civil Americana,
mostrando as cicatrizes feitas pelo açoite em Gordon, escravo no sul.
mostrando as cicatrizes feitas pelo açoite em Gordon, escravo no sul.
9. Escravismo entre os povos
A escravidão na África
Muitos dos povos africanos utilizavam escravos para os mais diversos fins, e como cada povo africano tem sua própria organização política, econômica e social, a escravidão na África se desenvolveu de muitas formas.
De uma maneira geral, partindo da história de grande parte desses povos, podemos dizer que existia na África uma escravidão doméstica, e não uma escravidão mercantil, ou seja, entre vários povos africanos, o escravo não era uma mercadoria, mas sim um braço a mais na colheita, na pecuária, na mineração e na caça; e um guerreiro a mais nas campanhas militares.Vários povos africanos preferiam as mulheres como escravas, já que eram elas as responsáveis pela agricultura e poderiam gerar novos membros para a comunidade. Muitas das crianças nascidas de mães escravas eram consideradas livres pela comunidade. A maioria dos povos africanos eram matrilineares, ou seja, se organizavam a partir da ascendência materna, partindo da mãe a transmissão de nome e privilégios. Dessa forma, uma mãe escrava poderia se tornar líder política em sua sociedade, por ter gerado o herdeiro à chefia local.
Um escravo que fosse fiel ao seu senhor ou aprendesse uma função importante poderia ocupar um cargo de prestigio local, inclusive possuindo escravos seus. Assim, nem sempre ser escravo era uma condição de humilhação e desrespeito.
Ao lado da escravidão doméstica também existia o comércio de escravos. Algumas sociedades africanas viviam da guerra para a captura de pessoas para serem vendidas a outros povos que necessitavam de escravos. Como na África existiam várias etnias e diferentes grupos políticos, as guerras entre eles se tornaram mais frequentes, e uma consequência disso foi a crescente escravização dos vencidos, que passaram a ser vendidos conforme a necessidade do vencedor.
O comércio de pessoas se intensificou no século 7, quando os árabes conquistaram o Magrebe (norte da África, com exceção do Egito) e o leste africano. Os árabes eram grandes mercadores de escravos, e os cativos conseguidos nessas regiões eram vendidos principalmente na Península Arábica, mas também podiam ser vendidos em regiões mais distantes, como na China.
Com o aumento da demanda por escravos nos portos africanos controlados pelos árabes, aumentou também o número de povos africanos que passaram a investir na captura de inimigos ou de grupos mais fracos, para vendê-los. Nesse processo, muitas tribos, cidades e reinos africanos se fortaleceram, pois controlavam as rotas de comércio de escravos. Acredita-se que entre os séculos 7 e 19, em torno de 5 milhões de africanos tenham sido comprados na África pelos árabes.
A escravidão na Ásia
A exportação de escravos do Japão é registrado nos arquivos chineses no século 3. Os escravos eram chamados de Seikō ("voz viva"). No século 8, foram criadas leis que regulamentavam o comércio de escravos entre Japão e China. Esses escravos tendiam a trabalhar na agricultura e em trabalhos domésticos. Informações sobre a população escrava são imprecisas, mas a proporção de escravos que se estima seria cerca de 5% da população japonesa.
Depois que os portugueses fizeram o primeiro contato com o Japão, em 1543, o tráfico de escravos se desenvolveu em grande escala, no qual os portugueses compravam japoneses como escravos e os vendiam para os diversos locais no exterior, incluindo Portugal, durante os séculos 16 e 17. Escravos coreanos e chineses também eram comprados pelos portugueses.
Os portugueses consideravam os escravos asiáticos – chineses e japoneses – melhores do que os escravos africanos, atribuindo aos asiáticos qualidades como a inteligência e o zelo. O comércio de escravos incluía também habitantes da Índia, da Malásia e do sudeste da Ásia, cujo centro estava na ilha de Madasgascar. O Império Otomano (século 16 ao 19) – baseado na atual Turquia – também praticou o comércio de escravos que incluía tanto caucasianos (brancos oriundos do oeste da Ásia e Bálcãs europeu) quanto negros do norte e leste da África.
Depois que os portugueses fizeram o primeiro contato com o Japão, em 1543, o tráfico de escravos se desenvolveu em grande escala, no qual os portugueses compravam japoneses como escravos e os vendiam para os diversos locais no exterior, incluindo Portugal, durante os séculos 16 e 17. Escravos coreanos e chineses também eram comprados pelos portugueses.
Os portugueses consideravam os escravos asiáticos – chineses e japoneses – melhores do que os escravos africanos, atribuindo aos asiáticos qualidades como a inteligência e o zelo. O comércio de escravos incluía também habitantes da Índia, da Malásia e do sudeste da Ásia, cujo centro estava na ilha de Madasgascar. O Império Otomano (século 16 ao 19) – baseado na atual Turquia – também praticou o comércio de escravos que incluía tanto caucasianos (brancos oriundos do oeste da Ásia e Bálcãs europeu) quanto negros do norte e leste da África.
A escravidão na Europa
Na Grécia Antiga, há registros de escravismo desde 620 a.C., sendo prática comum enquanto durou a civilização grega e suas diversas cidades-Estado. A mão de obra escrava era a base da economia da Grécia Antiga. Os trabalhos manuais, principalmente os pesados, eram rejeitados pelos cidadãos gregos, que valorizavam as atividades intelectuais, artísticas, políticas e militares. Os trabalhos nos campos, nas minas de minérios, nas olarias e na construção civil, por exemplo, eram executados por escravos. Os escravos também eram muito utilizados no meio doméstico. Eles faziam os serviços de limpeza, preparavam a alimentação e cuidavam dos filhos de seu proprietário. Estes escravos que atuavam dentro do lar possuíam uma condição de vida muito melhor que os outros.
Os romanos escravizavam prisioneiros de guerra, também os pobres e os criminosos. Os escravos eram capturados por toda a Europa e na região do Mediterrâneo, incluindo povos celtas, germânicos, trácios, gregos e cartagineses. Até o século 1 a.C., o costume impedia a escravização de cidadãos romanos e italianos, mas antes disso muitos italianos do sul e do centro da Península Itálica foram escravizados após serem conquistados (entre os séculos 1 e 5, a maioria dos escravos eram nascidos na Itália).
Estima-se que entre 10% e 30% da população da Roma Antiga era formada por escravos (variando este percentual conforme o período ao longo da história do Império). Normalmente, as pessoas mantidas na escravidão provinham de povos conquistados. Estima-se que 49% de todos os escravos eram de propriedade da elite, que compunha menos de 1,5% da população do império. Cerca de metade de todos os escravos trabalhavam no campo e o restante nas cidades. Os romanos consideravam a escravidão como infame, e um soldado romano preferia suicidar-se antes de cair escravo de um povo adversário.
O Canato da Criméia (Estado tártaro existente entre 1441 a 1783, que além da Península da Crimeia, também abrangia algumas áreas do sul da atual Ucrânia e do sudoeste da Rússia) baseava sua economia no comércio de escravos, que valorizava mulheres e crianças que tivessem uma beleza exótica. O mercado valorizava negros da África Sub-Saariana e os povos do Cáucaso. Porém, a variedade mais cara e lucrativa era, de longe, as crianças finlandesas entre 6 e 13 anos de idade, de preferência loiras e com olhos azuis, vendidas por uma margem de lucro de até 133.000% no Mar Negro. Entre os séculos 12 e 18, russos, tartares e persas costumavam montar inúmeras ofensivas à Finlândia com o propósito específico de capturar crianças para vendê-las no mercado. Na época, não havia um Estado finlandês consolidado, e uma grande parcela da população local ainda não havia se convertido ao cristianismo na Idade Média, não contando portanto com a proteção da Igreja Católica, tornando-se prisioneiros em potencial tanto para muçulmanos quanto cristãos. Algumas famílias filandesas pagavam para recuperar seus parentes, mas a maioria não tinha dinheiro suficiente e não reviam os sequestrados. As crianças e mulheres capturadas que não aguentassem as longas caminhadas pelo gelo até a região do cativeiro, no Mar Negro, eram abandonadas para morrer, sendo elevado o número de cativos que morriam durante a cansativa jornada sob baixas temperaturas.
A escravidão na América
Os romanos escravizavam prisioneiros de guerra, também os pobres e os criminosos. Os escravos eram capturados por toda a Europa e na região do Mediterrâneo, incluindo povos celtas, germânicos, trácios, gregos e cartagineses. Até o século 1 a.C., o costume impedia a escravização de cidadãos romanos e italianos, mas antes disso muitos italianos do sul e do centro da Península Itálica foram escravizados após serem conquistados (entre os séculos 1 e 5, a maioria dos escravos eram nascidos na Itália).
Estima-se que entre 10% e 30% da população da Roma Antiga era formada por escravos (variando este percentual conforme o período ao longo da história do Império). Normalmente, as pessoas mantidas na escravidão provinham de povos conquistados. Estima-se que 49% de todos os escravos eram de propriedade da elite, que compunha menos de 1,5% da população do império. Cerca de metade de todos os escravos trabalhavam no campo e o restante nas cidades. Os romanos consideravam a escravidão como infame, e um soldado romano preferia suicidar-se antes de cair escravo de um povo adversário.
O Canato da Criméia (Estado tártaro existente entre 1441 a 1783, que além da Península da Crimeia, também abrangia algumas áreas do sul da atual Ucrânia e do sudoeste da Rússia) baseava sua economia no comércio de escravos, que valorizava mulheres e crianças que tivessem uma beleza exótica. O mercado valorizava negros da África Sub-Saariana e os povos do Cáucaso. Porém, a variedade mais cara e lucrativa era, de longe, as crianças finlandesas entre 6 e 13 anos de idade, de preferência loiras e com olhos azuis, vendidas por uma margem de lucro de até 133.000% no Mar Negro. Entre os séculos 12 e 18, russos, tartares e persas costumavam montar inúmeras ofensivas à Finlândia com o propósito específico de capturar crianças para vendê-las no mercado. Na época, não havia um Estado finlandês consolidado, e uma grande parcela da população local ainda não havia se convertido ao cristianismo na Idade Média, não contando portanto com a proteção da Igreja Católica, tornando-se prisioneiros em potencial tanto para muçulmanos quanto cristãos. Algumas famílias filandesas pagavam para recuperar seus parentes, mas a maioria não tinha dinheiro suficiente e não reviam os sequestrados. As crianças e mulheres capturadas que não aguentassem as longas caminhadas pelo gelo até a região do cativeiro, no Mar Negro, eram abandonadas para morrer, sendo elevado o número de cativos que morriam durante a cansativa jornada sob baixas temperaturas.
A escravidão na América
Na civilizações pré-colombianas (maia, asteca e inca) e povos existentes no continente americano antes da colonização dos europeus, as pessoas eram tornadas escravas através do aprisionamento em guerras ou por dívidas, mas não eram obrigadas a permanecer como tal durante toda a vida. Podiam ser libertadas mediante o pagamento das dívidas ou como premiação por bons serviços prestados ao longo dos anos, apesar desta "premiação" ocorrer normalmente apenas quando o escravo atingia elevada idade. Eram empregados na agricultura e no exército. Para incentivar a produtividade e a submissão, era usual entre os maias e incas, no caso da libertação por bons serviços, permitir à pessoa libertada escolher um de seus filhos para ser libertado juntamente.
Entre os incas, os escravos recebiam uma propriedade rural, na qual plantavam para o sustento de sua família, reservando ao imperador uma parcela maior da produção em relação aos cidadãos livres. Era costume dos astecas escravizar prisioneiros de guerra para mais tarde serem oferecidos em rituais de sacrifício humano aos deuses.
Em minha opinião há muita idealização e pouca informação sobre a escravidão entre os povos nativos da América antes da colonização do continente por parte dos europeus. Do que me lembro em leituras diversas ao longo do tempo (com informações não confirmadas) os povos nativos na América no Norte não tinham por hábito o comércio de escravos, mantendo prisioneiros de guerra visando a negociação de pagamento de resgates. Eventualmente prisioneiros de uma determinada guerra trabalhavam até sua morte devido à falta de interesse ou possibilidade de resgate por parte de seu povo original, mas não era essa a intenção dos captores.
Entre os povos da América do Sul, caracterizados em boa parte pelo nomadismo, era considerado muito trabalhoso e pouco lucrativo manter escravos. Mesmo as tribos sedentárias preferiam alianças do que capturas para aumentar seus exércitos e força de trabalho. Os prisioneiros de guerra eram devorados ou sacrificados em rituais religiosos, raramente tornando-se escravos, e quando isso acontecia não havia uma cultura de troca ou perpetuação de indivíduos para o trabalho escravo.
Com a colonização do continente americano pelos europeu, primeiramente tentou-se escravizar os nativos para a realização dos trabalhos necessários, mas o isolamento quase total do continente com o restante do planeta evitou, ao longo de gerações, o contato dos americanos com uma série de doenças e, com o sistema imunológico despreparado para o contato com tantas patologias diferentes simultaneamente, trazidas à América por diferentes nações colonizadoras, os nativos foram dizimados por epidemias. As doenças causaram a maioria das mortes, que somadas a outras por mal tratos e rebeliões, tornaram a América um continente com muito território onde proporcionalmente habitavam poucas pessoas, o que motivou o deslocamento de habitantes da África e Ásia para trabalharem como escravos na América.
Não consegui informações conclusivas dos motivos que levaram à superioridade do número de africanos escravizados em relação aos asiáticos (uma vez que o leste e sudeste da Ásia já possuíam grande concentração populacional na época). No caso da parte ocidental do território americano (na qual se inclui o atual Brasil), fica óbvio que a proximidade geográfica com a África tornava as rotas menores, portanto com menos custos e menor probabilidade de perdas ao longo de viagens mais curtas; mas não consegui encontrar justificativas de tão baixa quantidade de desembarques de escravizados asiáticos na parte oriental da América.
Agradeço informações adicionais sobre a escravidão entre os povos nativos da América nos comentários desta postagem, por parte dos leitores deste blog.
Entre os incas, os escravos recebiam uma propriedade rural, na qual plantavam para o sustento de sua família, reservando ao imperador uma parcela maior da produção em relação aos cidadãos livres. Era costume dos astecas escravizar prisioneiros de guerra para mais tarde serem oferecidos em rituais de sacrifício humano aos deuses.
Em minha opinião há muita idealização e pouca informação sobre a escravidão entre os povos nativos da América antes da colonização do continente por parte dos europeus. Do que me lembro em leituras diversas ao longo do tempo (com informações não confirmadas) os povos nativos na América no Norte não tinham por hábito o comércio de escravos, mantendo prisioneiros de guerra visando a negociação de pagamento de resgates. Eventualmente prisioneiros de uma determinada guerra trabalhavam até sua morte devido à falta de interesse ou possibilidade de resgate por parte de seu povo original, mas não era essa a intenção dos captores.
Entre os povos da América do Sul, caracterizados em boa parte pelo nomadismo, era considerado muito trabalhoso e pouco lucrativo manter escravos. Mesmo as tribos sedentárias preferiam alianças do que capturas para aumentar seus exércitos e força de trabalho. Os prisioneiros de guerra eram devorados ou sacrificados em rituais religiosos, raramente tornando-se escravos, e quando isso acontecia não havia uma cultura de troca ou perpetuação de indivíduos para o trabalho escravo.
Com a colonização do continente americano pelos europeu, primeiramente tentou-se escravizar os nativos para a realização dos trabalhos necessários, mas o isolamento quase total do continente com o restante do planeta evitou, ao longo de gerações, o contato dos americanos com uma série de doenças e, com o sistema imunológico despreparado para o contato com tantas patologias diferentes simultaneamente, trazidas à América por diferentes nações colonizadoras, os nativos foram dizimados por epidemias. As doenças causaram a maioria das mortes, que somadas a outras por mal tratos e rebeliões, tornaram a América um continente com muito território onde proporcionalmente habitavam poucas pessoas, o que motivou o deslocamento de habitantes da África e Ásia para trabalharem como escravos na América.
Não consegui informações conclusivas dos motivos que levaram à superioridade do número de africanos escravizados em relação aos asiáticos (uma vez que o leste e sudeste da Ásia já possuíam grande concentração populacional na época). No caso da parte ocidental do território americano (na qual se inclui o atual Brasil), fica óbvio que a proximidade geográfica com a África tornava as rotas menores, portanto com menos custos e menor probabilidade de perdas ao longo de viagens mais curtas; mas não consegui encontrar justificativas de tão baixa quantidade de desembarques de escravizados asiáticos na parte oriental da América.
Agradeço informações adicionais sobre a escravidão entre os povos nativos da América nos comentários desta postagem, por parte dos leitores deste blog.
A escravidão na Oceania
A Oceania foi o último continente a ser colonizado pelos europeus, daí ser chamado de Novíssimo Mundo. Da mesma forma que ocorreu na América, a Austrália e as ilhas da Oceania eram habitadas por diferentes povos antes da colonização européia. Muitos foram dizimados e os que sobreviveram ainda lutam pelos seus direitos.
Os aborígenes e os polinésios são os povos nativos da Oceania. Os aborígenes formavam a população original da atual Austrália e ocupavam a maior parte do território da ilha. Antes do processo de colonização, os aborígenes totalizavam cerca de 750 mil indivíduos, subdivididos em 500 grupos e com aproximadamente 300 dialetos diferentes. A maioria das aldeias possuía estilo de vida próprio, com manifestações culturais e religiosas específicas.
Os portugueses foram os primeiros europeus a explorar a região, em 1525. Os holandeses chegaram em 1642. Ambos realizavam negócios com as lideranças locais, sem enviar tropas ou colonos para dominar a região, portanto sem um processo de escravização. A rivalidade entre estas nações foi substituída pela dos ingleses e franceses, no século 18. Com o processo de ocupação iniciado em 1758 pelos ingleses, deu-se início ao massacre das comunidades aborígenes. Muitos eram forçados a trabalhar em lavoras sob regime de escravidão, os locais considerados sagrados foram destruídos pelos colonizadores, militares ingleses visitavam as aldeias oferecendo presentes, fingindo uma aproximação amigável, e envenenavam a água e os alimentos dos aborígenes com arsênio, matando muitos e contaminando plantações e criações de animais.
Os franceses colonizaram as ilhas menores, habitadas em geral pelos polinésios que, divididos em pequenas comunidades autônomas, foram incapazes de oferecer resistência às armas de fogo nos navios e mosquetões franceses. Os polinésios que não morreram na resistência ou fugiram, foram escravizados pela França como mão de obra local para agricultura e extração de madeira.
Não consegui muitas fontes de pesquisa sobre a escravidão na Oceania entre os povos nativos. Agradeço informações adicionais nos comentários desta postagem, por parte dos leitores deste blog.
Os aborígenes e os polinésios são os povos nativos da Oceania. Os aborígenes formavam a população original da atual Austrália e ocupavam a maior parte do território da ilha. Antes do processo de colonização, os aborígenes totalizavam cerca de 750 mil indivíduos, subdivididos em 500 grupos e com aproximadamente 300 dialetos diferentes. A maioria das aldeias possuía estilo de vida próprio, com manifestações culturais e religiosas específicas.
Os portugueses foram os primeiros europeus a explorar a região, em 1525. Os holandeses chegaram em 1642. Ambos realizavam negócios com as lideranças locais, sem enviar tropas ou colonos para dominar a região, portanto sem um processo de escravização. A rivalidade entre estas nações foi substituída pela dos ingleses e franceses, no século 18. Com o processo de ocupação iniciado em 1758 pelos ingleses, deu-se início ao massacre das comunidades aborígenes. Muitos eram forçados a trabalhar em lavoras sob regime de escravidão, os locais considerados sagrados foram destruídos pelos colonizadores, militares ingleses visitavam as aldeias oferecendo presentes, fingindo uma aproximação amigável, e envenenavam a água e os alimentos dos aborígenes com arsênio, matando muitos e contaminando plantações e criações de animais.
Os franceses colonizaram as ilhas menores, habitadas em geral pelos polinésios que, divididos em pequenas comunidades autônomas, foram incapazes de oferecer resistência às armas de fogo nos navios e mosquetões franceses. Os polinésios que não morreram na resistência ou fugiram, foram escravizados pela França como mão de obra local para agricultura e extração de madeira.
Não consegui muitas fontes de pesquisa sobre a escravidão na Oceania entre os povos nativos. Agradeço informações adicionais nos comentários desta postagem, por parte dos leitores deste blog.
Homens e mulheres escravos servindo num banquete romano ( Dougga - Tunísia, século 3 d.C. )
X = X = + = X = X
Para uma análise das origens do preconceito e do racismo, acesse:
https://historiasylvio.blogspot.com.br/2018/02/preconceito-racismo.html
X = X = + = X = X
Para uma breve história da escravidão no Brasil, acesse:
https://historiasylvio.blogspot.com.br/2018/04/escravidao-no-brasil.html
https://historiasylvio.blogspot.com.br/2018/04/escravidao-no-brasil.html
Escravidão e massacre no Congo durante o reinado do belga Leopoldo II ( 1885 a 1908 )
Fontes de referência:
Wikipédia
Escravidão
Blog da Escola Estadual EEMAS
A escravidão, da pré-história a atualidade
http://escolaeemas.blogspot.com.br/2014/07/a-escravidao-da-pre-historia-atualidade.html
Uol Educação
Uol Educação
História da escravidão: Exploração do trabalho escravo na África
A rota do escravo – Documentário
http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/a-rota-dos-escravos
Sua Pesquisa
http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/a-rota-dos-escravos
Sua Pesquisa
Escravismo na Grécia Antiga
Escravidão na Grécia Antiga
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_na_Gr%C3%A9cia_Antiga
Wikipédia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_na_Gr%C3%A9cia_Antiga
Wikipédia
Escravidão na Roma Antiga
Escravidão na Europa Medieval
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_na_Europa_Medieval
Geledés
História do Mundo
África na Idade Média
https://historiadomundo.uol.com.br/idade-media/a-africa-na-idade-media.htm
Medieval Archives
https://historiadomundo.uol.com.br/idade-media/a-africa-na-idade-media.htm
Medieval Archives
As rotas de tráfico de escravos medievais se estendiam da Finlândia para a Ásia Central
http://www.medievalarchives.com/2014/05/30/medieval-slave-trade-routes-extended-from-finland-central-asia
http://www.medievalarchives.com/2014/05/30/medieval-slave-trade-routes-extended-from-finland-central-asia
Geledés
Os escravos loiros de olhos azuis da Europa
Metapédia
Curiosidades Terra
10 produtos que são de trabalho escravo e você nem se dá conta disso
Lista de Curiosidades
10 curiosidades sobre a escravidão
http://www.listadecuriosidades.com.br/diversos/historia/10-curiosidades-sobre-escravidao
10 curiosidades sobre a escravidão
http://www.listadecuriosidades.com.br/diversos/historia/10-curiosidades-sobre-escravidao
Mistérios do Mundo
Agradeço ao leitor e colaborador Sergio Marcus Pinto Lopes, que com sua cultura e amizade pela verdade e conhecimento, me informou, através de e-mail, sobre um erro (grosseiro) que cometi na provável escravidão pré-histórica, sugerindo uma forma de corrigir o texto.
ResponderExcluirA correção já foi feita e fico satisfeito em poder oferecer uma publicação mais assertiva e confiável graças à participação do Sérgio!