sábado, 22 de setembro de 2018

Mausoléu Nacional


Museu Nacional destruído por incêndio

A destruição do Museu Nacional

Não vou me alongar em detalhes sobre o incêndio que destruiu o Museu Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Entre indignado e entristecido, não tenho ânimo para analisar aqui o assunto. Os links que aqui disponibilizo já fornecem informações suficientes sobre o tamanho do descaso e do prejuízo nesta lamentável situação.
Deixo aqui no blog um registro sobre como não investimos no nosso passado, por isso não temos bons prognósticos de futuro como nação, uma vez que cada vez mais os brasileiros focam no que podem conseguir a curto prazo (seja pela simples sobrevivência em meio à pobreza material; seja pela idiotice do imediatismo individualista e preguiça em meio à pobreza intelectual). O Brasil tem independência, mas não a usa de forma construtiva e próspera para os brasileiros!

As chamas que destruíram o museu começaram aproximadamente às 19:30hs de 2 de setembro de 2018 (domingo), depois de encerrado o horário de visitação, e em aproximadamente 6 horas consumiram em torno de 90% do acervo de 20 milhões de itens, catalogados ao longo de 200 anos. 
Segundo depoimento dos vigias que trabalhavam no local na ocasião, o fogo começou no segundo andar e na parte de trás do museu, por isso demoraram para perceber o incêndio e, quando constataram, já não era mais possível que fizessem alguma coisa.
O paleontólogo Alexander Kellner, diretor no Museu Nacional, declarou que pelos relatos dos vigilantes, o fogo começou na Sala do Imperador. O motivo mais provável é algum incidente com o sistema elétrico. 
Boa parte da estrutura do prédio era de madeira e o acervo tinha muito material inflamável – o que fez o fogo se espalhar rapidamente. Quatro vigilantes estavam no local, mas eles conseguiram sair e ninguém ficou ferido.
Também o edifício histórico que abrigava o museu  antiga residência oficial dos Imperadores do Brasil  foi extremamente danificado em seus os três andares, com rachaduras, desabamento de sua cobertura, além da queda de lajes internas.

Os repasses do Governo Federal ao museu haviam caído praticamente à metade em cinco anos: de 1,3 milhão de reais em 2013, para 643 mil reais em 2017. Em 2018, até julho, somente R$ 71 mil reais haviam sido transferidos para o museu. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)  que administra a instituição  reduziu de 709 mil reais, em 2013, para 166 mil reais, em 2017, o desembolso com o funcionamento do museu.

O Museu Nacional apresentava deficiências na segurança contra incêndios. Em uma fiscalização feita em 15 de setembro de 2014, o Ministério da Transparência e a Controladoria-Geral da União (CGU) constataram que a instituição não tinha laudo atualizado de vistoria do Corpo de Bombeiros (fato este que, acredito, ocorre com a maioria dos museus no país).
Assim como muitos museus e construções históricas no Brasil, já havia documentação avisando sobre as condições inadequadas de funcionamento, com deficiências estruturais e administrativas. Cultura não é prioridade para o nosso povo, História menos e museus menos ainda. Os que se mantém atualmente é devido mais pela dedicação de funcionários apaixonados do que por um projeto governamental.
Depois do incêndio, as autoridades (in)competentes se apressaram em afirmar desolação e preocupação, bem como liberação de grandes quantias de dinheiro e mão de obra para a "reforma" do Museu Nacional. Reformar o que? As paredes externas do antigo Palácio Imperial que ainda não desabaram? Os pisos dos andares, a maior parte dos objetos históricos, instrumentos de pesquisa e coleções foram consumidas pelo fogo (consumação da negligência). Como é típico da política brasileira, se apressam em fazer obras de fachada para manter as aparências superficiais que encubram as deficiências essenciais... 
Revoltante este previsível e inútil teatro para a mídia e opinião pública, tentando encobrir a necessidade de responsabilização penal e financeira para os (ir)responsáveis que causaram esta enorme perda histórica para o Brasil – e que ainda continua acontecendo neste momento, em dezenas de importantes museus no país, exatamente pelos mesmos motivos: falta de investimento governamental, burocracia ineficiente e lenta, incapacidade técnica na (in)gestão do patrimônio público.

O incêndio que destruiu este museu foi um fenômeno bastante visível e rápido, mas geralmente os agentes que estão acabando com o patrimônio histórico brasileiro são silenciosos e lentos, menos intensos e perceptíveis: cupins, infiltrações hidráulicas, fiações elétricas desgastadas, trepidação por trânsito cada vez mais pesado, deficiência de planejamento administrativo, falta de verbas públicas e desinteresse popular. 
Torço para que a morte do Museu Nacional sirva ao menos para promover uma sobrevida a outros museus no Brasil – que são importantes e estão sendo continuamente negligenciados – através de investimento para manutenção física, melhora da gestão e incentivo de parcerias com instituições de ensino e empresas! 

Fontes de referência:

Wikipédia
Incêndio no Museu Nacional do Brasil em 2018
O Globo
Funcionários do Museu Nacional conseguiram resgatar peças durante incêndio
Solidariedade transatlântica: Portugal em luto pelo Museu Nacional do Brasil
Verba para Maracanã bancaria museu por 1.770 anos. Veja outras comparações
Governo vai liberar recursos emergenciais para o Museu Nacional no Rio
Governo publica Medida Provisória que cria a Agência Brasileira de Museus
Após incêndio no Museu Nacional, promotoria pede interdição de seis museus federais no Rio
Incêndio no Museu Nacional do Rio pode ter sido causado por balão ou curto-circuito

Desespero de funcionários e colaboradores + Prejuízo para a memória da nação brasileira
Imagem: https://www.gazetadopovo.com.br/o-descaso-com-nossa-cultura-e-legado-historico 

Incêndio entre 2 e 3 de setembro de 2018 devastou os três andares do Museu Nacional (RJ)
Imagem: https://www.tribunapr.com.br/incendio-no-museu-nacional-foi-controlado-no-meio-da-madrugada 

Reforma X Restauração

A manutenção de museus é algo caro e com mão de obra restrita, difícil de encontrar! O museu lida com a revitalização do antigo, conservando-o para que sirva como referência de comparação e inspiração para melhorias no presente.
Se desejo reformar algo, posso colocar materiais, cores e formas diferentes, o que permite barganhar com diferentes fornecedores e fazedores, em busca de preços mais baixos. Se quero restaurar algo, é necessário pesquisar de qual matéria é feito originalmente, qual técnica foi usada para unir partes, composição original das tintas da época, etc. 

Para reformar uma parede, eu pinto com a marca e cor de tinta que eu quiser. Se o resultado me agradou, a reforma foi bem sucedida. Se quero restaurar uma parede, preciso raspar pequenos trechos diferentes, com técnicas adequadas, para pesquisar quantas camadas de tinta, papel de parede ou outro material está(estão) por baixo, depois analisar em laboratório a composição do material a usar (quantidade de chumbo, pigmento natural ou artificial usado na tinta; fabricante e tintas usadas no papel de parede, tipo de tijolo ou pedra e de onde foi extraído para construção). Daí pode-se imaginar o quanto de custo e tempo a mais é necessário para se fazer uma restauração, quando comparado a uma reforma.

Museu Nacional após incêndio (manhã de 3 de setembro de 2018)

Museu Nacional destruído por falta de investimento!
Muito dinheiro público destinado para estádios de futebol e pouco para instituições culturais.
Museu Nacional após incêndio (manhã de 3 de setembro de 2018) com estádio do Maracanã próximo.

Progressiva bestialização do povo brasileiro e a função dos museus

Em diversos aspectos os brasileiros têm caminhado para trás: altíssimos números de mortes por violência e acidentes de trânsito causados por imprudência e desrespeito; impressionante quantidade de estupros e agressões contra as mulheres; aumento da quantidade de casos de exploração e violência com crianças e idosos; baixos percentuais no rendimento do sistema escolar; entre outros recorrentes motivos de preocupação e vergonha como nação.
Nos últimos anos, novas características vieram a se somar a esta triste lista: decréscimo do "verniz social"; usualidade da desonestidade; progressiva intolerância em variadas formas; também radicalização de posicionamento político baseado em muita conveniência e pouca informação com reflexão. 
Se "civilizar" é sair da condição natural dos animais e ser transformado pelo acréscimo de sabedoria (em forma de cultura e educação), estamos nos tornando um povo menos civilizado. Museus e outras instituições culturais que permanecem ociosas ou são fechadas – por falta de interesse e investimento  são indicadores de uma sociedade mais embrutecida, que nivela por baixo suas realizações e aspirações.
Uma das características dos animais (não civilizados, ditos inferiores à raça humana) é viver no presente e para o presente, sem conhecer o passado ou se preocupar com o futuro. 

Qual é a importância de um museu?

O museu lida com a revitalização do antigo, conservando para que sirva como referência de comparação e inspiração de melhoras. É um agente civilizatório na medida em que resguarda exemplares de seres e objetos, explicando sua natureza e o contexto de sua existência, podendo ser também um lugar de experimentações sensoriais, (re)significações de hábitos culturais e especulações intelectuais, além de pesquisas acadêmicas e comerciais.

Civilização:
1. Conjunto das características próprias da vida intelectual, social, cultural, tecnológica etc., que são capazes de compor e definir o desenvolvimento de uma sociedade ou de um país.
2. Tipo de sociedade e/ou de cultura que se desenvolve a partir da influência de um povo, numa certa época, cujas características específicas serão transmitidas as gerações que se seguirão.
Fonte: Dicionário Online de Português
           https://www.dicio.com.br/civilizacao 

Bestialização:
1. Assemelhar-se a uma besta (animal), geralmente, tendo em conta seu modo de agir e/ou seu aspecto: a falta de inteligência bestializa o ser humano.
2. Ficar estúpido; fazer com que se torne bronco (ignorante/grosseiro).
Fonte: Dicionário Online de Português
            https://www.dicio.com.br/bestializar 

Interior do Museu Nacional depois do incêndio
Foto por Márcio Alves )

Interior do Museu Nacional antes do incêndio
( Foto por Alexandre Macieira )
outras fotos no link abaixo

Vídeos:

Uma visita mediada ao Museu Nacional - UFRJ
(13:23)

Vídeo do Museu Nacional na manhã de 3 Set 2018 (depois do incêndio)
(02:18)

O incêndio do Museu Nacional - o que você precisa saber
(10:06)

Luto pelo Museu Nacional

sábado, 15 de setembro de 2018

Penhor


O testamento do tesoureiro
Autora: Angela Xavier

No início do século XX, havia um senhor muito dedicado e correto, que era tesoureiro de uma Ordem Terceira* de Ouro Preto. Todos os anos ele prestava contas de tudo com correção inigualável, sendo sempre reeleito para o cargo. Não era rico, mas era proprietário de algumas casas.
Já velho e não tendo herdeiros, fez um testamento que guardou cuidadosamente no fundo de um baú. Adoeceu gravemente e, apesar dos cuidados, veio a falecer. Seus companheiros de Ordem Terceira cuidaram dos detalhes de seu enterro e do testamento.
O testamento era um longo texto onde ele pedia perdão a um ou outro, refletia sobre suas lembranças e contava um episódio que surpreendeu a todos.
Relatou que sempre respeitara o cargo de tesoureiro que lhe haviam confiado e que, certa vez, precisando de trezentos mil réis para reformar uma de suas propriedades, ele se dirigiu ao altar de Nossa Senhora e lhe pediu um empréstimo. Ajoelhado diante da imagem da virgem, por três vezes pediu-lhe a quantia desejada. Como a virgem nada respondia, ele concluiu:
– Quem cala, consente!
E tomou a quantia desejada do cofre da Virgem. Foi repondo, pouco a pouco, o que havia tomado emprestado até nada ficar devendo. Como gratidão, ele deixou para a Ordem tudo o que possuía.
A Ordem recebeu suas propriedades e bens, mandando celebrar missas por sua alma durante muitos anos.

* As ordens terceiras são um tipo de confraria, uma associação de leigos que se reúnem em torno da devoção de um santo. Distinguem-se das irmandades por estarem associadas às ordens religiosas da Idade Média.
Durante a colonização do Brasil, várias ordens religiosas se estabeleceram na colônia. As que mais tiveram influência foram os beneditinos, carmelitas, franciscanos, capuchinhos e os jesuítas. As ordens terceiras mais atuantes no Brasil foram a Ordem Terceira do Carmo e a Ordem Terceira de São Francisco.

◄ ♦ ►

Texto adaptado do livro “Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto”, de Angela Leite Xavier.
Págs. 78 e 79.
Edição do Autor; Ouro Preto (MG); 2009 (2ª edição).

Obs.: Esta postagem foi realizada mediante prévia autorização da autora.

Para mais "causos" e contos de Angela Xavier, acesse o blog dela:
Compartilhando Histórias
http://www.angelaleitexavier.blogspot.com.br 

Livro : Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto

O livro reúne mais de 70 histórias, ambientadas do século XVIII até início do XX, coletadas junto a moradores ou em livros sobre a cidade. Olavo Romano, responsável pelo prefácio, afirma que "Ouro Preto era cheia de fantasmas, uma cidade mal iluminada, repleta de capelas e cemitérios, onde ninguém saia de casa depois das 21 horas. Trata-se de um livro que narra a História de Ouro Preto de uma forma agradável, à maneira dos contadores de histórias, e está entremeada de lendas e causos. Começa chamando a atenção do leitor para a necessidade de se preservar aquilo que faz parte da nossa memória e relata a descoberta do ouro, os conflitos que surgiram no início e as revoltas". 
A ênfase do livro é dada às histórias dentro da História, nas curiosidades que os livros de História não relatam, na sociedade que se formou ao redor das minas de ouro com suas crenças, seus valores e sua religiosidade. Relatos de grandes festas, de muitos casos assombrados e tesouros escondidos. A ilustração, com desenhos em bico de pena, é do artista plástico ouro-pretano José Efigênio Pinto Coelho.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A esquerda pode !

 
Jair Bolsonaro é operado na Santa Casa de Juiz de Fora
     Imagem: https://www.otempo.com.br/facada-atingiu-intestino-de-bolsonaro-que-chegou-quase-morto-ao-hospital 

Atentado contra a vida de Jair Bolsonaro, candidato à presidência da República

Na tarde desta quinta-feira (6 de setembro de 2018), o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) levou uma facada na região abdominal durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), na rua Halfeld próximo à esquina com a rua Batista de Oliveira. O autor da tentativa de assassinato, identificado como Adélio Bispo de Oliveira, foi preso em flagrante.

O presidenciável deu entrada na urgência da Santa Casa de Juiz de Fora às 15h40, passou por um exame de ultrassonografia e foi encaminhado para cirurgia.
A facada atingiu a veia cava inferior  principal veia que transporta o sangue venoso do abdômen e dos membros inferiores para o coração – ocasionando grande perda de sangue e perigosa baixa na pressão arterialBolsonaro precisou receber transfusão de duas bolsas de sangue durante cirurgia da cavidade abdominal.
Foi detectado que o intestino grosso foi transfixado pela faca, mas o órgão foi costurado. Outras três lesões foram detectadas no intestino delgado, mas também foram tratadas com êxito. A facada também atingiu a artéria mesentérica, que leva sangue para o intestino.
Em um primeiro momento, se cogitava que o fígado do candidato havia sido atingido, o que foi descartado. 
Após os procedimentos cirúrgicos, ele foi levado ao Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade hospitalar, onde se recupera no momento. 

O homem suspeito do crime foi preso em flagrante e levado para a Superintendência da Polícia Federal, em Juiz de Fora, para prestar esclarecimentos. Os policiais tiveram dificuldade em retirá-lo do local do crime porque apoiadores de Bolsonaro tentavam linchá-lo.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Adélio Bispo de Oliveira foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014. Ainda segundo o tribunal, Adélio é natural da cidade mineira de Montes Claros, se filiou ao PSOL na cidade de Uberaba (MG) e pediu o desligamento do partido por conta própria. 
Em depoimento para a polícia, ele alegou "questões pessoais" como motivação para o ataque.

Em minha opinião é indiferente se o agressor é ou foi filiado a um partido político, pois considero tal ato mais passional do que institucional (uma vez que uma arma de fogo teria resultados mais garantidos do que uma mera faca). Mas quero aproveitar a ocasião para mais uma vez salientar como os simpatizantes da política de esquerda exibem um discurso de coitadinhos, defensores da liberdade e da paz, mas agem com a mesma intransigência e violência daqueles a quem criticam e caracterizam como opressores na direita política.
Há crescente número de militantes de esquerda que se declaram vítimas excluídas pelo sistema, mas cada vez mais mostram-se parasitas que só querem saber do venha a mim e o resto que se dane. Gostaram da ideia  disseminada nos últimos tempos que um governo deve pegar dinheiro dos ricos para dar aos pobres, sem critérios ou méritos. Por ignorância ou hipocrisia, desprezam o óbvio em favor de suas necessidades e vontades, vendo-se com cada vez mais direitos e menos deveres sociais, por isso agindo de modo sem-vergonha e sem limites. 
Considerável parte do povo brasileiro, cada vez mais bestializado, tende a criar e idolatrar imagens de messias e mitos; afastando-se de análises racionais e factuais, dedicam-se à adoração e alienação, desconsiderando uma política de gestão eficiente, que conduza à prosperidade e tranquilidade.
Se esfaqueassem o lula, este seria visto como um mártir coitadinho. Já os seguidores do Bolsonaro irão enaltecê-lo como um super-herói fodão. E a sensatez vai se perdendo num mar de idiotice...
Está aberta a fase do mata-mata nas eleições de 2018!

Fontes de referência:

Uol
Bolsonaro leva facada em ato de campanha em Juiz de Fora (MG)

O Tempo
Facada atingiu intestino de Bolsonaro, que chegou 'quase morto' ao hospital