sábado, 10 de agosto de 2019

Sucateamento ferroviário


Pátio ferroviário com carros abandonados e depenados
Linhas ferroviárias que poderiam estar em uso estão servindo como estacionamento.

Depois de cinco décadas de abandono nas ferrovias brasileiras, as viagens de trem no país praticamente acabaram. O que era um projeto de integração nacional através das ferrovias virou sucata. Na década de 1960, eram mais de 37 mil quilômetros de ferrovias – principalmente no Sudeste e no Nordeste – fazendo pelo menos uma parte do que hoje se faz de carro, ônibus ou avião.
Depois de 16 anos estudando a história dos trens no Brasil, Ralph Guisbrert concluiu que o maior problema foi o sucateamento da linha férrea durante a Segunda Guerra Mundial: "As pessoas mais ricas, que eram quem sustentava os trens de passageiros, rapidamente largaram os trens de passageiro e começaram a andar de carros, que já chegavam cada vez mais baratos. Então começou a cair  a manutenção dos trens, das vias férreas, das estações ferroviárias".

O atual abandono do sistema ferroviário brasileiro não é somente falta de inteligência e desperdício de recursos, é uma traição e desrespeito à dedicação, energia e tempo dos ferroviários que implantaram e mantiveram uma estrutura eficiente enquanto lhes foi possível. 
Com o crescimento da população, cresce também a dificuldade e necessidade de um sistema de transporte público diversificado, eficiente e com preços acessíveis. O modelo rodoviário está saturado enquanto o sistema ferroviário está em desuso quase por completo na viagens intermunicipais e interestaduais.

Galpão ferroviário abandonado
Tornos e ferramental perdidos por desuso ou furto. Local de proliferação de doenças e crimes.

Carro de passageiros depredado - Sete Lagoas (MG)
Veículos funcionais foram vandalizados e furtados ao longo de anos de abandono.

Ruínas da estação ferroviária Elihu-Root - Araras (SP)
Trilhos, dormentes e brita foram roubados. Local de proliferação de doenças e crimes.

Ponte ferroviária abandonada em Rondinha - Paulo Frontin (PR)
Trilhos, dormentes e brita foram roubados. Aço e concreto de alta qualidade desperdiçados.

Túnel ferroviário abandonado em Gravatá (PE) - 2016
Local de proliferação de doenças e crimes, devido ao desuso.

Viaduto ferroviário abandonado em Gravatá (PE) - 2016
Toneladas de concreto e aço de alta qualidade sem uso.

Trilhos roubados em Campo Grande (MS) - 2017
Trilhos, dormentes e brita são furtados aos poucos para uso na construção civil ou venda.

Escolhi fotos que ilustram o estado de degradação por abandono e vandalização – somando-se a isso furtos – do patrimônio ferroviário nacional, construído com dinheiro público e que não está beneficiando a população, criando prejuízo financeiro e social.  
Quando digo patrimônio ferroviário, entenda que além das instalações das estações, dos trilhos, locomotivas, carros de passageiros e vagões de transporte de carga, há obras de engenharia (pontes, viadutos, túneis, obras de contenção de encostas), veículos sobre trilhos de manutenção, oficinas, vilas de funcionários, escolas, hospitais, instituições sociais (como bandas de música e times de futebol), veículos de apoio (como ambulâncias, caminhonetes, caminhões, etc.) ferramental das oficinas e material administrativo (mesas, cadeiras, fichários, etc.). Tudo isso deteriorando ou sendo roubado há anos  tornando-se local de refúgio de criminosos, drogados e animais transmissores de doenças – enquanto sucessivos políticos e funcionários públicos ignoram este visível absurdo. 
Dos 28 mil quilômetros de estradas de ferro entregues em 1999 pelo Estado à iniciativa privada, cerca de 16 mil quilômetros foram abandonados unilateralmente pelas concessionárias, em ofensa à legislação e aos contratos de concessão. O prejuízo ao Erário Público é estimado em mais de R$ 40 bilhões, e este valor aumenta a cada ano que passa.

Pátio de trens com sucata ferroviária em São Paulo
Falta de uso e canibalização estão diminuindo o patrimônio ferroviário brasileiro.

Rotunda abandonada em Campinas (SP) - 2010
Veículos usados como fonte para reposição de peças se tornam ferro-velho ocupando espaço.

Ruínas da estação ferroviária de Chiador (MG)
Edificações se deterioram ao ponto de ruir. Falta de gestão e procrastinação do poder público. 

Desestatização

A Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA) foi incluída no Plano Nacional de Desestatização em 1992 (Decreto nº 473/92). As 12 superintendências regionais da RFFSA foram divididas em seis malhas ferroviárias, a serem oferecidas à iniciativa privada por meio de licitação na modalidade leilão. A concessão do serviço público de transporte ferroviário de cargas ocorreria pelo prazo de 30 anos, com o arrendamento à concessionária dos ativos operacionais da RFFSA. À época, a situação das malhas a serem privatizadas era de precariedade financeira, quadro de pessoal superdimensionado e deterioração de seus operacionais. A RFFSA contratou financiamento do Banco Mundial para a implementação de recuperação da malha ferroviária a fim de viabilizar os leilões. As obrigações e metas estabelecidas pelo Governo às concessionárias eram aumentar o volume do transporte ferroviário e reduzir o número de acidentes. Não foram exigidos investimentos específicos. O Estado delegou à iniciativa privada decidir sobre como e em quais áreas deveria investir para prestar o serviço com qualidade e rentabilidade.

Fonte:
Molina
Sucateamento criminoso do que foi a malha ferroviária federal
http://molinacuritiba.blogspot.com/2011/06/sucateamento-criminoso-do-que-foi-malha.html 

Concessões das ferrovias brasileiras
Investimento no transporte de carga e abandono no transporte de passageiros.

Vídeo:



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Para mais considerações sobre as ferrovias brasileiras, acesse uma série de 3 publicações neste blog:
https://historiasylvio.blogspot.com/search/label/Ferrovias 

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