quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Descobrimento do Brasil

A verdadeira descoberta do Brasil

Rota de Portugal para a Índia (linha) e o retorno (tracejado)
Imagem: smartkids.com.br

Como aconteceu o descobrimento do Brasil

Para aproveitar o sucesso da viagem em que Vasco da Gama havia estabelecido um caminho marítimo de Portugal para a Índia, evitando o Mar Mediterrâneo então sob domínio das nações italianas e dos mouros, o rei português Dom Manuel I se apressou em aparelhar uma nova frota para a Índia. Uma vez que a pequena frota com 4 embarcações de Vasco da Gama teve dificuldades de impor o interesses comerciais portugueses na Ásia, a próxima expedição marítima seria a maior até então constituída.
Em 9 de março de 1500, partiu de Lisboa para Índia uma frota composta por 13 navios e aproximadamente 1500 homens, com o objetivo de estabelecer contatos diplomáticos, realizar  acordos comerciais e trazer um grande carregamento de especiarias. Estima-se que esta armada levasse mantimentos para dezoito meses e a empreitada foi liderada pelo experimente navegador Pedro Álvares Cabral, contando com a presença do cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira, entre outros experientes comandantes e navegadores.
Depois da partida os navios se afastaram da costa africana, contrariando a tradicional rota de navegação daquele continente para a chegada à Índia. Nos registros dessa viagem não há menção a nenhum tipo dificuldade ou imprevisto que justificasse a mudança de trajetória. No dia 22 de março de 1500 os navegadores passaram pela Ilha de Cabo Verde e, logo depois, rumaram para o oeste. Esta atitude nunca teve uma explicação clara.
Após um mês de viagem e aproximadamente 3600 quilômetros percorridos, no dia 22 de abril de 1500 os tripulantes tiveram um primeiro contato visual com um elevado que ganhou o nome de Monte Pascoal (pois se encontravam no oitavo dia da páscoa cristã). Nos relatos de Pero Vaz de Caminha, integrante da viagem e responsável por seu registro, não existe nenhuma menção sobre um possível encantamento ou surpresa com a “novidade” da descoberta.
  
Óleo sobre tela "Desembarque de Cabral em Porto Seguro" - Oscar Pereira da Silva (1904)
Acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro
Imagem: brasil.gov.br

Os navios portugueses primeiramente aportaram na região onde hoje se localiza o município baiano de Santa Cruz Cabrália e enviaram um tradutor judeu chamado Gaspar Gama em um grupo comandado pelo capitão Nicolau Coelho para entrar em contato com os nativos. Depois de um primeiro contato amigável com os habitantes, os portugueses decidiram aportar em uma região mais segura e navegaram para a atual região de Porto Seguro. Neste local organizaram na atual Praia da Coroa Vermelha uma missa em 26 de abril de 1500 (domingo de Páscoa) dirigida pelo Frei Henrique de Coimbra, oficializando a descoberta das novas terras.
No dia 2 de maio de 1500, Cabral envia para Portugal um navio comandado por Gaspar de Lemos portando o relato de Pero Vaz de Caminha, com informações gerais sobre a região explorada e o potencial econômico local. No mesmo dia Cabral partiu para a Índia à frente de 12 embarcações, chegando a seu destino em 13 de setembro de 1500 com 6 navios, após naufrágios e extravios de alguns navios devido a tempestades.

Óleo sobre tela "A primeira missa no Brasil" - Victor Meirelles de Lima (1922)
Acervo do Museu Nacional de Belas Artes
Imagem: historiabrasileira.com
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O Tratado de Tordesilhas

Expedições marítimas secretas, espionagem e negociações diplomáticas culminaram no Tratado de Tordesilhas, onde Portugal e Espanha defendiam seus interesses usando pressões políticas, econômicas e militares para garantir o máximo lucro possível.

O Tratado de Tordesilhas foi um acordo diplomático realizado em 7 de junho de 1494 entre o Reino de Portugal e o recém-formado reino da Espanha para dividir as terras "descobertas e por descobrir" por ambos os reinos fora da Europa.
Este tratado surgiu como consequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa Espanhola resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que ano e meio antes chegou à América, reclamando as novas terras para Isabel, rainha do reino espanhol de Castela.
O Tratado estabelecia a divisão das áreas de influência dos dois reinos, cabendo a Portugal as terras "descobertas e por descobrir" situadas a leste (direita) de uma linha imaginária que passaria a 370 léguas marítimas (aproximadamente 2055 Km) a oeste das ilhas de Cabo Verde, e à Espanha as terras que ficassem a oeste (esquerda) dessa linha.
Em 22 de abril de 1529, o outro lado do planeta também seria dividido por outra linha imaginária que delimitava as zonas de influência portuguesa e espanhola na Ásia através do Tratado de Saragoça, que definia a continuação do Meridiano de Tordesilhas no hemisfério oposto, a 297,5 léguas náuticas (aproximadamente 1651 Km) a leste das ilhas Molucas.

Os ingleses, franceses e holandeses contestaram e ignoraram esta divisão do mundo e através de ações comerciais, diplomáticas e militares garantiram seus interesses na América, Ásia e África.

Os meridianos de Tordesilhas
Imagem: www2.crb.ucp.pt
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Perspectivas e reflexões: descobrimento do Brasil ou chegada ao Brasil?

Há um crescente número de historiadores que preferem o termo "chegada ao Brasil" ao invés de "descobrimento do Brasil" por considerar que o termo "descobrimento" é válido somente numa perspectiva ocidental e europeia. Há estimativas que habitavam no atual território brasileiro de 2 a 5 milhões de pessoas em 1500, quando Pedro Álvares Cabral e sua expedição oficializaram na Europa a "descoberta" desta terra. A população de Portugal nesta época era de pouco mais de um milhão de habitantes.
Se há indícios e provas de que outros europeus e asiáticos estiveram na América antes de 1492, considera-se oficialmente como descobrimento e colonização o período após o qual se estabeleceu um contato permanente, comercial e militar, entre a Europa e a América.
Os habitantes da América foram chamados genericamente de "índios" pela primeira vez pelo navegador italiano Cristóvão Colombo em 1492, quando imaginou inicialmente ter chegado à Índia ou suas proximidades, pois este era o objetivo de sua viagem.
Mesmo quando os europeus perceberam que não estavam na Ásia, mas num continente desconhecido, continuaram chamando os povos nativos de índios por ser mais fácil e devido ao desinteresse em conhecer ou respeitar as particularidades das culturas locais, já desenvolvendo então estratégias e políticas de conquista e conversão das populações nativas para os interesses europeus.

É digno de reflexão perceber e entender os motivos pelos quais até nos tempos atuais nós, brasileiros, continuamos a definir genericamente como "índios" as tribos e povos nativos que vivem no Brasil. A tribo Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul tem língua, religião e costumes diferentes da Waimiri Atroari, no Amazonas, que por sua vez não tem semelhanças ou contato significativos com a tribo Tucuju, no Amapá. Definir populações diferentes e distantes como estas em um único termo genérico e superficial é indício de que no século XXI os “brasileiros civilizados” têm uma visão colonialista (desinteressada ou preconceituosa) sobre populações que considera diferentes e não dignas de maior atenção ou respeito.

Outra reflexão interessante é sobre os motivos pelos quais usualmente define-se como "americanos" apenas os nascidos nos Estados Unidos da América e não todas as pessoas nascidas no continente da América. A divisão da América em três (América do Norte, América Central e América do Sul) é consequência de uma separação mais econômica do que geográfica. O termo “América Latina” define os territórios de colonizadores de língua com origem latina (espanhóis e portugueses), diferenciando dos colonizadores de origem anglo-saxônica (ingleses). No entanto, a América do Norte inclui o Canadá, cuja colonização foi inicialmente francesa (de língua latina) que ainda hoje possui grande influência na identidade nacional. A diferenciação entre América do Norte e Latina, que a princípio seria cultural, consolidou-se como econômica e política. Quais os motivos para a manutenção desta divisão? Não são usuais os termos “Europa do Norte” e “Europa Latina”, que poderiam ser usados seguindo a lógica para a classificação da América.


Imagem: blogdoeduardobomfim.blogspot.com

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Curiosidades, verdades e mentiras sobre o descobrimento do Brasil

O navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón participou como capitão da caravela La Niña na frota comandada por Cristóvão Colombo que descobriu a América para os europeus em 1492. Em 1498 a Coroa Espanhola decide incentivar que particulares realizassem viagens de descobrimento. Pinzón partiu em 19 de novembro de 1499 do porto de Palos de La Frontera, no sul da Espanha, com La Niña e outras três pequenas caravelas, com seus próprios recursos recebidos como recompensa pela descoberta de 1492. Em 26 de janeiro de 1500 (três meses antes de Cabral) teria alcançado a costa brasileira, avistando um cabo que denominou como Santa Maria de la Consolación, tendo desembarcado na que é identificada atualmente como Praia do Paraíso, no cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Outra hipótese é que o local de desembarque tenha sido na atual Ponta do Mucuripe (Ceará), 10 quilômetros ao sul de onde atualmente situa-se Fortaleza. 
O navegador prosseguiu em sua viagem margeando a costa em direção ao norte e, em fevereiro, alcançou a foz do rio Amazonas, que batizou como Mar Dulce. Rumando mais ao norte, chegou à atual Ilha Trindad, Porto Rico e Bahamas. Nesta última região, duas das quatro caravelas ficaram presas em um banco de areia e Pizón retorna à Espanha em setembro do mesmo ano.
Deste modo, Pizón teria sido o primeiro a conhecer as três Américas (norte, sul e central), mas a viagem de Pinzón ao Brasil não consta na maior parte das obras oficiais da História do Brasil, pois pelos termos do Tratado de Tordesilhas (1494) as terras descobertas pertenciam a Portugal.

Alguns historiadores defendem que o primeiro português a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, muito hábil em astronomia, navegação e geografia e homem de confiança do rei de Portugal, D. Manoel I. Duarte Pacheco teria chegado ao Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. O primeiro português a confirmar que existiam terras do outro lado do Oceano Atlântico teria desembarcado num ponto localizado nas proximidades da fronteira do Maranhão com o Pará. De lá, iniciou uma viagem para o norte pela costa, indo à ilha do Marajó e à foz do rio Amazonas. Quando regressou a Portugal, o rei determinou que a expedição deveria ser tratada como segredo de Estado, pois parte das terras descobertas encontravam-se em área espanhola, de acordo com a divisão estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.

O Brasil teve diferentes nomes logo após seu descobrimento:
 Pindorama (até 1500) em tupi-guarani significa "Terra das Palmeiras" e era essa a forma como era chamada a terra pelos nativos na região de desembarque dos portugueses.
Ilha de Vera Cruz (1500 a 1501) acreditando-se que as terras descobertas eram uma grande ilha.
Terra de Santa Cruz (1501 a 1503) quando foi constatado que as terras descobertas eram um continente.
Brasil (a partir de 1503) devido a grande quantidade de árvores de pau-brasil existentes na região do litoral.

Se quiser saber mais sobre novas possibilidades para a chegada ao Brasil, acesse os links abaixo:

Wikipédia
Controvérsias sobre o descobrimento do Brasil

Wikipédia
Vicente Yáñez Pizón

Recanto das Letras
Afinal, quem descobriu o Brasil, Pizón ou Cabral?
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2611808 

GeoMundo
O Brasil foi descoberto dois anos antes de 1500
http://www.geomundo.com.br/sala-de-aula-10148.htm
 
Wikipédia
Duarte Pacheco Pereira
http://pt.wikipedia.org/wiki/Duarte_Pacheco_Pereira 

Imagem: brasilescola.com

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Parar mais informações sobre o assunto, acesse os links abaixo:

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Humor:

Imagem: donadequinha.blogspot.com

4 comentários:

  1. Completo e rigoroso o quanto baste, parabens. Apenas continuo sem entender porque é que o Brasileiro ( de hoje ), em geral, acha que os seus ancestrais seriam os nativos? Assim parece, a avaliar pela postura anti-colonial presente em todos os artigos relacionados com o tema. Obrigado e continue.

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    1. Obrigado pelo elogio.
      Particularmente penso que a raiz do atual povo brasileiro situa-se num misto de portugueses e nativos americanos, com pitadas de africanos, europeus e asiáticos, num caldo cultural geral, antigo e explícito.
      Diferentemente de alguns povos do norte da Europa e partes da Ásia, onde há pouca mistura genética, nossa identidade como raça e cultura é tão generalizada que, em geral, é possível ao brasileiro identificar seus ancestrais com quem quiser.
      Na atual tendência do “politicamente correto” incentiva-se referenciar a base do povo brasileiro entre os nativos americanos e negros, considerando-se os europeus como dominadores, mas a verdade é que, de um modo ou outro, quem aqui viveu e morreu contribuiu com seu trabalho para ampliar e depois melhorar esta terra que hoje chamamos Brasil.

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  2. Caro Sylvio,
    Agradeço e registo com agrado a sua resposta. Permita-me concordar e enaltecer o património Histórico e cultural de um povo, que tardou em despertar para a sua verdadeira dimensão no panorama global. As expectativas são grandes e as possibilidades imensas, mas só o orgulho no passado e nas origens poderão cimentar a coesão Nacional que agora se impõe. Quanto melhor nos conhecermos, mais acreditamos nas nossas potencialidades.

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    1. Concordo!
      Se conhecemos nossa essência, aumenta a probabilidade de acertos e diminui a de erros desnecessários.
      Árvore que não tem raízes fortes dificilmente gera bons frutos.

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