sábado, 14 de junho de 2014

Guerra de Trincheiras

As trincheiras na Primeira Guerra Mundial
A guerra nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial

O início da Primeira Guerra Mundial foi marcado, em agosto de 1914, pelo ataque alemão através da Bélgica em direção à França. Este avanço foi repelido no início de setembro de 1914, nos arredores de Paris, por tropas francesas e britânicas, na Primeira Batalha do Marne. Os aliados empurraram as forças alemãs para trás cerca de 50 km. Os germânicos seguiram então para o vale do Aisne, onde prepararam suas posições defensivas.
As forças aliadas não foram capazes de romper a linha de defesa alemã e criou-se um impasse. Nenhum dos lados estava disposto a ceder terreno e ambos começaram a desenvolver sistemas fortificados de trincheiras. Isso significou o fim da guerra móvel no oeste da Europa.
Em novembro de 1914 existiam desde o litoral do Canal da Mancha até a fronteira suíça um grande complexo de linhas de trincheiras, de onde centenas de milhares de militares tentavam, ao mesmo tempo, se proteger e atacar.
A utilização de trincheiras não era nenhuma novidade em guerras. A novidade era a dimensão destes sistemas de defesa, o prolongado tempo de ocupação, a quantidade de homens que as utilizavam e o uso maciço de metralhadoras e artilharia.

Os avanços na tecnologia militar levaram a uma rápida evolução no poder de fogo das armas que não foi acompanhada por avanços similares em estratégias, resultando numa capacidade defensiva maior que a ofensiva, tornando a guerra extremamente mortífera e desgastante. O arame farpado era um constante obstáculo para os avanços da infantaria; a artilharia, muito mais letal que no século XIX, armada com as inovadoras metralhadoras e canhões de grossos calibres e longas distâncias, causava mortes numa velocidade e quantidade sem precedentes. Os alemães começaram a usar gases tóxicos em 1915 e logo depois ambos os lados usavam da mesma estratégia. Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de armas químicas, mas estas fizeram a vida nas trincheiras ainda mais tensa e desagradável, tornando-se um dos mais temidos e lembrados horrores de guerra.

A guerra de trincheiras está associada ao extermínio e sobrevivência em condições terríveis, combinada com a visão de que homens corajosos se lançando a uma morte quase certa por causa de comandantes incompetentes para se adaptar às novas condições de combate, insistindo em ataques frontais em grande escala às trincheiras inimigas. Para se ter ideia da capacidade letal das novas armas usadas na guerra, somente no primeiro dia do da Batalha de Somme, em 1 de julho de 1916, os britânicos tiveram 19.240 mortos e 38.230 feridos. Na Batalha de Verdun, de 21 de fevereiro a 18 de dezembro de 1916, ocorreram aproximadamente 714.000 baixas (377.000 franceses, dos quais 162.308 mortos ou desaparecidos; e 337.000 alemães, dos quais 100.000 mortos ou desaparecidos). Muitos comandantes insistiam no antigo raciocínio de que a coragem individual dos homens superaria o poder das armas no combate corpo a corpo. A partir de 1916, diante das imensas baixas, a opinião pública referia-se aos britânicos e franceses como “leões liderados por burros”.

Trincheira britânica
Batalha de Somme ( França ) - 1916


Trincheira alemã
Batalha de Verdun ( França ) - 1916

O front ocidental se estendia por 654 Km, cruzando o território belga a partir do litoral do Canal da Mancha, contornando Ypres, adentrando os 145 Km do setor britânico, seguindo ao sul em direção à França. Depois do rio Ancre os franceses assumiam a defesa do front que se estendia para o leste, contornado Verdun até a fronteira suíça.
Espalhados por estes 654 Km, estima-se que aproximadamente 40.000 Km de trincheiras foram construídos por ambos os lados, num intrincado sistema de defesa que, se colocado em linha reta, seria grande o suficiente para dar uma volta em torno do planeta.

O termo “Terra de Ninguém” foi criado pelos ingleses no início da guerra para designar o terreno entre os sistemas de trincheiras construídos pelos alemães e aliados. Essa faixa de terra media de 45 metros a 1,6 Km, dependendo da região, e era um local não conquistado por nenhum dos lados, não oferecendo abrigo e sendo coberto por fogo de metralhadoras e canhões da artilharia, com arame farpado e às vezes minas em áreas próximas às trincheiras, depois reforçadas com lança-chamas. A terra era de ninguém porque ninguém a controlava ou lá permanecia, tornando-se um local devastado que aos poucos foi se enchendo de cadáveres insepultos. A Terra de Ninguém permaneceu um obstáculo insuperável desde o início da guerra, em setembro de 1914, até a Batalha de Cambrai, em 20 de novembro de 1917, quando tanques de guerra ingleses foram capazes de atravessar a área e avançar diretamente sobre as trincheiras alemãs, mostrando que novas estratégias e armas poderiam, depois de três anos, acabar com as mortes maciças nos ataques.

Linha de trincheiras do Front Ocidental
Trincheiras ocupadas por tropas da:
Alemanha ( Amarelo )
França ( Roxo )
Inglaterra ( Vermelho )
Bélgica ( Laranja )
Obs.: A linha verde tracejada demarca a Terra de Ninguém.

Tropa francesa avançando na Terra de Ninguém
Batalha de Verdun ( França ) - 1916

Um labirinto de trincheiras

As trincheiras eram labirintos de muros com sacos de areia e madeira na superfície e túneis que formavam pequenas cidades no subsolo.
Havia três linhas de trincheiras: a primeira era a Trincheira de Fogo, de onde fossos menores conhecidos como “galerias de sapa” avançavam para a Terra de Ninguém levando aos postos de observação avançados, posições de lançamento de granadas, postos de metralhadoras e de lança-chamas. À frente da trincheira erguia-se o arame farpado, que evoluiu de alguns fios para uma rede de contínuos rolos de crescente espessura, algumas vezes eletrificados. Dentro desta primeira linha de trincheiras havia metralhadoras e lança-chamas que, juntamente com os fuzis e granadas de mão, dizimavam os soldados inimigos que ficavam retidos no arame farpado.
Cerca de 20 a 90 metros atrás, ligada por trincheiras de comunicação e túneis, ficava a segunda linha de trincheiras, a Trincheira de Apoio, onde as tropas se acumulavam – fora do alcance da artilharia inimiga – para realizar um ataque ou um contra-ataque no caso da primeira linha de trincheiras ser invadida pelo inimigo. À frente desta trincheira também havia arame farpado e postos para metralhadoras e lança-chamas.
Cerca de 100 metros atrás, também ligada por trincheiras de comunicação e galerias, ficava a terceira linha de trincheiras, a Trincheira de Reserva, onde havia os alojamentos da maior parte das tropas.
Entre as linhas de trincheiras havia postos de observação, sanitários, postos de atendimento médico, cozinhas, plataformas abertas para morteiros e os postos de comando das companhias e batalhões.

As trincheiras tinham entre 2 e 2,5 metros de profundidade, com média de 60 a 90 centímetros de largura (chegando a 2 metros de largura em alguns locais), protegidas de tiros e estilhaços em sua parte superior por sacos com a areia da escavação, que também eram usados para reforçar as paredes em algumas regiões. Para o lado do inimigo havia plataformas de areia ou madeira, com cerca de 60 cm de altura, nas quais subiam para atirar. No piso cortavam-se sulcos para drenagem, cobertos com esteiras de ripas de madeira.

Um soldado francês descreveu o ambiente como “um mundo fétido de terra pegajosa e gotejante, encoberto por uma faixa de céu ameaçador”. Outro combatente inglês descreveu as trincheiras como “um mundo de toupeiras, que se entocavam cada vez mais fundo para fugir dos poderosos explosivos: uma cidade subterrânea com avenidas, alamedas, ruas, becos sem saída, vielas e cruzamentos, tudo com nome, rotulado e ligado por telégrafo e telefone”. Um segundo-tenente irlandês explicou à família que “qualquer avanço ou recuo forçava o abandono de velhas trincheiras, mas um novo front significava cavar novas ou, com frequência, reivindicar antigas. Muitos sistemas mudaram de mãos diversas vezes”.

Reconhecimento aéreo das trincheiras em Loos-Hulluch
 ( Julho de 1917 )
As trincheiras alemãs formam o complexo maior à direita.
As trincheiras inglesas formam o complexo menor à esquerda.
A Terra de Ninguém está entre as trincheiras adversárias.
É possível perceber inúmeras crateras feitas pela artilharia de ambos os lados.
Para que as tropas inimigas não conseguissem conquistar uma trincheira em um único ataque, estas não eram feitas em linha reta. Trincheiras auxiliares e perpendiculares eram construídas para permitir melhor defesa, pois possibilitavam que tropas ao lado segurassem mais facilmente os atacantes, permitindo a chegada de reforços vindos da retaguarda para a retomada. 
Outro motivo para que as trincheiras não fossem feitas em linha reta é que, no caso de um tiro de artilharia acertar dentro da trincheira, os estilhaços não se propagariam em linha reta para os lados causando muitas baixas. As paredes em ângulo reto seguravam a maior parte do impacto da explosão e protegiam os militares que estavam ao lado.

Trincheiras em zigue-zague aumentavam a proteção da tropa e a defesa do terreno.

Das pequenas e improvisadas trincheiras dos primeiros meses, repletas de homens lutando ombro a ombro, levando a grandes baixas por fogo de artilharia, criou-se um sistema de profundas trincheiras interligadas e com setores especializados, que resistiam aos bombardeios de artilharia e ataques em massa de infantaria.
Os ingleses construíram trincheiras mais precárias, entre 3 e 6 metros de profundidade e sem maiores confortos, baseando-se na ideia de que não permaneceriam lá por muito tempo, seguindo para conquista de território inimigo.
Os alemães construíram trincheiras mais elaboradas, visando uma possível ocupação prolongada, reforçadas com concreto e trilhos ferroviários, que tinham até janelas com venezianas, aparelhos de música e capachos para os pés. Alguns abrigos chegavam a 9 metros de profundidade, com amplos alojamentos para até 16 beliches, campainhas nas portas, tanques de água com torneiras, armários e espelhos.
Na medida em que o tempo passou e ficou claro que a permanência no local seria prolongada, ambos os lados melhoraram sua trincheiras. As paredes, o piso e o teto dos túneis e trincheiras foram revestidos com madeira, usada também nos degraus das escadas e mobílias como mesas, cadeiras, armários e bancadas. Portas e janelas, recolhidas das vilas próximas destruídas, foram usadas em alguns alojamentos das trincheiras para diminuir o frio em seu interior. Dispunham também de fios para comunicação por telefone e energia elétrica.

Trincheira francesa protegida por arame farpado

Alemães terminando rede de arame farpado para defesa de trincheira

A coragem e inutilidade dos ataques às trincheiras

O soldado Fellowes, membro dos fuzileiros da Nortúmbria (Parte da Grã-Bretanha) descreveu uma tentativa de alçar o topo de uma posição defensiva alemã, na Batalha de Loos (França, setembro de 1915):
“Marchamos durante cinco noites para chegar a Loos. O comandante de nossa companhia, capitão Powell, nos comunicou que estava sendo travada uma árdua batalha, com diversas divisões em ação... Nossa missão seria substituir parte dessas tropas. Em minha memória ainda posso ouvir gritos e aplausos. A caminho da linha de frente, o ajudante me parou e disse: ‘O oficial comandante tem uma mensagem para você entregar.’ Até hoje me lembro do conteúdo daquela mensagem. Escrita em um velho bloco de sinalização, sem data nem assinatura, dizia:’O oficial comandante deseja que o ataque seja realizado com baionetas, à verdadeira moda da Nortúmbria.’ Foi a primeira notícia que tive que entraríamos em ação. Quando cheguei às trincheiras, todos estavam a postos, com baionetas armadas. Enquanto eu contornava pela retaguarda, os soldados pularam a borda das trincheiras e começaram a correr o mais rápido que o equipamento lhes permitia. Que alvoroço! Procurei o capitão Powell para lhe entregar a mensagem, mas percebi que ele se juntara aos outros e então o segui.
Os primeiros homens já se encontravam a quase 100 metros da cerca de arame farpado dos alemães, sem que um único tiro fosse disparado. De repente, parecia que a terra se transformara em um verdadeiro inferno. Alguns homens começaram a cambalear e cair, as metralhadoras desferiam tiros bem diante de nós... Um rapaz tombou na minha frente, tropecei e caí sobre ele. Até hoje não me envergonho – permaneci exatamente onde estava.
Aquela cena vai me acompanhar até a minha morte, toda a colina repleta de homens prostrados no chão. Tal qual começaram, os alemães de repente pararam de atirar. Os homens se levantaram, alguns cambaleando e rastejando como podiam para retroceder. Os alemães não atiraram... estavam tão cheios de remorso e culpa diante dos corpos em Loss que se recusavam a fazer qualquer outro disparo...
Quando retornei à trincheira, me vi no mesmo lugar de onde partira. Um dos soldados me passou o cantil. Ficamos ali, horrorizados, ouvindo gemidos dos homens no campo, alguns deles aos gritos. Um horror! Receio que muitos morreram antes mesmo do anoitecer. Naquele instante, a mensagem para o capitão Powell ainda estava comigo. Só o encontrei mais tarde... Entreguei-lhe a mensagem. Ele leu e disse: ‘Agora, meu filho, não importa mais.’ Pude perceber lágrimas no seu rosto.”

Texto:
Uma guerra para a paz: 1914-1918 (John Man), Reader’s Digest, Rio de Janeiro: 2003, p. 26.

Ataque partindo de trincheira britânica
Batalha de Somme ( França ) - 1916
Um dos muitos ataques dos alemães ao Monte do Morto
Batalha de Verdun ( França ) - 21 de fevereiro a 18 de dezembro de 1916

Restos mortais de alemães no Monte do Morto
Os alemães atacaram sem sucesso, onda após onda, entre fevereiro e dezembro de 1916,
fortes posições defensivas francesas a noroeste da cidade de Verdun, 
num local que os franceses chamaram de Monte do Morto.
( Essa foto foi feita em 1918, durante o avanço das tropas aliadas )

O cotidiano nas trincheiras

Na rotina das trincheiras, os oficiais e soldados tinham de acordar antes do alvorecer – momento preferido para deflagrar ataques – e verificar as trincheiras inimigas através de periscópios. Tal observação e prontidão eram repetidas ao anoitecer. Nestes momentos procuravam-se mudanças em relação ao dia anterior que pudessem indicar um possível ataque ou fortificação.
Depois da verificação matinal, a maioria dos homens deixava os postos nas trincheiras da frente para tomar o café da manhã na retaguarda. Quando estavam com sorte, recebiam duas colheres de rum, servidas cuidadosamente, mas na maioria das vezes a comida consistia em carne e vegetais enlatados e biscoitos, sendo rara a comida fresca para os sargentos e soldados. Quando um conjunto de trincheiras já estava construído e reforçado, passavam o dia limpando as armas, consertando os estragos nas trincheiras ou escrevendo para casa. Os oficiais inspecionavam, encorajavam e comunicavam as condições ao comando através de mensageiros, que utilizavam trincheiras de comunicação para o trajeto.
O soldado inglês Kenneth Garry, que morreu depois de dois anos nas trincheiras, descreveu um típico dia de dezembro de 1915: sua primeira tarefa, às 7 da manhã, era percorrer as trincheiras de comunicação para recolher água em latas de gasolina de 9 litros, através de uma bomba num poço de uma fazenda abandonada ou num vagão de água. Na volta, um companheiro de abrigo aquecia em um fogareiro a água para o chá, enquanto na cozinha do regimento, os cozinheiros se esforçavam para acender a lenha úmida e fritar bacon para o café da manhã. Garry então era convocado pelo cabo de seu grupo para trabalhar na faxina e nos reparos das trincheiras. Munido de galochas e capa, dirigia-se para um depósito de sacos de areia, pás, picaretas, arame farpado e esteiras de ripas, onde recebia uma pá para trabalhar escorando alguma mureta desmoronada pelas chuvas ou bombardeios. A parte de cima da trincheira, exposta ao inimigo, era consertada à noite. Depois montava um turno de guarda com seu rifle em uma das posições de tiro e improvisava um periscópio fixando um espelho em sua baioneta num ângulo de 45º. Os periscópios para vigia existiam em número reduzido – usados normalmente pelos oficiais e às vezes por sargentos – e cada soldado, quando na função de vigia, improvisava seu periscópio para levantá-lo pouco acima do parapeito e ver as trincheiras do inimigo que estavam à sua frente. De vez em quando um tiro de boa pontaria quebrava o espelho usado para o reconhecimento, enchendo a trincheira com estilhaços de vidro. O revezamento ocorria depois de três horas, então se tomava café e retornava para o abrigo.
Garry escreveu que “Não havia muito para ver! Só terra e sacos de areia, com um pedaço de madeira aqui e acolá. No conjunto, montes de terra revolvida pelos soldados ao cavarem as trincheiras. Cansado de estar sentado, podia-se espreitar entre os sacos de areia e, se o tédio era demasiado, disparava-se algum tiro. Entretanto, um homem podia passar um ano nas trincheiras sem dar um tiro sequer”.

Periscópio em trincheira francesa

De manhã, os aliados procuravam distinguir as silhuetas dos alemães contra o céu matinal e à tarde cabia aos alemães a vantagem da claridade, com suas trincheiras já escurecidas enquanto os aliados tinham o crepúsculo às suas costas.
Durante o dia, franco-atiradores com fuzis de mira telescópica e observadores de artilharia em balões transformavam movimentações em algo perigoso, por isso havia pouca atividade nas trincheiras. O trabalho pesado acontecia quando anoitecia, aproveitando a dificuldade de observação por parte do inimigo causada pela escuridão. Os períodos de lua cheia eram menos utilizados para trabalhos noturnos fora das trincheiras, pois a visibilidade ficava aumentada e era maior o número de mortos e feridos.
Sentinelas em postos de escuta na Terra de Ninguém tentavam detectar patrulhas inimigas e grupos de trabalho inimigos enquanto os soldados cavavam galerias que se aprofundavam em direção à Terra de Ninguém ou rastejavam para fora de suas trincheiras a fim de consertar ou melhorar as cercas de arame farpado que faziam parte de suas defesas, além de tentar resgatar feridos de um ataque recente. No período noturno eram transportadas entre as trincheiras grandes quantidades de sacos de areia, esteiras de ripas, troncos de árvore, ferros, lonas e munição. Por isso, os homens aproveitavam o tempo ocioso durante o dia para dormir.

Um inglês vigia enquanto os outros dormem
Regimento Cheshire - Somme ( 1916 )

Os oficiais franceses tentaram manter alguns hábitos, como toalhas nas mesas e vinho durante as refeições. Os soldados alimentavam-se segurando marmitas nas mãos, sentados em degraus cavados na terra. Fornos ao ar livre na retaguarda assavam pães.

O tempo de permanência de um soldado nas trincheiras da linha de frente geralmente era breve, variando de um dia até duas semanas, até ser substituído por alguém das tropas de reserva. O 31º Batalhão australiano uma vez passou 53 dias na linha em Villers-Bretonneux (norte da França), mas durações prolongadas eram exceções. As unidades que permaneceram nas trincheiras da linha de frente por mais tempo foram as do Corpo Expedicionário Português, no norte da França. As tropas portuguesas receberam a responsabilidade de defender uma área grande em comparação ao seu efetivo de 45 mil homens e não havia militares em quantidade suficiente para fazer um revezamento entre tropas do mesmo país. Os navios ingleses que transportariam novas tropas de Portugal para a frente de batalha foram destinados ao transporte de alimentos, material bélico e tropas da Inglaterra para a França. Após prolongados períodos de tempo nas trincheiras, que chegaram a seis meses sem nenhuma licença em algumas unidades, o Comando do 1º Exército Britânico decidiu pela rendição das tropas portuguesas por tropas inglesas, mas no dia previsto para a troca, os alemães iniciam a grande ofensiva da primavera e atacam a região na Batalha de La Lys, entre 9 e 29 de abril de 1918, matando ou capturando os esgotados e desmoralizados militares portugueses.

O ano típico de um soldado britânico pode ser dividido da seguinte forma:
• 15% do tempo na linha de frente
• 10% do tempo na linha de apoio
• 30% do tempo na linha reserva
• 20% do tempo em trabalhos diversos
• 25% outros (hospital, dispensas, cursos de formação ou aperfeiçoamento, etc.)

Alguns setores da frente ocidental viram pouca atividade durante toda a guerra, tornando a vida nas trincheiras relativamente fácil. Outros setores estavam em um contínuo estado de combate. A região de Ypres era invariavelmente infernal, especialmente para os britânicos. No entanto, os setores tranquilos ainda acumulavam baixas diárias através dos atiradores de elite, fogo de artilharia, doenças e gás venenoso. Nos primeiros seis meses de 1916, antes do lançamento da ofensiva em Somme, os ingleses não se envolveram em qualquer batalha significativa neste setor e mesmo assim sofreram 107.776 baixas, entre mortos e feridos. Apenas 1 a cada 2 homens voltaria sem ferimentos das trincheiras.

Alemão morto numa trincheira
Passchendaele ( Bélgica )

O mal cheiro era intenso! As trincheiras eram impregnadas pelo odor dos corpos em decomposição de homens, cavalos e alguns animais domésticos como cães e gatos. Em períodos que batalhas se prolongavam por semanas ou meses, era impossível enterrar os mortos e os corpos permaneciam na Terra de Ninguém até o ponto de não serem mais identificáveis. Vez por outra uma turma de soldados saía rastejando de suas trincheiras à noite para jogar cal nos locais mais críticos.
Nas épocas de calor moscas também eram atraídas pelos corpos em decomposição e tornavam-se novo fator de desconforto e transmissão de doenças nas trincheiras.

Os homens se esforçavam para criar atividades que mantivessem o moral elevado e diminuíssem a tensão. Escreviam cartas para familiares e amigos que, antes de serem enviadas, eram lidas pelos oficiais e parcialmente censuradas ou totalmente vetadas, dependendo do tom derrotista ou de informações que poderiam ser perigosas, caso repassadas ou interceptadas por algum espião.
Editavam e distribuíam pequenos jornais nas trincheiras e realizavam eventos desportivos como partidas de futebol, corridas de cavalos, torneios de boxe e competições de natação. Constituíam grupos teatrais que se apresentavam na retaguarda próxima das trincheiras, nas vilas, em celeiros ou barracas, com os mais jovens desempenhando os papéis femininos. Também eram apresentados espetáculos de danças típicas das regiões de origem de algumas tropas.
Nas cidades e vilas próximas às linhas de trincheiras, eram comuns os bordéis, iluminados com luz azul para os oficiais e com luz vermelha para os destinados aos sargentos e soldados, usados nos períodos de folga durante a ausência de combates.

Time britânico de futebol com máscaras para gás
( 1916 )

Os sapadores e a guerra subterrânea

Os sapadores eram oficiais engenheiros militares, sargentos e soldados – geralmente mineiros – treinados para construção e reforço de trincheiras em locais mais complicados, com incidência de grandes pedras, terreno muito macio ou com lençóis de água.  
Os sapadores se tornaram uma possibilidade de ataque no impasse causado pela grande força defensiva das trincheiras. Era deles a função de construir túneis que chegassem próximos às trincheiras inimigas para, preenchendo galerias próximas a elas com explosivos, destruir as trincheiras por baixo. Os sapadores acrescentaram mais uma tensão aos vigias. Além da morte vida por cima através dos fogos de artilharia, e pela frente em forma de gás venenoso, havia agora a possibilidade de morte vinda por baixo através de túneis com explosivos. Por conta da ação dos sapadores, os turnos de vigilância passaram a ser realizados obrigatoriamente em silêncio, para ouvir qualquer som – como vozes ou escavações – vindos abaixo dos pés ou próximos às trincheiras.
Na possibilidade da construção de um túnel inimigo próximo às suas trincheiras, cabia aos sapadores a construção de defesas com pedras, aço e concreto, além da possibilidade de pequenos túneis de defesa com explosivos para causar desmoronamento ou mortes na equipe inimiga. Aos oficiais sapadores cabia também o cálculo e orientação de ataques da artilharia a determinados locais no terreno, entre as trincheiras adversárias, visando causar o desmoronamento de possíveis túneis inimigos.
A maior explosão de mina da guerra aconteceu na serra de Messines, ao sul da cidade francesa de Ypres. Sapadores britânicos, canadenses e australianos levaram seis meses para cavar 7 Km de túneis sob as trincheiras alemãs. 19 minas (pequenos túneis repletos de explosivos) haviam sido plantadas, com um total de quase 500 toneladas de explosivos.
Às 3:10 horas do dia 7 de junho de 1917,  17 das minas explodiram a um só tempo. “Parecia que a serra de Messines se erguera e se sacudia”, escreveu um capitão do real regimento de engenharia inglês. “Desde o começo o flanco da serra expeliu grande massa de escombros, lançada bem para o alto em forma de cogumelo. Pouco a pouco a massa foi se desintegrando, à medida que os gases liberados começavam a sair, em colunas de chamas. Então, ao longo da linha inimiga, surgiram rolos de fumaça com estranhas formas, expandindo-se como um monte de guarda-chuvas e cobrindo com um manto negro as crateras abertas no solo.”
Para os alemães que estavam na serra de Messines, o efeito foi de um cataclismo. Cerca de 10 mil morreram nas explosões ou soterrados, e mais 7 mil foram aprisionados. Para se ter ideia da intensidade das detonações, uma das explosões abriu uma cratera de 130 metros de diâmetro. Na manhã seguinte, o general-de-divisão inglês Charles Harrington entrou num abrigo próximo a esta cratera e encontrou “quatro oficiais alemães sentados em torno de uma mesa – todos mortos pelo choque. Talvez estivessem jogando bridge.”
Duas minas não explodiram. Uma detonou em 1955 durante uma tempestade – provavelmente atingida por um raio – e a outra permanece debaixo da terra até os dias de hoje, sem ter sido encontrada.

Texto:
Uma guerra para a paz: 1914-1918 (John Man), Reader’s Digest, Rio de Janeiro: 2003, p. 33.
 
Uma estação de salvamento nas minas em Flandres, com um sapador pronto para o trabalho

Havia três maneiras de se construir trincheiras: entrincheirando, minando, e tunelamento. 
• Entrincheirar era o processo onde um homem estaria na superfície cavando para baixo. Era o método mais rápido e fácil, permitindo a abertura de grandes áreas de trincheiras por muitas pessoas simultaneamente, no entanto deixava os escavadores expostos acima do solo e só podia ser realizado quando livre de observação, durante a noite ou numa área distante do inimigo. Não necessitava de qualificação técnica por parte dos executantes, bastando a orientação de alguns oficiais.
• Minar era uma atividade desenvolvida pelos soldados sem qualificação, com ajuda de sapadores em regiões de terreno alagado ou rochoso. Envolvia cavar galerias em direção ao inimigo, a partir da parede de uma trincheira já construída. Ao chegar a uma determinada distância estas galerias direcionavam-se para os lados. Os escavadores permaneciam protegidos dos tiros diretos durante a construção, portanto os trabalhos podiam ser realizados durante o dia e à noite, mas eram percebidos pelos vigias aéreos desde o início dos trabalhos, sendo vulneráveis aos ataques aéreos e de artilharia. A construção desse tipo de trincheira era mais demorada por conta da limitação do pessoal trabalhando por vez numa área (geralmente duas pessoas cavando uma ao lado da outra) e pelo trabalho de remoção da terra para a parte traseira das escavações.
• Tunelar era uma atividade desenvolvida exclusivamente pelos sapadores, que consistia na escavação de túneis subterrâneos pouco profundos, que subiam lentamente em direção ao inimigo até um determinado ponto previamente calculado, onde se detinham e começavam a se estender para os lados. Somente depois de atingida a extensão desejada, retirava-se a terra da parte de cima até a superfície na área para as novas trincheiras. Era, portanto, uma trincheira cavada de baixo para cima. Geralmente a terra que constituía o teto era retirada no início da noite, permitindo aproximadamente doze horas de intenso e silencioso trabalho para consolidar a posição antes que observadores inimigos em balões ou aviões avistassem a nova trincheira durante o início do dia e ataques de artilharia e aviação inimigas fossem realizados no local para dificultar ou impedir a consolidação do novo terreno.
Esta atividade era demorada devido à necessidade de reforçar o túnel de acesso para evitar desmoronamentos ao longo de sua construção e pelo trabalho de remoção da terra para a parte traseira das escavações, requerendo pessoal especializado. Tal técnica era usada para conquistar terreno em regiões próximas das trincheiras inimigas e dentro do alcance dos fogos de metralhadora.

O campo de batalha de Flandres, na Bélgica, apresentou inúmeros problemas para a prática da guerra de trincheira, especialmente para os britânicos e canadenses, que muitas vezes eram obrigados a ocupar um terreno baixo. O bombardeio pesado rapidamente destruiu a rede de valas e canais de água que tinha drenado anteriormente esta área de baixa altitude. Na maioria dos lugares, o lençol freático (água subterrânea proveniente de chuvas, rios, lagos e derretimento da neve) estava apenas a um metro ou mais abaixo da superfície, o que significa que qualquer trincheira cavada rapidamente inundava.
Consequentemente, o piso de muitas trincheiras em Flandres era constituído por diversas camadas de sacos com barro e por fim terra, dispostos acima do solo, com as paredes instáveis maciçamente reforçadas com sacos de areia escoradas por madeira ou trilhos. O lado de trás da trincheira era pouco escavado para evitar grande acúmulo de água, expondo assim a parte traseira da vala aos estilhaços da artilharia e ao fogo a partir da linha de reserva, no caso da trincheira ser tomada pelo inimigo.

Soldados da 4ª Divisão canadense entrincheirados na lama de Passchendaele ( Bélgica )
( 14 de novembro de 1917 )
A guerra química nas trincheiras

Como ataques diretos dificilmente conseguiam conquistar o terreno onde o inimigo estava entrincheirado ou conseguiam a um grande custo de vidas, era necessário desenvolver novas estratégias e armas para vencer o impasse criado pela guerra estática e defensiva. Os ingleses realizaram experiências sigilosas com tanques, enquanto os alemães se dedicaram no desenvolvimento do gás cloro (CI2).

O gás cloro foi proposto como arma pelo cientista alemão Fritz Harber, Prêmio Nobel de química de 1912, e usado pela primeira vez na tarde de 22 de abril de 1915, pelos alemães, no início da Segunda Batalha de Ypres, atingindo 15 mil combatentes, matando 5 mil e incapacitando temporariamente 7 mil. As primeiras vítimas do gás, os argelinos que lutavam com os franceses e canadenses, recuaram cambaleantes da linha de combate, tossindo e apontando para a garganta. Os soldados ingleses e franceses da retaguarda foram surpreendidos por uma neblina verde-claro que se transformava numa nuvem branca com nuances azuladas à medida que se aproximava das tropas.
Com o uso do gás, a Alemanha infringia a Convenção Internacional de 1889, que proibia o emprego de substâncias tóxicas como armas militares.
O gás foi uma arma muito útil para obrigar a saída dos soldados das trincheiras. O gás cloro é asfixiante, provocando irritação e ressecamento nas vias respiratórias, chegando a ser fatal se inalado por tempo prolongado, sendo necessária a inalação de oxigênio líquido e até uma traqueotomia (corte na parte da frente do pescoço e na traqueia para permitir a chegada de ar aos pulmões) para normalizar a respiração – manobras impossíveis em grande escala nos campos de batalha.

A máscara contra gases passa a ser acessório obrigatório para os soldados desde então, sendo adaptada também, em menor quantidade, para cavalos e cães. Ataques de gás eram realizados preferencialmente em noites e manhãs com neblina, para disfarçar a chegada da nuvem tóxica. Os vigias de ambos os lados passaram a fazer seus turnos sempre equipados com máscaras e, se possível, próximos a gaiolas onde ficavam presos pássaros, camundongos e ratos, por conta de ataques com o gás Fosgênio, que era incolor e inodor, impossível de ser percebido até que começasse a causar sufocação e queimadura nas mucosas. Diante de sinais de intenso sofrimento e morte dos animais nas gaiolas, o vigia acionava o sinal de ataque de gás e todos na área, inclusive as tropas de reserva em seus alojamentos, colocavam suas máscaras até que fosse verificado se o ar estava ou não contaminado.

Os lança-chamas eram eficientes na defesa das trincheiras, formando paredes de fogo para aqueles que conseguissem romper o arame farpado, mas foi também muito eficiente nas invasões das trincheiras inimigas, matando rapidamente grande quantidade de defensores e impedindo a aproximação dos reforços, mesmo nas trincheiras cavadas em ângulo reto, pois o fogo resvalava na parede e deslocava-se para os lados, impedindo um ataque direto inimigo por conta do calor. As guarnições de lança-chamas só eram vencidas por ataques de granadas de mão, geralmente lançadas acima das curvas da trincheira atacada ou a partir da trincheira de apoio na retaguarda.
Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de armas químicas, mas estas fizeram a vida nas trincheiras ainda mais tensa e desagradável, tornando-se um dos mais temidos e lembrados horrores da guerra.

Para saber mais sobre as armas químicas durante a Primeira Guerra Mundial, acesse:

Infantaria australiana com máscaras para gás
( Ypres - 1917 )

Guarnição alemã de lança-chamas atacando uma trincheira
( 4 de abril de 1917 )

As armas nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial

O soldado de infantaria típico era armado com rifle, baioneta e granada de mão.
Armas improvisadas eram comuns nos combates iniciais nas trincheiras, como medievais maças de metal e madeira, facas de caça, porretes de madeira, martelos e soqueiras de punho. À medida que a guerra avançou, equipamentos específicos para o combate corpo a corpo foram produzidos em grande escala e as armas improvisadas foram descartadas.
Com o tempo e a necessidade, adaptaram-se treinamentos e ferramentas específicas para o combate nas trincheiras. Pequenos grupos especializados chamados “varredores de trincheiras” invadiam as trincheiras inimigas para reunir informações e eram os responsáveis por matar ou capturar os inimigos sobreviventes em trincheiras recentemente invadidas.
Os militares destes grupos eram isentos de participar de ataques frontais em grande escala e de trabalhos rotineiros como encher sacos com areia, drenar as trincheiras e reparação do arame farpado na Terra de Ninguém. Nas incursões às trincheiras inimigas, usavam pistolas ao invés de fuzis e afiadas facas ou adagas em vez das longas baionetas, uma vez que as últimas tendiam a ficar presas nos corpos dos inimigos nos combates corpo a corpo, além do comprimento mais curto das facas e adagas torná-las de manuseio mais fácil e eficiente nos estreitos espaços das trincheiras.

A granada de mão passou a ser uma das principais armas da infantaria na guerra de trincheira. Ambos os lados foram rápidos para treinar grupos especializados de granadeiros. A granada de mão oferecia a vantagem de atacar ou defender pequenas áreas ao invés de alvos individuais, permitindo também que fosse lançada de dentro das trincheiras sem a necessidade de expor o atirador ao fogo inimigo. Os alemães e os turcos estavam equipados com granadas desde o início da guerra, mas os britânicos, não prevendo guerras de cerco, haviam cessado de usar granadeiros desde a década de 1870, e entraram no conflito praticamente sem granadeiros, por isso seus soldados tiveram que improvisar bombas com as pequenas latas usadas na distribuição da comida. No final de 1915, os britânicos já produziam e distribuíam para suas tropas, em grandes quantidades, uma granada de mão chamada “Bomba Mills” e, até o final da guerra, 75 milhões destas granadas haviam sido utilizadas.
Dispositivos mecânicos foram inventados para lançar granadas de mão em trincheiras inimigas. Os alemães usavam pequenas catapultas de metal alimentadas por mola para atirar uma granada de mão até a cerca de 460 metros. Os franceses responderam com dispositivos parecidos que alcançavam 200 metros. A partir de 1916, as catapultas para lançamento de granadas de mão foram em grande parte substituídas por granadas de fuzil e morteiros leves, que possuíam maior alcance e eram capazes de arremessar petardos mais potentes.

Grupo alemão de granadeiros e um lançador de granada "Granatenwerfer"
( 1917 )

As doenças mataram mais do que os tiros

Como em muitas outras guerras, o maior assassino da 1ª Guerra Mundial foi a doença! As condições sanitárias nas trincheiras eram muito pobres e eram comuns infecções por disenteria (doença inflamatória do intestino que resulta em fortes dores abdominais, ulceração das mucosas e diarreia, sempre acompanhada de muco e sangue, ocasionada pela contaminação de mãos, alimentos e água com fezes ou resíduos fecais), tifo (doença epidêmica transmitida por parasitas comuns no corpo humano, como piolhos, que causa febre alta, vômitos e diarreia) e cólera (transmitida através de água e alimentos contaminados, causando diarreia, náuseas e vômitos). Muitos militares sofriam com parasitas e infecções relacionadas. A falta de higiene também levou a fungos, tais como a “boca de trincheira” (inflamação necrosante na gengiva causada por baixa no sistema imunológico devido a precárias condições de higiene ou estresse prolongado) e “pé de trincheira” (exposição prolongada dos pés fechados dentro de um calçado à umidade ou ao frio intenso, causando a diminuição da circulação sanguínea, dormência, inchaço e feridas por morte celular, culminando numa necrose que torna necessária a amputação).
Outro assassino comum foi o congelamento, uma vez que a temperatura dentro de uma trincheira no inverno poderia facilmente cair abaixo de zero e a situação era agravada pela umidade da neve, das chuvas e alagamentos. 

Os serviços médicos eram primitivos e os antibióticos ainda não haviam sido descobertos. Ferimentos relativamente pequenos podiam ser fatais através de infecções e gangrena. Entre os alemães, registrou-se que 15% das feridas das pernas e 25% das feridas nos braços resultaram em morte, principalmente por meio de infecção. Entre os norte-americanos registrou-se que morreram 44% das vítimas que desenvolveram gangrena, 50% dos feridos na cabeça, 99% dos feridos no abdômen e 75% dos ferimentos por estilhaço de artilharia. Um ferimento resultante de um fragmento de artilharia era mais traumático do que uma ferida de bala, pois geralmente introduzia detritos no corpo, tornando mais provável que a ferida infeccionasse. Um soldado tinha três vezes mais chance de morrer por um ferimento de estilhaço do que de um ferimento a bala. As explosões de artilharia também matavam por concussão (danos microscópicos ao cérebro causados pelo deslocamento de ar ou trauma causado pelo lançamento do corpo contra um obstáculo). 
Em adição aos efeitos físicos do fogo de artilharia, houve o dano psicológico. Os homens que tiveram de suportar prolongados bombardeios e contínuos ataques muitas vezes sofreram debilitante choque traumático. Alguns militares julgados, condenados e fuzilados por covardia ou deserção estavam sob efeito de trauma de guerra, uma condição pouco conhecida na época e que só foi mais estudada e compreendida ao fim da guerra, diante do crescente número de homens com variadas sequelas emocionais após o conflito.

Um dos maiores tormentos nas trincheiras era a umidade, causada por chuvas, derretimento de neve ou algum lençol de água subterrâneo. As condições de sobrevivência eram piores nas trincheiras em regiões perto do mar, com lençóis aquáticos rasos que deixavam o terreno permanentemente com lama. Os drenos quase nunca eram eficientes o suficiente ou eram destruídos por artilharia e granadas inimigas, sendo necessária constante manutenção ou reconstrução. As trincheiras desmoronavam sob a pressão da terra encharcada e os homens, em geral, viviam com os pés molhados ou úmidos. Na época das chuvas, os túneis ficavam inundados e os soldados lutavam, comiam e dormiam encharcados. Botas sem furos e rasgos eram itens necessários para evitar o “pé de trincheira”. Inspeções esporádicas nos pés eram realizadas pelos sargentos e oficiais nos tempo de calmaria, pois bastava manter os pés secos e limpos para evitar a enfermidade. Uma conduta simples e eficiente foi designar duplas em que um soldado era responsabilizado por verificar o pé de seu companheiro, assim diminuía a possibilidade de esquecimento ou preguiça em tirar e limpar meias e calçados durante tempos chuvosos ou frios.

Soldado francês com pé de trincheira, aguardando amputação do pé
( Pé esquerdo em adiantando estado de necrose, destruindo todos os dedos, 
e pé direito com inchaço e feridas por morte celular causando o progressivo descolamento da pele )

Inspeção sanitária em tropa inglesa verificando a existência de pés de trincheira

Outros grandes fatores de desconforto e doenças eram os piolhos e ratos. Por trás das linhas de combate, os encarregados da limpeza se esforçavam – com tinas a vapor e banhos de água quente – para retirar os piolhos das roupas e dos homens, sem êxito duradouro. Os ratos se alimentavam dos corpos de homens e cavalos mortos, depois invadiam as trincheiras, consumindo qualquer coisa que encontrassem, contaminando alimentos e água, atacando feridos e animais domésticos (geralmente pássaros e camundongos) usados para detecção de gás. Em alguns lugares os ratos chegaram a matar os gatos trazidos às trincheiras para caçá-los!

Alemães caçando ratos em suas trincheiras

Comunicações

Uma grande dificuldade enfrentada pelas forças de ataque nas batalhas de trincheiras era dispor de comunicações confiáveis e rápidas. As comunicações estavam ainda em seu início, de modo que os atacantes levavam consigo fios para telefone ou telégrafo, além de utilizar sinalização por lâmpadas coloridas, foguetes, pombos-correio e cães ou homens mensageiros. Mensagens frequentemente não conseguiam ser transmitidas ou eram transmitidas com demora, fora do tempo útil para bons resultados. 
Consequentemente, o resultado de muitas batalhas nas trincheiras foi decidido pelos comandantes de pelotão e companhia em meio à luta. Generais e comandantes de batalhão, que ficavam à retaguarda, pouco influenciavam na batalha pela falta de informações e incapacidade de transmitir ordens para as tropas durante os ataques. Oportunidades foram perdidas porque reforços não foram enviados no momento ou lugar necessários e o apoio da artilharia não foi usado na ocasião que a situação exigia.

Cão mensageiro alemão

As estratégias na guerra de trincheiras

A estratégia fundamental da guerra de trincheiras era defender fortemente a própria posição e tentar conquistar terreno inimigo, numa guerra de atrito contínuo, gastando aos poucos as reservas humanas e materiais do adversário. Isso não impediu que comandantes ambiciosos adotassem estratégias de aniquilação em ataques frontais de grande escala, que se mostraram quase sempre ineficazes para conquistar terreno ou incapazes de mantê-los, ao custo de enormes quantidades de vidas.
O ataque de grandes grupos de soldados saindo da proteção de suas trincheiras e correndo para as trincheiras inimigas com as baionetas armadas para luta corpo a corpo foi o método padrão de combate no início da guerra, com poucos exemplos de sucesso. A tática mais comum era atacar através da Terra de Ninguém ao fim da noite, partindo de um posto avançado, tendo cortado o próprio arame farpado de antemão para permitir rotas de ataque. Este arame farpado defensivo era reconstruído na noite seguinte ao ataque. 
Em 1917, os alemães inovaram com táticas de infiltração, onde pequenos grupos de soldados bem treinados e equipados contornavam os pontos fortes e atacavam os pontos vulneráveis das trincheiras, passando por esta pequena área sem tentar conquistar toda a trincheira e dirigindo-se profundamente nas áreas de retaguarda. Estes ataques normalmente eram executados à noite e a distância do avanço era limitada pela capacidade de comunicação e abastecimento. Esse tipo de ação causou transtorno e preocupação aos aliados que, não sabendo a quantidade de inimigos infiltrados em seu terreno, tiravam do descanso grandes contingentes das forças de reserva para executar buscas nas áreas atrás das trincheiras.

Foi duplo o papel da artilharia durante a guerra de trincheiras. O primeiro objetivo de um bombardeio era preparar o terreno para um ataque de infantaria, matando ou desmoralizando a guarnição inimiga e destruindo suas defesas e comunicações. A duração desses bombardeios iniciais variaram de alguns segundos a dias (chegou a durar 7 dias, de 25 de junho a 1º de julho de 1916, durante a batalha de Somme). O problema com bombardeios de artilharia antes de ataques de infantaria era que eles eram muitas vezes ineficazes em destruir as defesas adversárias e forneciam ao inimigo o aviso que um ataque era iminente, o que permitia mobilizar as tropas de reserva e deixá-las em prontidão para contra-ataques. 
O segundo objetivo da artilharia era proteger a infantaria de ataques, fornecendo uma “barragem” em locais calculados anteriormente quando da passagem nestes pela tropa inimiga durante seu ataque ou uma “cortina de fogos” para prevenir um contra-ataque inimigo. Com o tempo, as barragens estáticas de fogo evoluíram para "barragem de elevação" ou “barragem de rolamento”, onde se bombardeava intensamente primeiramente o local que era o objetivo do ataque e depois os tiros, sem interrupção, eram regulados para distâncias gradualmente maiores, para permitir o ataque da infantaria no objetivo, enquanto as explosões depois deste local dificultavam a vinda de reforços para a defesa.

Linha inglesa de arame farpado sendo bombardeada

Os comandantes bombardeavam com artilharia as linhas de arame farpado antes dos ataques da infantaria para limpar o caminho, mas nem sempre isso era eficiente, deixando trechos intactos que retardavam o avanço ou afunilavam o ataque para determinados trechos que passavam a ser defendidos com metralhadoras e granadas de mão. Os soldados retidos nas redes de arame farpado eram atacados também pelo fogo dos lança-chamas vindos das trincheiras.

A força de ataque tinha de avançar não só com as armas necessárias para capturar a trincheira, mas também com as ferramentas (sacos de areia, picaretas, pás e arame farpado) para fortalecer e defender as paredes traseiras da trincheira recém-conquistada de um contra-ataque. Um avanço bem sucedido levaria os atacantes além do alcance de sua própria artilharia, deixando-os vulneráveis até que parte de seus canhões pudessem ser puxados e fixados mais à frente. 
Os alemães davam grande ênfase ao imediato contra-ataque para recuperar rapidamente o terreno perdido. Esta estratégia lhes custou caro a partir de 1917, quando os britânicos começaram a limitar seus ataques a curtos avanços, posicionando parte de sua artilharia logo atrás da linha de partida das tropas, não tomando parte no bombardeio inicial, de modo a ter alcance para apoiar imediatamente sua infantaria quando esta conquistasse o objetivo planejado. As baixas alemãs aumentaram consideravelmente quando as tropas vindas da retaguarda, na ânsia de retomar o terreno perdido, passavam pelos fogos dessa artilharia britânica adiantada.

Os alemães estudaram a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e desenvolveram a ciência de projetar e construir trincheiras fortificadas. Eles usaram concreto armado para a construção, a prova de artilharia de profundidade, abrigos ventilados, bem como vários pequenos pontos estrategicamente fortificados espalhados ao longo das trincheiras, ao invés de poucas e grandes fortalezas. Eles estavam mais dispostos do que os seus adversários em fazer uma retirada estratégica para uma posição defensiva melhor preparada à retaguarda e dali iniciar um contra-ataque. Eles também foram os primeiros a aplicar o conceito de "defesa em profundidade", em que a zona da linha de frente estava a centenas de metros de profundidade e continha uma série de redutos independentes que se apoiavam através de fogo cruzado de metralhadora e granadas de mão, em vez de uma vala de trincheira contínua, repleta de soldados. 
Ao longo da guerra, os britânicos acabaram por adotar uma estratégia semelhante, mas foi implementada de forma incompleta, com guarnições menores e com menor poder de fogo em cada reduto, que se mostraram ineficazes quando os alemães lançaram uma grande ofensiva na primavera de 1918. A França, por outro lado, contava com artilharia e reservas não entrincheiradas. 
As redes de arame farpado variavam de profundidade, chegando a áreas com 5 metros de profundidade. O fio alemão era de calibre mais pesado e os cortadores de fio britânicos, distribuídos aos soldados no início da guerra, eram projetados para fios mais finos, não sendo capazes de cortar o arame farpado e causando a morte dos militares que ficavam retidos no local sob fogo de metralhadora e fuzil. Cortadores maiores foram distribuídos aos aliados a partir do segundo ano da guerra.

Tropa francesa rompendo defesa de arame farpado
( Batalha de Verdun - 1916 )

O fim da guerra de trincheiras

Apesar de algumas iniciativas de grandes ataques por ambos os lados, a imobilidade no front ocidental durou até o último ano da guerra e foi quebrada por um grande e desesperado ataque por parte dos alemães, que teve como resposta uma série de ataques de menores proporções por parte dos aliados.

Após a revolução comunista no Império Russo em 1917, este teve sua monarquia deposta e iniciou-se uma guerra civil entre os que desejavam a imposição de um governo comunista e os que desejavam manter o regime monarquista. Os comunistas, vitoriosos, assinaram em 3 março de 1918 um tratado de paz (Tratado de Brest-Litovski ) com as Potência Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Reino da Romênia). Esta trégua interessava a todas as desgastadas nações envolvidas e permitiu aos alemães deslocarem rapidamente grande quantidade de suas tropas do front oriental para um último grande ataque no ocidente, antes que a crescente quantidade de tropas e material bélico chegando à Europa, oriundos dos Estados Unidos (que entrou na guerra ao lado dos aliados em 7 de dezembro de 1917), tornassem impossível uma vitória alemã.

Em 21 de março de 1918 os alemães iniciaram um ataque em grande escala, conhecido como Ofensiva da Primavera, contando com 50 divisões (aproximadamente 688 mil homens) enfrentando aproximadamente 851 mil aliados. Os alemães não conseguiram conquistar seus principais objetivos estratégicos e também se mostraram incapazes de reforçar as operações com mantimentos e tropas de forma rápida e eficiente, não conseguindo manter a vantagem das vitórias iniciais. No final de abril de 1918, uma decisiva vitória alemã não era mais possível. O Exército Alemão tinha sofrido pesadas baixas e ocupava agora terreno de pouco valor estratégico que se mostrou impossível de manter com os poucos recursos humanos então disponíveis.
Em 8 de agosto de 1918, os aliados iniciaram uma contra-ofensiva utilizando tanques em grande escala apoiados pela força aérea e novas técnicas de artilharia com canhões ingleses montados sobre chassis de tanques que permitiam maior mobilidade e rapidez para acompanhar e apoiar a infantaria. A Ofensiva dos Cem Dias resultou numa série de batalhas vencidas pelos aliados, com a retirada ou expulsão dos alemães de todos os terrenos ganhos na Ofensiva da Primavera, na queda do sistema alemão de defesa da Linha Hindenburg e na rendição do Império Alemão em 11 de novembro de 1918, colocando um fim à Primeira Guerra Mundial.

Óleo sobre tela "Inferno" ( Georges Leroux )
Tela: 114,3 x 161,3 centímetros - Acervo do Museu Imperial da Guerra, em Londres (Inglaterra)

O francês Georges Paul Leroux (1877-1957) lutou como soldado na Primeira Guerra Mundial, no norte da França e na Bélgica. O pintor afirmou que a inspiração para esta tela ocorreu quando, retornando de uma missão de reconhecimento durante a Batalha de Verdun (1916), viu um grupo de soldados franceses se protegendo de um ataque de artilharia dentro de uma cratera cheia de água. Mais tarde, durante a noite, desenhou os esboços e ao longo de 1917 e 1918 terminou a obra, na qual usou as cores que representam, em sua opinião, a realidade da guerra.

A introdução de centenas de tanques ingleses e franceses ao longo da frente de batalha foi uma inovação fundamental que os aliados desenvolveram durante quase 2 anos, a fim de vencer o impasse da guerra de trincheiras na frente ocidental, e para a qual os alemães não se prepararam devidamente, produzindo apenas 21 tanques durante a guerra, por não acreditarem em sua importância tática.

Os tanques de guerra foram criados pelos ingleses para oferecer proteção e poder de fogo móvel para avançar sobre as trincheiras inimigas e, apesar dos iniciais problemas mecânicos e táticos, causaram impacto sobre o moral das tropas alemãs e mostraram-se a arma decisiva para colocar um fim à guerra de trincheiras.
Os tiros de metralhadora e fuzil eram inúteis contra a blindagem dos tanques e não existiam armas anti-tanque durante os primeiros ataques dos blindados. Cercas de arame farpado e trincheiras não conseguiam deter os veículos e uma vez conquistado o terreno, os tanques não eram facilmente desalojados através de um contra-ataque de infantaria. Os primeiros tanques eram consideravelmente lentos, chegando a no máximo 6 Km/h, além de serem bastantes difíceis de manobrar. Dos 49 tanques de guerra da primeira geração que foram usados na Batalha do Somme, em 1916, poucos retornaram a seus postos de origem. Grande parte deles foi abandonada no caminho em função de panes no motor ou na esteira de rodagem ou acabou atolada em algum buraco ou lamaçal profundo. Nove destes tanques foram destruídos pelos alemães.
Depois de vencer o susto inicial, os alemães passaram a atacar os tanques com granadas de mão e, ignorando o fogo das metralhadoras dos veículos, alguns conseguiram subir nos tanques e tentaram matar sua tripulação, procurando escotilhas ou fendas e atirando com revólveres e pistolas nas frestas. Apesar da bravura, os ataques aos tanques conseguiram poucos resultados.

Nos primeiros combates, os tanques foram usados em pequenas quantidades e avançavam sozinhos, tornando-se vulneráveis quando aconteciam falhas mecânicas ou ficavam atolados, além de serem mais fáceis de serem atacados porque não contavam com proteção aérea ou das tropas em terra. Na medida em que os problemas mecânicos foram solucionados e táticas de proteção mútua foram desenvolvidas pelos aliados, os tanques mostraram-se decisivos para superar o poder defensivo das trincheiras.
A Batalha de Amiens, iniciada em 8 de agosto de 1918, foi a primeira batalha da história a usar grande quantidade de veículos blindados quando os aliados, atacando com 462 tanques pesados e 72 leves, venceram as defesas alemãs e alcançaram uma sucessão de vitórias das tropas britânicas, francesas e americanas, quase todas lideradas por tanques. Essas vitórias foram decisivas para terminar rapidamente com a guerra.

Tanque francês Renault FT ultrapassando uma trincheira

A combinação estratégica utilizada pelos aliados nos últimos 100 dias da Primeira Guerra Mundial, com unidades de infantaria acompanhadas por tanques e apoio aéreo aproximado foi aprendida e aperfeiçoada pelos alemães, sendo colocada em prática como “Guerra-Relâmpado” (Blitzkrieg) durante a Segunda Guerra Mundial.

Solidariedade em meio à brutalidade
Alemães retirando francês da lama na Terra de Ninguém

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Para mais informações sobre a Primeira Guerra Mundial, acesse:

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Infográfico

Infográfico - Como foi a luta de trincheiras na Primeira Guerra Mundial
 ( Clique na imagem para ampliá-la )

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A Primeira Guerra Mundial em Quadrinhos: Era a Guerra das Trincheiras

Reparando nos panfletos de guerra do século XX, tudo parece grande, triunfante e necessário. O cinema e os quadrinhos foram os principais expoentes dessa estética nas artes e em ambos a guerra é um gênero que se identifica pelo sacrifício e heroísmo. É também pela arte que podemos encontrar outras visões opostas. É o caso de Era a Guerra de Trincheiras, do francês Jacques Tardi.

Originalmente publicada na França em 1993, Tardi se concentra na Primeira Guerra Mundial, principalmente na vida entrincheirada, aquela que se tornou talvez a imagem mais forte desse conflito, onde as conquistas se davam a custa de milhares de vida em troca de alguns poucos metros de chão inútil, destruído por bombas e cheio de destroços, arame farpado, minas e cadáveres.

Tardi mostra em seus desenhos e estórias uma guerra que não é grandiosa. É pequena, crua e tediosa e um tanto despropositada, mostrando como os homens que bradavam pela guerra como uma confraria de destemidos, perdem a capacidade de atribuir sentido à ação. Começam querendo dar uma lição, ansiando vencer, depois apenas matam, para então se esforçarem somente para sobreviver e por fim desejam que tudo acabe logo, seja pela trégua ou vitória de qualquer lado, dispensa ou pela própria morte. Nada importa mais do que sair daquela situação desgastante e sem solução!
Por isso a trincheira é uma imagem poderosa. Ela é uma cova para homens vivos tentando escapar de uma morte eminente, uma vala de lixo que mistura numa existência degradante lama, ratos, cadáveres e pessoas tentando manter a sanidade e dignidade da condição humana, mostrando a capacidade que a humanidade tem para destruir o que constrói.

A revista foi lançada no Brasil em 2011 pela Editora Nemo, em edição de capa dura com textos do autor e referências de pesquisa sobre a guerra.
Para produzir essa obra, Tardi procurou a ajuda de um historiador para consultoria, para o qual telefonava constantemente para tirar dúvidas e ao qual agradece no início, baseou-se nas memórias do avô (que lutou na guerra) e influências de outras obras que tratam do tema, como o romance Nada de novo no front (Erich Remarque) e o filme Glória feita de sangue.

Texto adaptado de:
Quadrinhos na sarjeta
Era o homem de trincheiras

História em quadrinhos Era a Guerra de Trincheiras

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Jogo on-line da Primeira Guerra Mundial

Warfare 1917
Mostre sua estratégia nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Neste jogo, desenvolvido pela equipe da Armor Games, você deve ganhar terreno, conquistando trincheiras e conduzindo suas tropas até abater o moral dos adversários na medida em que vence sucessivas batalhas.
Há campos minados, ataques de artilharia e com gás letal para ajudar tanto nos ataques quanto nas defesas. Por este ser um jogo de estratégia, é possível e necessário pesquisar e aprimorar novas armas e táticas ao longo das batalhas, para tornar seu exército mais forte e eficiente.

Não é necessário instalar o jogo em seu computador! Basta acessar o link e aguardar o jogo carregar.

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Vídeos da Primeira Guerra Mundial

Para acessar uma lista de vídeos sobre a Primeira Guerra Mundial, com documentários, fotos e um resumo do conflito, acesse o link:

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Imagens da Primeira Guerra Mundial

Para ver e baixar mapas, fotos, ilustrações e cartazes que mostram os diversos aspectos da Primeira Guerra Mundial, acesse meu álbum no Picasa através do link abaixo:
https://picasaweb.google.com/104271339236641650312/PrimeiraGuerraMundial    

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Fontes de consulta:

Wikipédia
Guerra de trincheiras
( Em inglês ) Usar o tradutor.

War Horse and World War
Guerra de Trincheiras (1914-1918)
( Em inglês ) Usar o tradutor.

Brasil Escola
A vida nas trincheiras

1ª Guerra Mundial – História e curiosidades
Guerra de trincheiras: o inferno

Wikipédia
Frente Ocidental

Wikipédia
Batalha de Verdun (1916)

Wikipédia
Batalha do Somme (1916)

Wikipédia
Batalha de Cambrai (1917)

Wikipédia
Batalha de Amiens (1918)

Wikipédia
Ofensiva da Primavera (1918)

Wikipédia
Ofensiva dos Cem Dias (1918)

Wikipédia
Linha Hindenburg

Veja na História
A Batalha do Somme
Série de artigos sobre a guerra, escritos como revista de época.

Veja na História
Inimigos comuns
Série de artigos sobre a guerra, escritos como revista de época.

Wikipédia
Pé de Trincheira
( Em inglês ) Usar o tradutor.

Lexington Podiatry
Pé de trincheira: a Primeira Guerra Mundial e hoje
( Em inglês ) Usar o tradutor.

The Tunnellers Memorial
Companhias de Túneis na Grande Guerra
( Em inglês ) Usar o tradutor.

World War Photos
Fotos da Primeira Guerra Mundial (Trincheiras no campo de batalha)
( Em inglês ) Usar o tradutor.